Assessoria

Agronegócio

quarta-feira, 25 de setembro de 2013 - 8h00

*Luiz Felipe Nastari

            Custos altos, pouca eficiência e evolução tecnológica tornaram embarques de açúcar por contêineres uma tendência importante, que traz vantagens significativas. A participação deste tipo de exportação no Brasil cresceu em mais de dez vezes desde 2002, quando foram enviadas ao exterior apenas 190.780,7 toneladas métricas, comparativamente a 2010, cujo volume exportado foi de 2.736.952,7 toneladas métricas.

O tamanho cada vez maior de navios de carga geral (break bulk) e os altos custos trabalhistas têm sinalizado a exportadores as vantagens do uso de contêineres para entregas de açúcar. Como a carga é alocada no navio sem preparo especial, as operações de embarque e desembarque requerem mais recursos do porto – armazéns, veículos de transporte, estivadores e máquinas – e não raro ocupam mais espaço nas docas devido aos múltiplos carregamentos dos veículos que circulam a carga.

De fato, o declínio dos navios de carga geral não começou com o uso de contêineres, mas com o advento de navios tanque e navios graneleiros.  Estes navios especializados precisam de menos recursos para fazer entregas, além de serem mais eficientes no processo, ocupando o porto por menos tempo. Em ambos os casos a carga pode ser retirada por esteiras, de forma muito mais simples do que mover sacas manualmente. Estes novos sistemas de transporte de carga reduziram custos, tempo e portanto perdas por spoilage (vencimento), e no caso específico de contêineres, evitam danos à carga e furtos.

Há, no entanto, que considerar que o uso de navios tanque ou graneleiros requer alto investimento inicial em infraestrutura portuária, tornando lenta a expansão destes tipos de embarque em locais onde há poucos fundos para investimento na operação dos portos e/ou treinamento de pessoas em tecnologia. É exatamente neste nicho que os navios break bulk continuarão a prosperar.

No Brasil, a exportação de açúcar por contêineres bateu recorde no primeiro semestre de 2013, totalizando 1,076 milhão de toneladas entre janeiro e junho de 2013, o que é um recorde para o período, contra 944.355 toneladas no mesmo semestre de 2012, aumento de 9,2%.

Estima-se que a exportação via contêineres tenham sido responsável por 55,2% dos embarques totais de açúcar ensacado no primeiro semestre deste ano. O porto de Santos é a maior via de escoamento, com 985.707 toneladas, entre janeiro e junho, ou 91,6 por cento do total exportado até o momento pelo Brasil. O porto de Suape vem em seguida, com participação de 4,9 por cento. Somente em junho foram exportadas 176.958 toneladas de açúcar através de contêineres, contra 153.584 toneladas no mês anterior e 157.018 toneladas em junho de 2012.

O pico das exportações no primeiro semestre ocorreu no mês de março com 235.688 toneladas. O principal destino no primeiro semestre foi o Iêmen com 228.844 toneladas, ou 21,3% do total, seguido por Angola com 127.386 toneladas (11,8%) e África do Sul com 111.743 toneladas (10,4%).

Luiz Felipe Nastari é economista e diretor da DATAGRO.

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Agronegócio

quinta-feira, 19 de setembro de 2013 - 3h26

26 de Setembro de 2013 – Canaviais no estado de São Paulo permanecem heterogêneos, com as regiões de Presidente Prudente e Araçatuba em condições regulares e as demais (Ribeirão Preto, Bauru, Piracicaba e São José do Rio Preto) em estado considerado bom pela equipe DATAGRO Crop Survey. Em geral, foi observado nas microrregiões do estado bom rendimento agrícola e menor rendimento industrial em relação à safra anterior.

O crescimento vegetativo diminuiu devido à queda nas precipitações, no entanto os níveis de ATR têm aumentado consistentemente. Ainda assim, os níveis de ATR permanecem abaixo do esperado. Em Agosto de 2012, cinco das seis regiões analisadas apresentaram níveis de ATR acima de 140 kg/tc, enquanto apenas duas regiões encontravam-se nesta categoria no mesmo mês deste ano. Este cenário se dá em decorrência das chuvas intensas em Junho e Julho, e consequente armazenamento de água no solo, além de indução floral em canaviais.

O período entre a segunda quinzena de Agosto e os primeiros quinze dias de Setembro foi muito seco e sem chuvas significativas, permitindo que usinas recuperassem parte do atraso nas operações de colheita e plantio. Como previsto, foram encerradas as operações de plantio de inverno, e agora usinas aguardam aumento das chuvas para iniciar plantio de cana de 12 meses.

