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sexta-feira, 12 de julho de 2013 - 6h39

Instituição antevê descompasso mundial entre consumo e produção de alimentos

Ronaldo Luiz

Até 2050, ano em que o número de habitantes na Terra deverá chegar a nove bilhões de pessoas – hoje somos em torno de sete – haverá um descompasso entre crescimento populacional e capacidade de produção de alimentos.

A população vai crescer em áreas com níveis baixos de produtividade agrícola, o que abre uma janela de oportunidades [e também uma série de desafios] para que o agro brasileiro se consolide realmente como celeiro do mundo.

Este foi o principal recado da palestra do presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Antônio Lopes, realizada nesta semana [quarta-feira, 26), em São Paulo, após a instituição ser homenageada pela Sociedade Rural Brasileira pelo seu 40º aniversário.

Segundo Lopes, a maior parte do crescimento populacional é esperado na África Subsaariana e na Ásia, regiões marcadas por baixa renda e produção agropecuária limitada. Com base no seu sistema de monitoramento de tendências chamado “Agropensa”, a Embrapa estima que nos próximos 35 anos, a África Subsaariana responderá por 49% do aumento populacional do planeta, seguida pela Ásia com 41%, América do Sul (7%) e Estados Unidos (4%). Já a Europa terá queda populacional de 1%.

Por outro lado, a instituição já constatou que o crescimento da produtividade dos principais cereais [milho, arroz e trigo] está em declínio. “Já se observa uma ‘fadiga’ dos métodos convencionais de elevação de produtividade”, assinalou Lopes. “Diante deste quadro, falar mal da biotecnologia [como alavanca para produção de alimentos] é uma afronta ao futuro.”

Na avaliação do presidente da Embrapa, como a distribuição da população mundial por região não vai acompanhar a distribuição de terras aráveis e a capacidade de produzir alimentos, o comércio agrícola vai aumentar, o que fará crescer também os riscos de contaminação biológica. Diante deste cenário, ganharão corpo questões como segurança sanitária, rastreabilidade e certificações.

Ameaças e tendências

De acordo com Lopes, estresses térmicos e hídricos [mudanças climáticas] tenderão a se intensificar nos trópicos, acarretando em migração de culturas agrícolas. Segundo ele, a agricultura ainda depende muito de energia fóssil, e precisa mudar isso.

Na visão do presidente da Embrapa, a automação de processos é uma necessidade do campo, com foco em ganhos de eficiência e produtividade. “E ao contrário do senso comum, que fala de desemprego, a automação vai, na verdade, reduzir a penosidade do trabalho na agricultura, e assim funcionar como um imã para atrair mais jovens.”

Lopes enfatiza que a agricultura será, cada vez mais, pressionada na direção da multifuncionalidade, ampliando seu escopo de produção para além de alimentos, energia e fibras. “Será preciso dirigir esforços também para produtos agrícolas voltados à saúde, química verde, biomateriais, serviços ambientais e assim por diante. Passaremos a falar cada vez mais de segurança nutricional do que alimentar.”

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segunda-feira, 06 de maio de 2013 - 1h43

por Cesario Ramalho da Silva, presidente da Sociedade Rural Brasileira

Nos últimos 40 anos, o agro brasileiro obteve extraordinários ganhos de produtividade. Graças às pesquisas científicas que resultaram no domínio da tecnologia de produção agropecuária nos trópicos, o Brasil deixou de ser importador para ser protagonista na produção e exportação de alimentos, fibras, agroenergia e produtos diferenciados, como flores, madeira, celulose e tantos outros.

Alcançamos a segurança alimentar, com qualidade, preços competitivos e de modo sustentável, e ainda geramos constantes excedentes exportáveis. De 1975 a 2011, o valor da cesta básica caiu mais de 50%. No ciclo de um ano, o Brasil consegue produzir comida para 1 bilhão de pessoas.

Para ter ideia de como o produtor passou a fazer mais com menos, a área plantada dobrou, mas a produção de grãos cresceu cinco vezes nas últimas quatro décadas, rompendo a casa das 180 milhões de toneladas. Se tivéssemos mantido a mesma produtividade, precisaríamos hoje de mais 100 milhões de hectares para produzir o que produzimos em apenas 50 milhões.

Na proteína animal, o País ampliou em quatro vezes a produção de carne bovina, triplicou a de carne suína e se tornou o terceiro maior produtor de carne de frango. Consolidou-se como o maior exportador de café, açúcar, suco de laranja, etanol e soja, e o terceiro em algodão, levando-nos a ficar atrás apenas dos EUA e da União Europeia no ranking mundial dos maiores exportadores de produtos agropecuários.

Toda essa grandeza coincide com a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que completa 40 anos. Criada em 26 de abril de 1973, a instituição tornou-se o maior agente de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para geração de tecnologia de ponta para o agro. São feitos da Embrapa o melhoramento genético, gerando cultivares específicos para cada região; a transformação das terras pobres do Cerrado em solos férteis; rotação de culturas, técnicas para recuperação e manejo de pastagens e controle de pragas e doenças; novos processos de adubação, como a fixação biológica de nitrogênio; pesquisas em sanidade animal, reprodução, nutrição, entre outras inovações.

No entanto, o jogo agrícola internacional é dinâmico, e o Brasil tem de investir muito mais em pesquisa para que concorrentes não revertam a situação. Uma eventual defasagem tecnológica fará com que países que antes não traziam riscos passem a trazer.

O aparelhamento político em curso no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que vem esvaziando a bagagem técnica da pasta – sem lhe dar calibre político -, não pode se estender à Embrapa. O desmantelamento do Mapa preocupa e precisa ser estancado antes que se propague e atinja nosso maior expoente em inteligência para pesquisa agropecuária, trazendo prejuízos ao agro e, consequentemente, ao País. Como sabiamente disse um dos seus mais respeitáveis pesquisadores, Evaristo Eduardo de Miranda, a Embrapa não trabalha para o produtor, trabalha para o consumidor, que se beneficia de tudo o que é proporcionado pelo agro.

Aumento populacional e maior longevidade, incremento de renda e consumo crescente são os vetores do avanço contínuo da demanda mundial por produtos agropecuários, num quadro em que a oferta não acompanha. Num cenário cada vez mais restritivo de produção, pautado por desafios financeiros, sociais, ambientais e institucionais, o agro terá de acentuar sua produção verticalmente (mais produtividade), tendo como chave de evolução a tecnologia e as suas mais diversas ferramentas, com destaque para a biotecnologia, a nanotecnologia e a genômica.

O futuro está atrelado ao uso da ciência em favor do conhecimento e novas tecnologias. Para, no mínimo, não perder o posto privilegiado que conquistou, o agro do Brasil precisa de uma retaguarda estratégica ancorada em mais investimentos em ciências agrárias, o que passa neste momento pela blindagem e proteção do nosso maior patrimônio nessa área, a Embrapa.

* Artigo originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo

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