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segunda-feira, 20 de maio de 2013 - 8h03

 

* Ciro Antonio Rosolem

 

A tecnologia agrícola brasileira é sucesso. Mérito da pesquisa agrícola e dos agricultores. Muita gente. Muita pesquisa. Em números, a produtividade de soja, pouco maior que 2.100 kg ha-1 no anos 90, chega a 3.060 kg ha-1 atualmente. Esse avanço aliado aos preços internacionais favoráveis gera uma expectativa de renda alta. Nas cidades, o comércio começa a calcular o faturamento, o aumento do negócio, um futuro melhor. Será?

O custo de produção na fazenda cresceu bem acima da inflação dos últimos anos. A boa notícia é que os ganhos de produtividade neutralizaram em boa parte esse aumento. A custos de hoje, com a produtividade de vinte e poucos anos atrás, um saco de soja sairia da fazenda, no Mato Grosso, a aproximadamente R$ 62,00. Nesta região o agricultor recebe de R$ 44,00 a R$ 47,00. Esse é valor da tecnologia. A viabilização da soja nesta região. Bom, mas o preço internacional é ainda bem maior. O que está acontecendo?

A soja de Sorriso da presente safra paga R$ 18,00 por saca para chegar a Paranaguá, ou Santos. Ou seja, a mesma soja que sai de Sorriso a R$ 46,00, vale, no porto, antes de embarcar, R$ 64,00. Uma bela diferença. Com transporte mais eficiente, barato, decente, o Brasil seria ainda mais competitivo, nossas cidades do interior seriam ainda melhores. Não é de hoje que o transporte é caro, mas, mesmo assim, a média de frete Sorriso/Paranaguá nos anos de 2010 a 2012 foi próxima de R$ 200,00 por tonelada, ou R$ 12,00 por saca. Em condição semelhante, o agricultor receberia, hoje, R$ 52,00. Se forem computados nestes números o custo dos portos mais caros do mundo, a diferença seria ainda maior.

Vamos fazer uma conta um pouco diferente, de trás pra frente. Se mantidos os custos de frete dos últimos anos, uma produtividade de aproximadamente 2.600 kg ha-1 seria suficiente para se obter faturamento semelhante ao que tem hoje, produzindo 3.060 ha-1. Produtividades da ordem de 2.600 kg ha-1 eram obtidas no MT lá pelos idos de 1995/96. Assim, quem realmente se beneficia do enorme esforço da pesquisa e do aumento da produtividade? Certamente não o agricultor, não as cidades do nosso interior, não a sociedade que, além de tudo, tem seu caminho para a praia atrapalhado. Minha gente, governos incompetentes, descompromissados, reféns de sindicatos, varreram do mapa, em apenas 1 ano, os ganhos equivalentes a mais de 15 anos de pesquisa tecnológica, no caso da soja. Até quando?

 

 * Ciro Antonio Rosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS)

e professor da FCA/Unesp Botucatu.

 

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quinta-feira, 28 de março de 2013 - 12h40

* Luiz Carlos Bhering Nasser

 

Países ricos – ou investidores baseados neles – deveriam poder comprar terras visando a agricultura em países pobres ou em desenvolvimento? Trata-se de uma importante questão ética levantada recentemente por um relatório feito pela Land Matrix Partnership, um consórcio de institutos de pesquisa com sede na Europa.

Desde o ano 2000, investidores ou entidades públicas estrangeiras já compraram mais de 83 milhões de hectares de terra em países mais pobre. A cifra corresponde a 1,7% da terra arável em todo planeta. A maioria dessas aquisições ocorreram no continente africano, geralmente em países atingidos pela fome e onde o estado possui dificuldade para definir a posse legal da terra.

Por um lado, argumenta-se que as terras compradas antes jaziam ociosas. Os investidores estariam, portanto, aumentando a área produtiva e assim aumentando a oferta de alimentos. No entanto, o relatório afirma que este não é exatamente o caso: 45% das aquisições envolveram lavouras já existentes, e um terço das terras compradas eram cobertas por floresta e mata, criando uma ameaça para a biodiversidade.