As microrregiões de Bauru e Piracicaba sofrem com infestação de Sphenophorus levis. A praga atingiu níveis preocupantes no mês de Agosto. O besouro aparece logo após a colheita, quando há pedaços de cana fermentando no campo, e produz galerias nos rizomas da soqueira em brotação. A equipe DATAGRO Crop Survey observou também que há presença de broca em 3% a 4,5% dos canaviais do estado de São Paulo.

Até a segunda quinzena de Agosto o mix de produção priorizava etanol, direcionando 55,58% da oferta total de sacarose da safra à produção do biocombustível. A DATAGRO estima que a safra 2013/14 encerrará com mix de 54,7% em vista da recente valorização do dólar frente ao Real, o que aumenta a atratividade da exportação de açúcar e etanol.

 

September 26th, 2013 – Cane fields in the state of Sao Paulo remain heterogeneous, with Presidente Prudente and Araçatuba micro regions displaying regular conditions and the other 4 regions (Ribeirao Preto, Bauru, Piracicaba e Sao José do Rio Preto) in good state, as observed by the DATAGRO Crop Survey team. In general, agricultural yield has increased and industrial yield decreased compared to last crop.

Vegetative sprouting has decreased thanks to the drop in rainfall, meanwhile TRS levels have consistently increased. However, it is important to point that although TRS levels are increasing, they are still below expected. For instance, in August 2012, five out of the six regions analyzed had TRS levels higher than 140 kg/tc. This season, only two regions presented TRS above 140 kg/tc in the same month. This is due to elevated levels of rain in June and July, water storage in the soil and floral induction in cane fields.

Between the second half of August and the first fifteen days of September the weather was very dry and without occurrence of significant precipitation, which allowed mills to recover from the delayed schedule of planting and harvesting operations. As predicted, winter planting was completed as scheduled, and now mills wait for an increase in rainfall to initiate 12 month planting.

The Bauru and Piracicaba micro regions are suffering with Sphenophorus levis infestation. The plague reached concerning levels during last August. The beetle shows up soon after the harvest, when there are chunks of cane fermenting on the field, and it digs galleries in the ratoons. DATAGRO Crop team also observed borer infestation in 3% to 4,5% of the cane fields of the Sao Paulo state.

Production mix is prioritizing ethanol, directing 55.58% of the total sucrose supply of the crop to the production of the biofuel. DATAGRO estimates the 2013/14 crop will end with a production mix of 54.7%, due to recent appreciation of the US dollar against the Real, which increases attractiveness of exportation of sugar and ethanol.

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DATAGRO

sexta-feira, 23 de agosto de 2013 - 9h53

22 de Agosto de 2013 – Canaviais do Estado de São Paulo apresentaram aumento de produtividade agrícola (toneladas por hectare) e industrial (kg de ATR por tonelada) em relação a Junho.

Em geral, a produtividade em Julho aumentou 3,07% em relação ao mês anterior, e 14,74% em relação ao mesmo período da safra anterior. Entre Abril e Julho a média de produtividade agrícola foi de 85,72 tons/ ha, 14,6% superior à média observada no mesmo período de 2012/13.

Apesar das chuvas, os níveis de ATR subiram em Julho, atingindo níveis até 10% maiores do que a normal histórica. A quantidade de açúcares totais recuperáveis na cana é resultado da boa umidade do solo, temperaturas abaixo de 15ºC, que ajudaram na maturação da sacarose, e uso em grande escala de maturadores. O rendimento industrial médio foi de 133 kg ATR/ ton, valor 4,23% acima do mês anterior. Em relação ao mesmo período do ano passado houve aumento de 3,58%.

A alta precipitação observada ao longo do ano atrasou as operações agrícolas de modo geral, mas há recuperação. O atraso no plantio em relação ao calendário de planejamento anual da safra diminuiu em Julho para 13,2%, contra 21,6% observado em Junho.

Geadas nas noites de 24 e 25 de Julho tiveram impacto significativo no Paraná e algumas regiões do Mato Grosso do Sul. No Estado de São Paulo apenas as áreas baixas da microrregião de Presidente Prudente sofreram perdas relevantes. Em toda região Centro Sul aproximadamente 65 milhões de toneladas de cana foram afetadas de alguma forma pela geada, de um total de 362 milhões de toneladas a serem colhidas.

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DATAGRO

quarta-feira, 24 de julho de 2013 - 12h20

*Luiz Felipe Pires Nastari

A elevada produtividade nos canaviais é essencial para garantir rentabilidade ao setor sucroenergético e atender as crescentes demandas por etanol e açúcar no mundo. Um dos principais fatores agronômicos que tem potencial para impactar positivamente a produtividade é o melhoramento genético da cana de açúcar. O desenvolvimento de variedades adaptadas ao clima, solo, sistema de colheita, e demais fatores reflete diretamente na produtividade agrícola, concentração de açúcares totais recuperáveis e, consequentemente, na quantidade produzida de derivados.

