Agricultura precisa de visão de médio e longo prazo, segundo diretora da ABAG-RP

A agropecuária é uma atividade econômica estratégica para o País. Certo? Não é bem assim que é vista, pelo menos pelo governo federal. Apesar da importância para o Produto Interno Bruto brasileiro, com recorde de produção agrícola ano a ano, o orçamento do Ministério da Agricultura vem sendo achatado nos últimos anos. Enquanto o pagamento de pessoal, em 2013, representou 87% do orçamento liquidado, por outro lado cai drasticamente a capacidade de investimento da pasta.

Uma das áreas mais afetadas pelos cortes de gastos em investimento foi a de defesa agropecuária. Em 2013, apenas R$ 81 milhões foram executados, diante de um orçamento de R$ 158 milhões. Teve até ação prevista no orçamento, com previsão de R$ 1,8 milhão, que não recebeu um só centavo ao longo de 2013. É o caso da área de Desenvolvimento da Agroenergia.

Para Patrícia Milan, diretora executiva da ABAG-RP (Associação Brasileira do Agronegócio - Ribeirão Preto), o agronegócio precisa de investimentos que lhe garantam competitividade. Segundo ela, políticas para o setor não devem ser tomadas apenas mirando 2014. “É preciso ter visão de médio e longo prazo, focando principalmente maior competitividade.”

Apesar dos cortes sequenciais na área de investimentos, ela lembra que o agronegócio brasileiro não deixa de ser uma potência: agrícola, energética e ambiental, devendo buscar as condições ideais para atingir e utilizar de forma eficiente seu potencial. “As cadeias produtivas brasileiras, inseridas em um contexto global, precisam, dentre outras iniciativas, de inovações tecnológicas, investimentos em irrigação e agricultura de precisão, tecnologia para gestão dos recursos naturais.” Mas o governo também precisa fazer a sua parte, oferecendo “maior produtividade da mão de obra (através da capacitação) e políticas públicas de apoio ao setor, para que continue a contribuir positivamente para a economia nacional e se manter em posição de destaque no cenário mundial.”

NOVO APAGÃO LOGÍSTICO PELA FRENTE – Mas não são apenas os cortes no orçamento do MAPA que afetam a agropecuária brasileira. Até porque, se por um lado falta investimento público na área, por outro o produtor continua fazendo a lição de casa.  A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), em seu relatório de acompanhamento de safra, já prevê uma nova produção recorde de grãos para 2013/2014, podendo ultrapassar a casa das 190 milhões de toneladas. Isso significa que o produtor, mais uma vez, sofrerá com os gargalos da logística e da infraestrutura do País. “Das ações de investimento em melhoria e ampliação das estruturas de logística e armazenamento, apenas os resultados que proporcionam maior eficiência nas operações serão implantados a tempo para 2014. Ou seja, a estrutura para este ano não será ampliada e as filas de caminhões nos portos deverão se repetir.”

Patrícia lembra que a questão da logística e de armazenamento são problemas estruturais do País que têm impactado o agronegócio diretamente há anos. “O atual déficit existente entre volume produzido e a capacidade de escoamento e estocagem, aliado aos investimentos em tecnologia realizados no campo visando o aumento da produção, indicam que, pelo menos no curto prazo, esse gargalo logístico continuará a gerar prejuízos para o setor.”

Os impactos negativos - que reduzem a competitividade - incluem desde a elevação do custo do frete, potenciais perdas na produção por atrasos gerados na colheita (pois não há como escoar) ou por exposição do produto às condições climáticas adversas (pois não há onde armazenar), ineficiências na comercialização, até a dificuldade de planejamento e gestão dos diferentes elos da cadeia produtiva.

Pelo que tudo indica, cenas como filas, desperdício, atraso na entrega e até cancelamento de contratos trarão dor de cabeça ao produtor rural também em 2014.