Os investimentos possuem origem variada: há recursos públicos e privados não apenas de países desenvolvidos, mas também de países emergentes como a China, Índia, Brasil, Malásia, Coréia do Sul e países do Golfo Pérsico. Boa parte dos investimentos é direcionada para a produção de culturas de exportação, já que os países ricos podem pagar um preço mais alto por commodities. Com isso, estariam garantindo a segurança alimentar dos países de origem dos investimentos, e não necessariamente dos países produtores. Em países pobres, pode parecer um bom negócio vender a terra para um retorno imediato em vez de produzir alimentos para o mercado interno, perpetuando assim o ciclo da fome. Investidores, todavia, afirmam que a expansão do mercado de commodities é única forma de aumentar a produção de alimentos. Daí surge o dilema ético particularmente pertinente para o Brasil: país exportador e investidor, e ao mesmo tempo, objeto de investimentos estrangeiros na produção agrícola, inclusive pela aquisição de terra.

A organização Oxfam Internacional denunciou a chamada “corrida pela terra” e fez com que o Banco Mundial paralizasse investimentos em terra até que fossem assegurados critérios mínimos de transparência e governança. Segundo a organização, as populações locais podem estar sendo privadas do direito de decidir sobre a melhor forma de garantir sua segurança alimentar tornando urgente a adoção de regulação e controle.

De que lado o Brasil se posicionará?

* Luiz Carlos Bhering Nasser, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS); Pós-Doutor em Biologia Ambiental e Professor do UniCEUB.

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quinta-feira, 28 de março de 2013 - 11h39

 

Em que pese o número tímido da evolução do PIB (+0,9%) e o duplo recuo da indústria (-0,8%) e da agropecuária (-2,4%) em 2012, há outro número que chama a atenção no balanço das contas brasileiras, divulgado pelo governo no primeiro dia de março: é o crescimento de 3,1% no consumo das famílias.

É um índice três vezes melhor que o do PIB e confirma uma série histórica positiva de 9 anos, período em que o consumo familiar cresceu sem parar. E há um detalhe bem interessante no comportamento desse índice, durante o final do ano passado: no último trimestre de 2012 ele registrou avanço de 1,2%, desempenho que projeta um aumento de 4,7% para 2013, se o índice for anualizado.

Parte importante desse crescimento dos gastos familiares está associada à ascensão de renda das classes C/D/E, dentro da estratégia brasileira de inclusão social e fortalecimento do mercado interno, que inclusive gerou boa parte do fôlego com o qual o Brasil vem driblando a crise mundial, desde 2008.

Com essa evolução na renda disponível, as classes da base social abrem caminho para a sociedade de consumo e uma de suas portas de entrada é o consumo maior de proteínas, como aliás ficou bem caracterizado na época do Plano Real, que até ganhou como símbolo um frango, cujo consumo então disparou.

A economia brasileira, ao que tudo indica, continuará morna em 2013 e os países desenvolvidos ainda estarão de barbas de molho, a bordo de suas próprias crises econômicas. Mas o agronegócio está em uma faixa de consumo que vem apresentando mais vigor, conforme indica a tendência dos gastos familiares, comentada acima.

Não vamos esquecer isso. Está certo que, em tempos difíceis, a tradição recomenda cautela nos negócios e aprimoramento das ferramentas de gestão. Mas ao mesmo tempo não vamos perder terreno e fôlego na tecnologia, pois nascem dela os principais fatores que fazem o crescimento e a sustentabilidade no agronegócio.

Economia em ritmo moderado e consumo familiar evoluindo de modo mais dinâmico. O medo de um fraco desempenho da economia convivendo lado a lado com a oportunidade representada pelo potencial de expansão do consumo alimentar no mercado interno, principalmente do ponto de vista qualitativo.

Este é um momento para se reforçar ainda mais o conceito das marcas e das categorias de produtos do agronegócio, na mente dos consumidores. Também para quebrar paradigmas e observar que o vetor de crescimento do consumo familiar vai do Sul para o Norte/Nordeste, áreas em que a redistribuição de renda deu-se com mais força, reduzindo inclusive a migração.