Desde 1975, quando foi iniciada a diversificação do setor sucroenergético na direção do etanol, a produção de cana cresceu 7,4 vezes e a oferta de ATR 9,6 vezes. Parte considerável deste aumento pode ser atribuída ao desenvolvimento de variedades mais apropriadas aos ambientes de produção e ao manejo técnico agronômico adequado.

O melhoramento genético clássico é atualmente o modo mais utilizado para desenvolver variedades, e consiste basicamente em selecionar mudas, testá-las e por fim propagar os indivíduos que manifestarem características que contribuam para produtividade. O método é complexo e relativamente lento, devido à necessidade de acompanhar todo o ciclo de crescimento da cana, podendo resultar num cultivar apto para uso comercial apenas 8 a 10 anos após o cruzamento inicial.

O perfil de cana de açúcar que corresponde diretamente a um incremento em produtividade é aquele com boa capacidade de brotação, gemas viáveis e com alto potencial de perfilhamento, de forma a garantir a maior concentração possível de massa vegetal na área plantada. É preciso considerar também a capacidade de produzir e manter açúcares após vários cortes, bem como o desenvolvimento do sistema radicular da cana, que garante resistência ao stress hídrico.

Como não poderia deixar de ser em uma atividade agrícola, clima e solo são determinantes para a boa produtividade, e compõem o ambiente de produção. A escolha da variedade de cana para um determinado local deve levar em conta o nível de exigência de água e nutrientes da planta, de forma a aproveitar ao máximo o potencial de produção numa área determinada.

Nos canaviais brasileiros em 2011, 22,1% eram compostos pela variedade de cana RB867515, e outros 12,2% pela SP81-3250. A diversidade de variedades é importante para diminuir a possibilidade de proliferação de pragas e doenças dentro dos canaviais, causando prejuízos. O desenvolvimento de uma agricultura com poucos genótipos de cana de açúcar aumenta a sustentabilidade ao ataque de pestes e doenças, enquanto que a diversidade genética contribui para barrar surtos. Portanto, a pesquisa de novas variedades de cana permite não só saltos de produtividade, como também mitiga riscos a sanidade dos canaviais.

Com as crescentes demandas por etanol e açúcar, investimentos em novas técnicas para acelerar o processo de melhoramento genético da cana de açúcar são sinônimos da busca por competitividade e produtividade para o futuro. É o que irá garantir rentabilidade ao setor e contribuir para a diminuição de riscos, além de permitir a expansão das fronteiras agrícolas atuais, sempre com produtividade em alta.

*Luiz Felipe Pires Nastari é economista e pesquisador da DATAGRO.

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DATAGRO

quarta-feira, 19 de junho de 2013 - 3h25

*Guilherme Nastari

A mecanização do setor sucroenergético, especificamente no estado de São Paulo – o maior produtor de cana de açúcar do país – era de apenas 49,8% na safra 2007/08, quando o Protocolo Agroambiental foi assinado por usinas e representantes do setor. O acordo propõe que sejam encerradas as queimadas de palha de cana, pressupondo substituição da técnica pela colheita mecanizada. Desde então, o uso de tecnologia cresceu e a mecanização na safra 2012/13 foi de 86,2%.

A assinatura do Protocolo que antecipa o prazo legal para a eliminação da queima da cana não era obrigatória, porém a maioria dos produtores está de acordo e há anos tem buscado se adequar às regras. Segundo o documento, os produtores se comprometeram a adiantar de 2021 para 2014 o fim da prática de queima nas áreas mecanizáveis (com menos de 12% de inclinação), e de 2031 para 2017 das áreas dificilmente mecanizáveis (mais de 12% de inclinação).

A data limite para mecanização dos canaviais se aproxima, e com a necessidade de adequação no processo de colheita e plantio os produtores estão tendo que reaprender o manejo da cultura. Algumas das dificuldades encontradas durante este processo de transição entre colheita manual e mecânica estão principalmente relacionadas com solo e a própria cana.

O solo é irregular, e ainda inadequado para a colheita com a máquina. Operar em solos ondulados levanta ao produtor uma questão: cortar rente ao solo e levar junto com a cana um monte de terra ultra-abrasiva que destrói a fábrica, ou cortar um pouco acima e deixar no campo a parte da cana de onde se extrai maior quantidade de açúcar? Além disso, é comum que o peso das colhedoras, transbordos e outras máquinas acabem por compactar o solo e prejudicar o desenvolvimento de futuros canaviais.

