Universo Agro

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O Impacto da seca na India

quinta-feira, 07 de fevereiro de 2013 - 10h04

*Guilherme Nastari

A safra 2012/13 na Índia começou atrasada e em meio a preocupações quanto ao volume de cana a ser processada. Do início de outubro de 2011 até agosto de 2012 o volume de precipitação foi 24% menor do que a normal histórica, ponderando as precipitações pela moagem de cana em cada microrregião canavieira – metodologia denominada Índice Relativo de Chuvas da DATAGRO. O clima seco diminuiu o nível de aquíferos, prejudicando o já insuficiente aproveitamento da irrigação nas propriedades agrícolas do país.

Fornecedores de cana aguardaram por melhora nos canaviais após o extenso período de chuvas abaixo da média histórica, o que resultou em produção pequena no mês de novembro, quando comparada ao mesmo período de 2011/12 (2,33 milhões de toneladas de açúcar em novembro de 2012 contra 23,92 milhões de toneladas em novembro de 2011). Contribuíram também para demora no início das operações as festividades do Diwali, festival hindu que mobiliza grande parte do país, e tem duração de cinco dias corridos.

Na região produtora de Uttar Pradesh as condições climáticas estão menos críticas quando comparadas a outros estados. Como a quase totalidade dos canaviais são de primeiro corte, é possível que a região atinja bons níveis de produtividade no início desta safra. Uttar Pradesh é um dos poucos estados cujas projeções apontam melhores resultados em 2012/13. Apesar da queda de 52,1% na quantidade produzida entre outubro e novembro de 2012 se comparada a igual período do ano anterior, estima-se que o volume de açúcar fabricado pelo estado poderá ultrapassar o produzido por Maharashtra. Atual maior estado produtor de açúcar da Índia, Maharashtra é um dos mais afetados pela fraca incidência de chuvas, de modo que poderá ver sua produção reduzida em 27,5% em relação ao ciclo anterior.

Junto aos reflexos negativos de origem em problemas climáticos, a indefinição do preço mínimo da cana para a temporada, fixado pelo governo indiano, contribui para elevar as preocupações com a produção. Novamente o impasse entre usinas e fornecedores de cana sobre o preço da matéria prima é apontado como causa de atraso. Após o governo cortar subsídios na aquisição de fertilizantes e elevar preços de combustíveis, agricultores demandam reajuste de até 20% no preço da cana. Até o momento houve acordo somente em Uttar Pradesh, com reajuste do preço da cana da ordem de 16%.

O ritmo de produção de açúcar acelerou em dezembro devido aos acordos realizados e subsequente antecipação da moagem em Uttar Pradesh. A produção de açúcar entre início de outubro e o fim da primeira quinzena de dezembro alcançou 4,91 milhões de toneladas, 1,9% mais do que em mesmo período de 2011/12.

O cenário doméstico difícil alimentou um diferencial de preços entre os mercados externo e interno, abrindo janelas para a importação do produto. Em função da valorização do preço do açúcar no mercado interno, o governo da Índia planeja elevar a tarifa sobre importação do açúcar branco. Atualmente a tarifa é de 10%, tanto para aquisições de produto bruto quanto branco. Por acreditar que haverá quebra da safra em 2012/13, o governo pretende manter por mais um ano a livre exportação da commodity, garantindo assim que a oferta permanecerá acima da demanda interna.

Considerando os problemas climáticos e de precificação enfrentados pelo país asiático, bem como a aceleração da moagem de cana no último mês do ano, a DATAGRO estima produção de 23,59 milhões de toneladas de açúcar na Índia para a safra 2012/13, 2,76 milhões de toneladas a menos do que em 2011/12.

 

*Guilherme Nastari é mestre em agroenergia e diretor da DATAGRO.

 

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