Dúvidas sobre a recuperação econômica e promessas de alivio no oásis do consumo alimentar. Esta pode ser a pintura do ambiente mercadológico do agronegócio, em 2013. Um cenário que pede foco absoluto na gestão, atitude emocional de líder e criatividade em marketing – principalmente esta última, pois os recursos tendem a ser escassos.

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quinta-feira, 28 de março de 2013 - 11h29

*Ciro Antonio Rosolem,

O desenvolvimento industrial, tecnológico e urbano tem norteado a vida das pessoas e as decisões dos governos nos últimos séculos. De fato, a conquista da Lua, novas máquinas, aparelhos, controles-remotos, robôs, a terceira dimensão na TV são fascinantes. Em todo o mundo, por muito tempo, a produção de alimentos e fibras foi ofuscada pelos encantos urbano-tecno-industriais. Era como se a comida e a vestimenta aparecessem como que por mágica, uma dádiva da natureza. “Em se plantando tudo dá”, ou seja, não haveria necessidade de investimento, técnica ou trabalho duro. O resultado é que a procura pelas profissões ligadas ao Agro tem sido declinante em todo o mundo. Foi necessária uma crise do petróleo para que o Brasil descobrisse que o campo poderia fornecer combustível e melhorar a matriz energética do país. Foram necessárias uma crise do petróleo e uma suposta crise ambiental para que mundo descobrisse isso. Até que foi aventada a possibilidade da energia competir com a comida. Até descobrirem que é necessário muito mais que a natureza para garantir alimentos, matérias primas e energia para o mundo. Até inventarem a dicotomia agricultura x ambiente. Agora, a discussão deve envolver os atores urbanos e rurais.

Enfim, estaria a sociedade urbana voltando a olhar com interesse sua fonte de vida? O sambista da Vila Isabel, escola de samba já cantada como campeã, percebeu que “O galo cantou; Com os passarinhos no esplendor da manhã; Agradeço a Deus por ver o dia raiar; O sino da igrejinha vem anunciar; Preparo o café, Pego a viola, parceira de fé; Caminho da roça e semear o grão; Saciar a fome com a plantação; É a lida…Arar e cultivar o solo; Ver brotar o velho sonho; Alimentar o mundo, bem viver; A emoção vai florescer”.

A Vila Isabel está de parabéns. Seria o retorno ao reconhecimento público desse setor fundamental para o ser humano e essencial para a economia brasileira? Entretanto, mais que o reconhecimento público na avenida, o setor precisa de atenção dos governantes, dos legisladores que, a cada ano, atendendo a interesses mal explicados, vem colocando amarras legislativas e regulamentatórias que atrapalham o desenvolvimento no campo. Por mais que nossos institutos de pesquisa, universidades e empresas invistam no desenvolvimento de tecnologia, é necessária uma legislação atual, em passo com o que ocorre no restante do globo, para que possamos competir.

Afinal, é “Preciso investir, conhecer; Progredir, partilhar, proteger…”, como diz o sambista, para que possamos, sempre “Ao som do fole, eu e você; A vila vem colher; Felicidade no amanhecer”. Obrigado Vila Isabel.

*Ciro Antonio Rosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu)

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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013 - 6h21

 

Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing.

 

Em qualquer papo de boteco sobre futebol, ou mesmo entre a crônica esportiva, existe hoje uma verdade: para ganhar campeonato, no disputado futebol atual, é preciso ter elenco. Tem que haver um bom plantel de jogadores, pois é assim que se mantém o padrão de jogo e a competitividade do time.

Com o portfólio de tecnologias e insumos que o produtor rural tem para realizar a sua produção, ocorre algo bastante parecido. Se faltar milho ou soja para a ração, por exemplo, a alimentação animal pode ficar mais pobre e a produção menor, pois eventuais grãos substitutos tem outro perfil nutricional.

Substituir e adaptar faz parte do jogo. Se for para melhor e sob uma relação custo benefício competitiva, tudo bem. Mas substituir sem horizontes claros de melhoria, ou com riscos potenciais de eficácia, requer uma boa avaliação sobre o custo estratégico da mudança.