Há também dúvidas de produtores em relação à palha, que antes era queimada e agora é um resíduo que traz desafios e oportunidades. Deixada no solo pode ser importante elemento para preservar a umidade do solo, e no longo prazo aumentar o teor de matéria organica. No entanto, é também a hospedeira de pragas muito danosas como a cigarrinha.

As máquinas não separam totalmente a palha da cana, que entra na moagem. A palha que é moída não gera açúcar e nem etanol, o que aumenta os custos. Por este motivo os quilos de ATR por tonelada de cana caíram nos últimos anos. Há quatro ou cinco anos atrás variavam entre 142 e 147 kg de ATR por tonelada. Hoje, caíram para a faixa de 135 a 137 kg por tonelada em média. O rendimento da colhedora também depende do treinamento dos operadores, e que pode ser de pouco produtivas 230 toneladas a 920 toneladas de cana por máquina/ dia.

Um relatório feito pela DATAGRO apontou as principais dificuldades que estão sendo enfrentadas devido às mudanças. O aumento de impurezas vegetais, como palha e massa vegetal que são carregadas até as usinas e não geram sacarose, o aumento de perdas na colheita em relação à colheita manual, o pisoteamento de cana que impõe falhas nos canaviais e provoca a perda de produtividade futura até que o talhão seja reformado, e a compactação do solo, que dificulta a nutrição da cana e seu desenvolvimento, são alguns dos fatores principais.

A solução encontrada pelos produtores para resolver esses problemas de imediato é aumentar a sistematização do talhão para a entrada da colhedora. O investimento que está sendo feito ainda é baixo, já que o processo de mecanização é relativamente recente e os produtores estão aprendendo a lidar com os desafios gradativamente.

Entretanto, não são só as mudanças ocorridas no modo de produção que determinam a perda de competitividade do setor de cana brasileiro. O arrendamento das terras ficou mais caro devido a valorização do milho e da soja.

Por fim, pode-se concluir que a mudança em direção à mecanização trouxe a necessidade de um grande esforço de adaptação e aprendizado, mas no longo prazo o investimento é certamente vantajoso. As soluções para os problemas trazidos com a adaptação serão resolvidos à medida que o setor for se adequando às regras impostas pelo novo modelo de produção.

*Guilherme Nastari é mestre em agroenergia e diretor da DATAGRO

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DATAGRO

sexta-feira, 14 de junho de 2013 - 10h05

*Plinio M. Nastari

O preço mundial do açúcar, referenciado pelo primeiro futuro do contrato número 11 de açúcar crú a granel negociado na bolsa Intercontinental Exchange (ICE) Futures de Nova York, caiu na primeira quinzena de junho para nível abaixo de 17 centavos de dólar por libra-peso FOB. Este preço está ligeiramente abaixo do custo médio do fornecedor marginal deste mercado, que é o produtor/exportador da região Centro-Sul do Brasil. Apesar disso o Brasil continua embarcando volumes relativamente elevados de açúcar para exportação, e os principais terminais de exportação nos portos de Santos e Paranaguá estão com estoques relativamente baixos. Para colocar esta observação em números, enquanto nos primeiros 5 meses de 2012 (Janeiro a Maio/12), as exportações de açúcar do Brasil somaram 5,844 milhões de toneladas métricas, no mesmo período deste ano este volume já atingiu 9,597 milhões de toneladas.

Apesar do balanço oferta-demanda mundial indicar, segundo estimativas da DATAGRO, um excedente de 10,27 milhões de toneladas na safra mundial de 2012/13, que encerra em 30 de setembro próximo (o ano comercial para efeito estatísticos corre de 1 de outubro a 30 de setembro de cada ano), e estar previsto excedente de 6,18 milhões de toneladas na safra subsequente de 2013/14, os produtores/exportadores brasileiros não tem encontrado dificuldade para escoar sua produção.

Porque não há dificuldade para colocar o produto num cenário de excedentes pelo terceiro ano consecutivo em 2012/13, e porque os produtores continuam produzindo  e exportando, mesmo numa situação em que o preço está abaixo do custo médio?

Em primeiro lugar, o mercado continua absorvendo açúcar a granel do Brasil com preferencia em relação a outras origens porque a qualidade do produto brasileiro é superior, pelo seu maior grau de polarização (teor de sacarose), cor mais clara (grau ICUMSA menor), e menor teor de impurezas. Todas as refinarias independentes instaladas em localidades estratégicas do globo nos últimos 20 anos, como Dubai, Arábia Saudita, Nigéria, Argélia, Marrocos, Síria, Egito, e Índia, foram construídas prevendo a utilização de matéria prima tendo como referencia mínima o açúcar a granel tipo VHP (very high polarization) produzido em larga escala pelo Brasil. Outras especificações de qualidade ainda melhor do que o VHP, como o VHP-plus e o VVHP, são produzidas apenas pelo Brasil. Só recentemente, exportadores como a Guatemala, Australia e de forma parcial a Tailandia, começaram a oferecer produto similar ao padrão básico brasileiro de VHP. Portanto, mesmo em um cenário de excedentes globais, o produto brasileiro tem encontrado colocação preferencial, mesmo tendo o Brasil alcançado uma participação de mercado dominante, ao representar cerca de 50% das exportações mundiais.

E porque os produtores brasileiros continuam exportando açúcar, mesmo num cenário atual de preços baixos? Uma possível explicação advém do fato que a exportação “não é uma foto, e sim um filme”. Um volume considerável da produção que está sendo exportada em 2013 foi precificada em 2012, a preços que variaram entre 19,5 e 23 centavos por libra-peso FOB, e estão sendo entregues neste momento a esses preços, com uma taxa de câmbio em que o dólar está mais valorizado do que a um ano atrás.

Esta mesma lógica indica, entretanto, que algo deve acontecer no futuro, caso os  preços continuem permanecendo em níveis não-atrativos ao produtor brasileiro. O principal elemento a ser considerado é o fato de que a indústria brasileira é integrada e diversificada, sendo capaz de produzir açúcar ou etanol com uma relativa flexibilidade. Esta flexibilidade aumentou nos últimos anos, com investimentos adicionais na capacidade de fabricação de produtos finais, açúcar e etanol, embora menos na capacidade total de moagem de cana.

Em 2013, o produtor/exportador brasileiro vai estar menos propenso a precificar exportações de açúcar de forma antecipada, por estarem em níveis abaixo do seu custo. O produtor típico tem a possibilidade de produzir mais etanol hidratado e anidro, ao invés de açúcar, e obter um preço para o etanol no mínimo equivalente aos níveis observados hoje para o açúcar. Deverá ser preferível ao produtor brasileiro produzir etanol para venda no mercado interno, do que produzir açúcar para exportação tendo prejuízo, pois a possível perda com a venda do etanol poderá levar a uma reversão no preço do açúcar. A opção de produzir e vender mais açúcar, sem passar pelo caminho de maior produção de etanol, é um caminho que sela o inexorável prejuízo com o açúcar e o etanol.

No curto prazo, o mercado mundial continua observando o excedente do mercado mundial, e só vai apresentar reação quando acreditar, ou perceber, que a sua principal origem, o seu principal fornecedor, está se retirando parcialmente do mercado.

Basta que o consumo de etanol hidratado cresça 300 milhões de litros por mês, para que, em termos anualizados, todo o excedente mundial de açúcar previsto para 2013/14 seja eliminado, através da absorção de 5,75 milhões de toneladas de açúcar equivalente. Para que isso ocorra, basta que a relação de preço entre o etanol hidratado e a gasolina atinja níveis abaixo de 65%, que seria o nível considerado suficiente para que o proprietário de carro flex migre o consumo a favor do etanol hidratado.

Os efeitos desta mudança de comportamento no mercado brasileiro de combustíveis serão muito expressivos. O retomada do nível padrão de mistura de etanol anidro na gasolina, de 20% para 25%, a partir de 1 de maio de 2013, foi uma medida acertada. Não se justificava uma espera adicional para que a medida fosse implementada, como foi cogitado por alguns para 1 de junho de 2013. Aliás, a redução de 25% para 20% implementada a partir de 1 de outubro de 2011, é até hoje de mérito bastante discutível, pela constatação de que havia oferta de etanol anidro suficiente, de origem doméstica e importações não-gravosas, para garantir o suprimento normal necessário para os 25%.

O aumento no consumo total de anidro mais hidratado na safra 2012/13 pode atingir entre 3,5 e 5 bilhões de litros, sendo principalmente na forma de anidro. É um volume expressivo considerando o volume de importações de gasolina do Brasil nos últimos anos. Em 2012, a importação líquida de gasolina somou 3,643 bilhões de litros, com dispêndio de US$ 2,909 bilhões. Nos primeiros 5 meses de 2012 (até maio), as importações líquidas de gasolina somaram 1,649 bilhão de litros, com dispêndio de US$ 1,334 bilhão. No mesmo período de 2013, a importação líquida foi de 2,199 bilhões de litros (+33,3%), com dispêndio de US$ 1,656 bilhão (+23,6%).

O uso intensivo do etanol combustível foi incentivado no Brasil em meados da década de 1970 pela sua capacidade de substituir gasolina, e reduzir a dependência que o País possuia pela importação de petróleo e derivados. Em 1975, o Brasil importava 81% de sua demanda doméstica de petróleo e derivados. É interessante verificar que passados 38 anos, além das vantagens ambientais identificadas a favor do etanol de cana e que não compunham a justificativa original, hoje o etanol volta a ser valorizado novamente por sua capacidade de reduzir a dependencia por importação de gasolina, e suas implicações para a balança comercial.