Na proteção vegetal temos outro caso que lembra essa questão de elenco. Nesse setor, a proibição e liberação de produtos sempre atendem a uma boa causa – como melhorar a eficiência de proteção ou reduzir o risco dos tratamentos para o aplicador, o consumidor e o ambiente. Mas nem sempre o sinal vermelho e o sinal verde estão sincronizados.

Se um produto ou tecnologia não tem similar de eficiência equivalente, à primeira vista não deve ser substituído, considerando-se a necessária estabilidade competitiva das cadeias produtivas, principalmente em um agronegócio maduro e internacionalizado como o nosso.

Contudo, se os seus efeitos tóxicos tornaram-se insustentáveis, então sua defesa perde valor e a ponderação tem que priorizar um balanço de perdas e ganhos sob o ponto de vista do bem estar humano, da sociedade e da sustentabilidade.

Mas há outra questão: e por que não há substituto? Se for pelo aumento inesperado do desafio sanitário, isso poderia ser natural, pois muitas vezes a ciência demora a vencer seus desafiantes. No entanto, se for por descompasso entre processos de substituição (proibição e novo registro), isso torna-se uma questão de competitividade.

Segundo dados do Giagro 2012*, o tempo médio (em meses) para registro de um defensivo novo, aqui no Brasil, mostra-se 30% a 100% maior em relação ao período gasto em países concorrentes, como Estados Unidos e Europa. No mínimo um ano a mais. Pode ser um detalhe; mas certamente tem lá seu custo sobre a competitividade do nosso agronegócio.

Por último, se a falta de produto substituto for porque os investimentos em pesquisa recuaram e a indústria acomodou-se às suas velhas “vacas leiteiras”, isso refletiria uma falta (consciente) de dinamismo tecnológico, que também se choca com a estabilidade competitiva das cadeias.

Seja qual for dessas causas, teríamos uma certeza: de que é preciso buscar um novo compromisso entre governo, indústria e produção, pois a liderança no evolutivo agronegócio do século XXI exige precisão e agilidade — e não mais permite métodos e visões de gestão do século passado.

 

(*) Giagro – Banco de dados de informações sobre agrotóxicos.

 

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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013 - 11h26

 

* José Otavio Menten

A sociedade está valorizando cada vez mais o agro: compreendendo que praticamente tudo que se come vem do agro. Que a energia renovável e verde é produzida pelo agro. Que as fibras mais utilizadas e confortáveis são produzidas pelos agricultores! A população está entendendo que a vocação do Brasil é o agro. É neste setor da economia que temos vantagens em relação a todos os demais países do mundo. Temos solo, clima, gente e tecnologia para sermos os campeões! Isto foi mostrado no Carnaval do Rio de Janeiro neste ano. As escolas classificadas em primeiro e segundo lugar falaram do agro. A Vila Isabel, campeã, mostrou o todo. A Beija-Flor, segunda classificada, cantou o manga larga marchador. Uma maneira interessante de mostrar ao povo brasileiro e aos turistas estrangeiros que temos orgulho dos produtores rurais, dos profissionais da área, de todos os trabalhadores que se empenham em fazer com que o Brasil seja, de fato, o “celeiro do mundo”, “a grande fazenda”! Já somos os primeiros em citros, café, frango, boi e logo seremos em soja. Somos importantes em feijão, algodão, milho, mandioca, frutas e hortaliças.

O que foi mostrado na Marquês de Sapucaí em 2013 vai ficar na memória de muita gente. A população brasileira é cada vez mais urbana; suas raízes agrícolas precisam ser fortalecidas. Através de uma festa popular como o Carnaval: onde duas escolas de samba de grande tradição assumem o agro como seus temas, é motivo de comemoração. A consolidação do agro depende muito da participação dos jovens, de mais brasileiros se interessando pela área. Isto depende muito da imagem e da reputação do setor. A imagem do agro está em construção. Sua reputação está sendo formada. É importante que o assunto seja bastante discutido por todos. Chega da imagem de que o agricultor é o Jeca Tatu. Que o empresário agrícola é o Coronel, explorador. Que o agricultor é o chorão, em busca de benesses do governo. O produtor rural brasileiro moderno é o empreendedor que usa tecnologia, que dá condições de trabalho aos seus empregados.