E é importante registrar que o etanol de cana, limpo e renovável, poderá dar essa contribuição, mesmo num cenário em que o governo erradamente vem subsidiando o preço da gasolina ao consumidor, em estimados 16% base refinaria, prejudicando a viabilidade economica, e a competitividade do etanol em relação à gasolina, com grave prejuízo aos produtores. Mas isso só estará ocorrendo porque o mercado do açúcar não é atualmente uma opção viável de proteção (hedge) ao produtor para suas exportações de açucar ainda a serem precificadas, nesta e na próxima safra.

 

*Plinio M. Nastari é mestre e doutor em economia agrícola e presidente da DATAGRO, foi professor de economia da EAESP-FGV.

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DATAGRO

terça-feira, 04 de junho de 2013 - 3h28

Considerado um dos mais importantes eventos do calendário mundial do açúcar e etanol, a 13ª Conferência Internacional Datagro será realizada nos dias 21 e 22 de outubro no Hotel Grand Hyatt São Paulo (Av. Nações Unidas, 13301), na capital paulista.

Referência dos principais temas e preocupações do setor para os integrantes de sua cadeia produtiva, o evento proporciona, ainda, oportunidade de networking em um dos maiores centros de negócios do Hemisfério Sul. Com tradução simultânea português-inglês e infraestrutura completa de serviços, reúne mais de 700 líderes empresariais, provenientes de 33 países.

O objetivo da conferência é reunir especialistas na área e promover debates sobre as perspectivas do mercado, planejamento estratégico e comercial para os diferentes elos da cadeia de produção e comercialização. Dentre os assuntos abordados em 2012 estavam a avaliação da produção de safra no Brasil em 2012/13 e possibilidades para a temporada seguinte, incrementos em produtividade agroindustrial, desafios do mercado de combustíveis no Brasil, dentre outros.

A edição anterior à 13ª Conferência Internacional sobre Açúcar e Etanol contou com a participação de autoridades do agronegócio nacional e mundial, como Dr. Plinio Nastari, presidente da DATAGRO; Monika Bergamaschi, Secretária de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo; Deputado Federal Arnaldo Jardim; Ricardo Dornelles, diretor do Depto. de Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia; Adriano Pires, diretor do CBIE; e Dr. Peter Baron, diretor executivo da International Sugar Organization, dentre outros.

O encontro dará, mais uma vez, suporte ao Sugar Dinner São Paulo, reconhecido como um dos eventos sociais e de negócios de maior prestígio para o setor sucroenergético.

O credenciamento pode ser efetuado por meio do link www.datagroconferences.com.br ou a partir do número (11) 4191-4116. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 4191 6994.

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DATAGRO

segunda-feira, 27 de maio de 2013 - 12h17

Canaviais do estado de São Paulo (SP) apresentam bom desenvolvimento fisiológico. Chuvas em quantidades maiores do que a normal histórica durante Março/13 e primeira quinzena de Abril/13 serão benéficas para a disponibilidade de cana a ser moída a partir do meio da safra.
Esta precipitação acima do normal até início de Abril/13 impactou negativamente o programa de plantio de 18 meses, que foi interrompido diversas vezes. Cada vez mais produtores tem plantado cana em programa para 12 meses. Sob uma perspectiva geral, o plantio em SP está atrasado, apresentando 21,6% de defasagem em relação à agenda em 25 de Abril/13.
Há preocupação que a falta de umidade causada pelo período seco das últimas semanas poderá prejudicar a capacidade de plantar acima da distribuição de vinhaça. Ainda assim, regiões com solo de estrutura argilosa apresentam bom estado, enquanto terras de caráter arenoso já estão mais secas.
Em canaviais de SP no último mês a infestação de broca aumentou, atingindo níveis acima do considerado regular. Ao mesmo tempo, diminuíram as áreas com Cigarrinhas, um comportamento natural e já esperado devido ao ciclo da praga.
As operações de colheita no Estado iniciaram à plena capacidade a partir da segunda quinzena de Abril/13, quando o clima se tornou mais seco. A moagem foi iniciada principalmente com cana bisada e variedades de maturação precoce.
Produtores estão otimistas e satisfeitos quanto ao rendimento agrícola das canas neste momento. A estimativa de moagem da DATAGRO para a safra 13/14 na região Centro Sul é 9,8% superior à da temporada anterior – 584,50 este ano versus 532,33 em 12/13.
Até 1º de Maio/13 a quantidade moída na região Centro Sul representa 14,2% do volume da safra. Com volumes de ATR próximos aos observados em 12/13, mais cana esmagada no início de safra poderá derrubar os níveis de ATR na média ponderada da temporada.

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DATAGRO

quinta-feira, 02 de maio de 2013 - 9h37

*Plinio M. Nastari

Os efeitos da crise financeira de 2008 ainda são perceptíveis em um bom pedaço do setor sucroalcooleiro brasileiro, mas os impactos causados por três anos consecutivos (2009 a 2011) de clima anormal começam a ficar superados, pelo menos na região Centro-Sul que deve representar na safra 2013/14 cerca de 92 porcento da moagem de cana do País. A região Norte-Nordeste ainda enfrenta o desafio de superar a grave seca que asola a região, e que tem poupado de forma moderada apenas aqueles produtores que investiram e dispõem de irrigação complementar ou de salvamento.

Na safra 2013/14, a moagem de cana na região Centro-Sul deve se aproximar da capacidade efetiva de moagem, com um índice de ocupação superior a 95 porcento, e que vai depender do aproveitamento de tempo das usinas a ser determinado pelo clima durante a safra. Chama atenção a queda assentuada no ritmo de expansão da capacidade de moagem, com poucos novos projetos e expansão de usinas já existentes entrando em operação em 2013,  ao mesmo tempo em que existe a perspectiva de que outras usinas se somem à lista das 41 que encerraram atividades desde 2008. Portanto, a capacidade efetiva de moagem ficará estagnada ou apresentará um crescimento modesto. O prazo de maturação de novos investimentos em moagem é de 2 a 3 anos no mínimo, o que significa que mesmo havendo potencial de crescimento da produção agrícola, a expansão da produção de produtos finais estará, neste horizonte, comprometida pela limitação de capacidade de moagem

A área com maior potencial de redução de custos ao alcance da indústria é o aumento da produtividade agrícola, e neste aspecto as perspectivas são alvissareiras. O atual estágio tecnológico já permite a geração de 7 mil litros de etanol por hectare (na forma de etanol ou açúcar), e em pouco tempo, possivelmente até o final desta década, poderá ser possível atingir produtividades agroindustriais próximas a 12 mil litros por hectare. Segundo o diretor executivo do CTC, Gustavo Leite, espera-se chegar a entre 30 e 35 mil litros por hectare até 2035. São números impressionantes considerando que o etanol de milho garante uma produtividade média atualmente de 3,2 mil litros por hectare, e o seu potencial máximo é de 6,5 mil litros por hectare, além da menor vantagem em termos de balanço energético e redução na emissão de gases do efeito estufa. É importante que não haja perda de oportunidades.

Os desafios permanecem não apenas no aperfeiçoamento das operações agrícolas de plantio e colheita mecanizada, como no cumprimento de normas legais. A Lei da Balança, que limitou em 75 toneladas o peso bruto transportado (cana mais tara) por comboio, deve aumentar os custos de transporte da matéria prima. A Lei do Caminhoneiro, que deve o efeito prático de reduzir entre 25 e 30% a frota rodante do País exatamente no momento em que cresce a oferta de açúcar e etanol e principalmente de grãos, deve elevar, junto com o aumento do preço do diesel, o frete dos produtos finais.

Ao mesmo tempo em que as demandas por açucar e etanol continuam em expansão no mundo, no curto prazo a indústria enfrenta o terceiro ano consecutivo de superavit no mercado mundial. A pergunta é por quanto tempo mais vai se manter esse cenário? O mercado brasileiro exige uma produção cada vez maior de etanol para atender o seu crescente mercado interno. As exportações de etanol retomam o crescimento. Ao mesmo tempo, existe um real potencial de expansão da produção de açucar na India, Europa, Tailandia e Australia.

Este cenário complexo deverá afetar profundamente a maneira que o setor sucroenergético irá operar a partir do próximo ano. Especialistas renomados debaterão estas questões essenciais no 7th ISO DATAGRO New York Sugar & Ethanol Conference, que acontece no dia 15 de maio de 2013, e cujo tema é “Sugar surplus weighing on the market?” (www.isodatagroconferences.com.br).

 

*Plinio M. Nastari é mestre e doutor em economia agrícola e presidente da DATAGRO.

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DATAGRO

quinta-feira, 11 de abril de 2013 - 2h21

*Guilherme Nastari

            O recente reajuste no preço da gasolina base refinarias, e a decisão de se retomar a  mistura de 25% de etanol anidro no combustível a partir de 1º. de maio, são indicações de que os ventos começam a soprar novamente na direção favorável ao setor sucroenergético. A produção de cana na safra 13/14, que se inicia agora, deve manter a tendencia de recuperação já verificada no ano passado, sendo capaz de abastecer mercados interno e externo em expansão.