Trata-se de momento importante para o agro e para o Brasil. E também para o mundo que espera que nós cumpramos com as expectativas: de sermos os principais produtores de alimentos, atendendo a demanda prevista pelos órgãos internacionais.

José Otavio Menten, Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Eng. Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, Professor Associado da USP/ESALQ.

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013 - 6h45

* Coriolano Xavier

 Os norte-americanos são bastante afeitos a conceituar e rotular as transformações que ocorrem na sociedade. Como agora, quando começam a se referir mais e mais ao chamado “food movement” (movimento da comida), que vem aumentando e traduz o crescente interesse das pessoas em saber de onde a comida vem e como foi produzida.

Pelo mundo afora, o setor alimentar começa a ficar sob vários focos de pressão: propostas de novas regulamentações para refrigerantes; movimentos pelo direito dos animais; campanhas de saúde pública contra o uso de antibióticos na ração animal; ambientalistas relacionando agricultura e mudanças climáticas; petições online para banir certos ingredientes de alimentos industrializados etc.

Pensando-se sistemicamente, o que está em jogo não é essa ou aquela questão em particular, mas a confiança da opinião pública nas cadeias produtivas de alimentos. Esse, talvez, tenha que ser o foco de nossas reflexões. Parece que o sistema alimentar – ou pelo menos suas grandes indústrias e cadeias produtivas – está sofrendo crescente assédio de seus consumidores, cada vez mais céticos e ariscos.

E não vamos nos iludir se isso ainda não chegou plenamente ao Brasil. No mundo sem fronteiras e totalmente conectado, uma proposta de mudança local – como rótulo especial para alimentos com OGMs (Califórnia), ou novo manejo de matrizes suínas (fornecedores McDonalds, EUA) – traz sim um potencial de gerar transformações ou políticas mais amplas, nacionais e internacionais.

Há muito empresário do agronegócio brasileiro e mundial de olho nessas evoluções e já fazendo a sua lição de casa. A PepsiCo, por exemplo, tem um programa de sustentabilidade e rastreabilidade na cultura da batata, com o qual monitora todos os seus fornecedores e oferece suporte técnico para práticas agrícolas sustentáveis, produtividade e gestão da produção.

De acordo com a empresa, o programa tem impacto direto na reputação das suas marcas Lays e Ruffles. Já foi implantado no Peru, Equador e Colômbia, e agora vai para o Caribe. Bem aqui no Brasil, há uma empresa paulista de suinocultura, verticalizada da granja ao frigorífico (Bressiani), que já se organizou para ter rastreabilidade de todos os ingredientes usados na alimentação dos animais que cria e abate. Isso é marketing em sintonia com o futuro.

Pode ser que alguém ainda pense em rotular o “movimento da comida” como uma “irracionalidade” restrita a certos mercados e grupos de consumidores. Estrategicamente, contudo, é preferível perguntar-se: quem poderá ser o próximo?

Antes de responder, no entanto, já comece a pensar em um dos princípios estratégicos do marketing contemporâneo: na nossa aldeia global, é preferível contar antes a sua própria história, do que esperar que ela seja contada por outros. São coisas do século XXI…

Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing

 

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terça-feira, 08 de janeiro de 2013 - 10h03

Por Ciro Antonio Rosolem

As relações de trabalho no campo são regulamentadas pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), da mesma forma que na cidade. Mas, além da CLT, existe a NR 31 (Norma reguladora 31), de março de 2005, tem por objetivo estabelecer os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho em áreas rurais. Ali são definidos uma série de procedimentos, cuidados e normas. Por exemplo, a distância entre colchões de beliche deve ser de, no mínimo, 110 cm, ou ainda, devem ser considerados 0,60 m de mictório para cada trabalhador. A falta de observação deste conjunnto de normas caracteriza o tal “trabalho escravo”, que tanto temos visto na mídia. A punição normalmente é severa, indo desde a imposição de pesadas multas até detenções temporárias e boqueio de crédito. Essa legislação é tida como um transtorno no meio rural.

Após 7 anos de vigência desta norma, quais as consequências nas fazendas? É fato conhecido há muito tempo que, na maioria dos casos, a melhor técnica recomenda que o fertilizante seja colocado no solo, abaixo e ao lado das sementes. Mas, ao contrário disso, qualquer pessoa que viaje pelas áreas agrícolas mais importantes do País notará que, na maioria dos casos, se coloca todo o fertilizante na superfície do solo. Isso leva, muitas vezes, a aumento de risco da atividade, menor eficiência do insumo e enfim, perda de produtividade. O caso mais clássico é o do fósforo, elemento caro e finito, em boa parte importado. Outro problema muito comum é uso de máquinas distribuidoras de corretivos e fertilizantes em velocidade e espaçamentos maiores que os ideais, o que tambem resulta em menor eficiência do insumo, terreno manchado, lavoura irregular, aumento de risco e perda de produtividade e de qualidade. Essas falhas por certo diminuem a sustentabilidade do sistema.

Bem, e porque, sabendo disso, os agricultores não adotam o que seria o certo? Porque a indústria de máquinas acaba, em função da demanda, por oferecer máquinas que não seriam as mais adequadas para a agricultura brasileira? Um exemplo dessas máquinas são as semeadoras sem espaço para fertilizante. A resposta de 100% dos agricultores quando colocados frente a este questionamento é dizer que o aspecto operacional acaba prevalecendo. Ou seja, as máquinas precisam ter um altíssimo rendimento de campo, mesmo que em detrimento da melhor tecnologia. Por quê? Porque de outro modo seria necessário mais máquinas e, consequentemente, mais operadores. As máquinas existem, assim como existe financiamento favorecido para sua aquisição. Mas, e os operadores? Outra resposta unânime: quanto menos gente, melhor! Melhor porque as leis são inadequadas, porque há pouca gente treinada, porque os riscos de gerar empregos, treinar pessoas acaba sendo maior que o risco de usar tecnologia inapropriada. Gente, alguma coisa está errada. O agricultor assume o risco de fazer uma agricultura pior para escapar do risco de trabalhar com funcionário mal preparado, amparado por uma legislação exagerada.

Uma legislação que resulta em desemprego, desestimula treinamento, aumenta o risco da atividade e compromete a sustentabilidade do sistema precisa ser modificada. Mas, enfim, de quem é a responsabilidade? Não é mesmo interessante? Onde o governo exige dos outros, sobra governo. Onde o governo deveria esta presente com educação e treinamento, falta governo. Soa familiar?

Sobre o CCAS

Conselho Científico para Agricultura Sustentável- CCAS é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011,com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados a sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.

O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.

Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.

A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa sejam colocados a disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça.

 

Ciro Antonio Rosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu

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segunda-feira, 01 de outubro de 2012 - 6h54

 

*Coriolano Xavier

 A sacolinha plástica dos supermercados voltou. Não dá pra dizer que isso é ruim em si, pois o artefato tem um papel de conveniência que f

 Mas talvez seja válido perguntar: das razões de cenário ambiental que levaram ao debate e proposta de suspensão da sacolinha no varejo de auto-serviço, meses atrás, o que mudou agora para se passar uma borracha em tudo?oi consagrado por anos de uso no varejo e, assim, adquiriu um lugar próprio em nossa cultura de consumo.

Está certo que a questão nunca foi uma unanimidade. Mas isso, em geral, é o que ocorre quando surgem proposições que revisam conceitos e mudam paradigmas. O fato é que continuaremos a jogar no lixo de 2,5 a 3 bilhões de sacolinhas/mês, só no Estado de S. Paulo (segundo estimativas publicadas na imprensa, no auge das discussões).

Pessoalmente continuarei a me abster da sacolinha plástica nas compras, em favor de uma “sacolona” de lona, herança de minha mãe, procedimento que acabei adotando durante os debates que precederam a épica proibição da sacolinha, no início deste ano. Por quê?

Porque ela vem de energia fóssil e tem pegada de carbono, porque o aquecimento da Terra é real (ou pelo menos opinião dominante entre os cientistas), porque as toneladas e toneladas de sacolinhas demoram a degradar e porque não há estrutura suficiente para coleta seletiva e reciclagem de lixo na cidade onde moro.