Em 2012, as exportações brasileiras de etanol atingiram 3,098 bilhões de litros, expressivo aumento de 57,5% sobre resultados de 2011. A receita gerada somou US$ 2,18 bilhões, ante US$ 1,49 bilhão no ano anterior. Apesar do balanço positivo, o volume exportado só pôde ser alcançado devido ao maior excedente do biocombustível, consequência da fraca demanda doméstica, associada à recuperação da moagem de cana na safra 2012/13.

O controle de preços, que manteve a gasolina artificialmente abaixo do seu valor internacional durante 2012, retirou competitividade do etanol hidratado nas bombas. Segundo apuração da DATAGRO, durante 2012 a defasagem média mensal no preço da gasoina variou de 12,1% a 26,9%.  O último mês em que o preço da gasolina esteve a par com os valores negociados internacionalmente foi dezembro de 2010, mês em que aproximadamente 60% da frota flex utilizou etanol. Em dezembro de 2012 este percentual estimado havia caído para 30,3%, demonstrando claramente como a defasagem do preço da gasolina impacta o consumo do biocombustível.

Como resultado desta política de controle de preços, o consumo de hidratado somou apenas 9,85 bilhões de litros em 2012, redução de 9,6% sobre 2011. Em contrapartida, a quantidade de gasolina A consumida no país totalizou 31,76 bilhões de litros no acumulado do ano, aumento de 17,3%.

Contribuiu também para a demanda de etanol retraída em 2012 a decisão de reduzir a mistura de etanol anidro na gasolina, de 25% para 20% a partir de outubro de 2011. A redução na mistura reduziu a demanda de a ponto de desestimular a efetivação de contratos de importação de etanol em condições lucrativas para os produtores e para o país, forçou a Petrobras aumentar a importação gravosa de gasolina, e obrigou os produtores a a transformar quase 500 milhões de litros de etanol anidro em hidratado, com claro prejuízo.

Junto ao controle de preços, a menor mistura permitiu que o etanol perdesse espaço na matriz de combustíveis do ciclo Otto. A participação do etanol na matriz do ciclo Otto caiu para 31,7% em 2012, contra 37,1% em 2011 e 44,6% em 2010. É a menor participação do etanol na matriz desde 1982.

No mesmo momento em que a baixa demanda interna por etanol criava um excedente exportável do biocombustível, uma severa estiagem na região Meio Oeste dos EUA,  entre maio e agosto, fez quebrar a safra de milho. A seca acabou impulsionando o preço da commodity, o que refletiu nos preços do etanol norte-americano e impulsionou recuperação na demanda por biocombustível importado. O Brasil forneceu 84,19% do total de etanol importado pelos EUA em 2012.

O reajuste de 6,6% no preço da gasolina e o retorno à mistura de 25% de anidro em maio aumentam a demanda interna pelo biocombustível mas não devem prejudicar o crescimento das exportações. Embora positivas, estas medidas são insuficientes para recuperação completa da demanda de etanol no mercado interno. Para cobrir a defasagem da gasolina frente ao mercado internacional o combustível deveria subir aproximadamente 15,4%. Uma das medidas que deve ajudar a reduzir esta disparidade é a possível desoneração do PIS/COFINS incidente sobre o etanol.

É preciso levar em conta também que a oferta de etanol em 2013 deverá aumentar consideravelmente com o aumento da moagem prevista. A safra 2012/13 foi o prelúdio da recuperação na moagem de cana da região Centro Sul, com um total de 532,3 milhões de toneladas, crescimento de 7,9% em comparação ao ciclo anterior. Para a temporada 2013/14, a Datagro estima moagem na região Centro-Sul de 587 milhões de toneladas de cana. Este incremento de moagem irá assegurar o abastecimento de etanol ao mercado interno, tanto hidratado quanto anidro, e também o já esperado aumento nas exportações.

As perspectivas para exportação de etanol em 2013 são de crescimento de mais de 1 bilhão de litros, dirigido basicamente para o mercado norte americano. Este movimento reflete a mudança ocorrida em 2011, com abertura para exportação de biocombustíveis aos EUA, inclusive com prêmio para o produto brasileiro. Há ainda que ser considerada a meta de participação de biocombustíveis no consumo total, que deve atingir 20% até 2022, um salto extremamente significativo em vista do volume de combustíveis que o país consome. As exportações de etanol em 2013/14 devem atingir 4,1 bilhões de litros, ainda aquém do récorde histórico de 5,12 bilhões de litros de 2008, mas na direção de recuperação.

*Guilherme Nastari é mestre em agroenergia e diretor da DATAGRO.

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