Na maioria das cidades de porte pelo Brasil afora, aliás, essa situação se repete. Às vezes, até já existem processos organizados de coleta seletiva; mas é comum encontrar um descompasso entre os necessários investimentos e incentivos para a industrialização do lixo, quebrando assim a corrente da eficiência na reciclagem.

Um dos caminhos para mudar essa realidade está no voto, buscando o comprometimento dos candidatos com políticas que construam uma urbanidade mais sustentável. Agora mesmo teremos uma grande rodada de eleições municipais que é oportunidade para se debater e alertar as pessoas sobre a importância de plataformas políticas que também tragam ganhos sustentáveis para o dia a dia das cidades.

Em sustentabilidade o homem é o que mais conta. Seja como beneficiário, seja como agente. Muito antes dos pressupostos e políticas públicas para a chamada economia verde (ainda engatinhando), temos que tomar partido e mudar atitudes pessoais em prol de uma economia e de uma vida mais sustentável.

Isso implica em revisar hábitos, conhecer mais e até votar na sustentabilidade. Não importa se for milimétrico o avanço. Se os problemas existem, alguma coisa tem que ser feita. Isso é o que nos faz ser uma humanidade.

*Coriolano Xavier, membro do CCAS – Conselho Científico para a Agricultura Sustentável; Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing.

 

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quinta-feira, 30 de agosto de 2012 - 1h56

Segundo a OMS – Organização Mundial da Saúde, anualmente mais de 200 milhões de crianças menores de 5 anos não atingem seu pleno potencial cognitivo e social, enfrentando níveis de desnutrição (grave ou crônica) suficiente para retardar o crescimento e interferir no estímulo ao aprendizado.

Para uma sociedade, quando os efeitos da desnutrição infantil se manifestam (bem mais tarde), isso tende a representar baixa produtividade do capital humano, com menor capacidade de realizar trabalho físico e menor agilidade mental. Ou seja: alimentação adequada na infância significa uma economia mais dinâmica e com maior potencial gerador de riqueza, provavelmente com melhores profissionais e melhores salários.

No fundo, todo mundo sabe disso, pois os dados científicos e a mídia corroboram a cada dia o significado cruel da insuficiência alimentar infantil, para os sonhos de bem estar das nações pobres e emergentes – e também para as metas de sustentabilidade e harmonização da economia global.

Em segurança alimentar, o Brasil vem fazendo a lição de casa. Reduziu o índice de menores de 5 anos com baixo peso para 1,8% (Estudo Saúde Brasil 2009, do Ministério da Saúde) e já atingiu um dos objetivos do milênio, definidos pela ONU — Organização das Nações Unidas: erradicar a extrema pobreza e a fome.

Mas parece que falta ainda um engajamento emocional firme com a bandeira da segurança nutricional, tanto no Brasil como em outros quadrantes do mundo, seja por parte dos indivíduos, ou de governo, empresa, mídia e organizações da sociedade civil.

A base de uma boa nutrição começa por infraestrutura adequada e eficiência na produção e distribuição de alimentos. Depois requer elasticidade de renda (o que envolve políticas de inclusão social) e também educação e qualidade de informação – para reduzir o impacto da alimentação errada e do desperdício.

O primeiro desafio nós cumprimos com louvor e sustentabilidade. Por exemplo: nos últimos 20 anos aumentamos de 45% a 70%produtividade do algodão, arroz, milho, soja e trigo – a ainda reduzimos em 66% o consumo de óleo diesel durante a safra. O Brasil também avançou na distribuição de renda, universalizou a oferta de alimentos, mas ainda ficou a dever na logística – o que onera a cadeia e o consumidor.

A segurança nutricional pode melhor expressar a contribuição do capital humano para o crescimento econômico sustentável. A chave está no equilíbrio entre infraestrutura, produção do campo, poder de compra e educação. Principalmente esta última, pois ela vai potencializar o homem, este sim o fator com maior poder real de alavancagem da sustentabilidade.

Coriolano Xavier – Membro do CCAS – Conselho Científico para Agricultura Sustentável, Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing