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Terça, 05 de Março de 2013 - 09h13

Exclusivas uagro

Em busca da precisão no cultivo

A agricultura de precisão cresce no Brasil, mas ainda é vista como novidade

Universoagro

Texto e fotos: Adair Sobczak

Para atingir altas produtividades – levando em conta um clima estável – é cada vez mais imprescindível conhecer as características do solo, as deficiências e necessidades peculiares à cada área, para que sejam tratadas adequadamente, pois somente assim, ele retribuirá com boas produtividades. E, isso, tem sido possível graças à Agricultura de Precisão, AP.

Na opinião do pesquisador da Embrapa Instrumentação e líder da Rede de Pesquisa em Agricultura de Precisão, Dr. Ricardo Inamasu, a AP vem revolucionando tecnologicamente a produção brasileira de grão, uma vez que tem chamado a atenção dos produtores pelas máquinas com sua eletrônica embarcada e por empresas de consultoria e de serviço, com mapas digitais das lavouras. “Evidentemente, essa imagem leva o produtor a refletir sobre o futuro de seu processo e da sua competitividade no mercado”, aponta.

Entre os principais resultados – alcançados e revelados por alguns produtores – obtidos com a adoção da tecnologia, destacam-se a melhoria nos índices de produtividade, a redução e melhor utilização de insumos, maior eficiência no uso de máquinas e implementos e da mão de obra. No entanto, o especialista da Embrapa destaca que o resultado fundamental a ser almejado pelo produtor é a consciência de que o campo não é uniforme. “Se o campo apresenta diferenças, ou seja, há manchas na lavoura, então ele não deve ser tratado como uniforme. Em alguns casos, seria possível corrigir essas manchas, mas, na maioria dos casos, se deve respeitar essas características particulares e tratá-las diferentemente”, observa.

A necessidade de mão de obra especializada

De acordo com Inamasu, em princípio, a AP busca, por meio da gestão, tirar vantagens da variabilidade espacial (diferenças no campo) e obter o maior retorno econômico. “Ao respeitar as características das diversas regiões da propriedade e utilizar corretamente operações de máquinas e a aplicação de insumos, o produtor está, ao mesmo tempo, cuidando do meio ambiente, atuando diretamente em dois dos pilares da sustentabilidade: a econômica e a ambiental”, destaca o especialista.

"A AP vem revolucionando tecnologicamente a produção brasileira de grãos", diz Ricardo

Isso provoca também, segundo Inamasu, a necessidade de maior conhecimento e melhoria da mão de obra, remetendo ao incremento da educação no campo, complementando o terceiro pilar da sustentabilidade: o social. “Obviamente, deve acompanhada de outras tecnologias, mas é possível afirmar que a AP atua no gargalo da competitividade e da sustentabilidade da nossa agricultura”, ressalta.

Na questão da mão de obra, por exemplo, o pesquisador da Embrapa comenta que, comparando o Brasil com os Estados Unidos, percebe-se que os operadores americanos têm mais facilidade com as máquinas e a eletrônica embarcada. “Isso, devido às características da propriedade agrícolas. Naquele país, há muitas empresas que colhem (soja e milho) para os produtores e essas empresas entregam os mapas de produtividade (ou de colheita)”, diz Inamasu, acrescentando que lá, a eletrônica embarcada, assim com softwares, parece que é mais facilmente assimilada como ferramenta.

“Entretanto, vejo o Brasil avançando a passos largos, com novos cursos e treinamentos. Produtores que podem ser considerados do grupo da ‘elite’ estão puxando para cima o nível tecnológico de nossas lavouras”, aponta.

As vantagens da tecnologia

De acordo com o departamento técnico da Cotrijal Cooperativa Agropecuária e Industrial, de Não-Me-Toque, RS, através de mapas de rendimento das colheitadeiras, é possível determinar o local em que se está exportando mais, ou menos nutriente através da produção de grão. “Com isso, na safra seguinte, podemos repor esta exportação se a adubação de manutenção não foi suficiente para o rendimento da cultura. E assim colocaremos a dose certa de produto e no local certo”, aponta o engenheiro agrônomo da Cotrijal, Robinson Barboza.

Segundo ele, a tecnologia permite determinar um estande variado de cultura, conforme a fertilidade e o teto produtivo dentro de cada talhão. “Na cultura do milho, por exemplo, vamos trabalhar com uma densidade maior onde temos a fertilidade melhor e diminuir a densidade onde temos uma fertilidade menor. Também, em função da natureza do solo, a produtividade não vai ultrapassar os tetos produtivos, como ultrapassa onde temos a melhor fertilidade”, observa.

Tudo isso vem se tornado possível graças a AP, tecnologia que possibilita ao produtor fazer um eletrocardiograma de suas lavouras, uma minuciosa análise de como está o solo. “Determinando quais são os limitantes, a AP possibilita a correção deste solo quimicamente. Da mesma forma, consegue definir sua parte física, revelando se é um solo com densidade elevada, o que dificulta o desenvolvimento do sistema radicular”, explica.

 “Determinando quais são os limitantes, a AP possibilita a correção deste solo quimicamente", diz Robinson

Barboza explica que, inicialmente, a AP foi vendida como uma tecnologia que iria diminuir os custos com fertilizantes para os produtores. “Porém, não é isso que devemos levar em conta quando adotamos a AP. O objetivo é conseguirmos identificar onde está a melhor fertilidade e onde está o solo com fertilidade inferior aos padrões que deviriam estar e, com o auxilio da AP, trabalharmos esses problemas, com equipamentos que tenham a tecnologia embarcada”, destaca.

Hoje, um dos grandes desafios, segundo Barboza, é atingir e mesmo superar produtividades de 100 sacas por hectare para a soja e 300 sacas para o milho, o que será possível através da melhoria no perfil do solo, aumentando a fertilidade em profundidade, o que resultará em um desenvolvimento radicular maior e uma melhor reserva de água para a cultura. “Na agricultura convencional, para que isto acontecesse, teríamos que falar em revolvimento de solo. Hoje, podemos fazer isto através de corretivos que vão diminuir a acides em profundidade, permitindo com isso que o sistema radicular aumente, melhorando a questão hídrica para a cultura”, diz.

A experiência do produtor

Produtor em Não-Me-Toque, Markus Schmiedt cultiva 700 hectares com culturas de verão e 400 hectares com grãos de inverno, pois, segundo ele, a rotação de cultura é imprescindível na manutenção da estrutura de solo, nos aspectos físico-químicos e biológicos. “Dizem que o trigo não dá dinheiro. Pode até ser que não dê, mas ganho em qualidade do solo”, revela o produtor.

Isto, porque hoje, segundo o produtor, a tecnologia tem revelado e comprovado que, para se atingir uma boa produtividade, não basta apenas ter equipamentos de última geração, é fundamental entender que o solo possui necessidades e que este somente possibilitará boas produtividades se essas necessidades forem atendidas. “Em poucas décadas evoluímos de uma agricultura convencional (arar, gradear, semear) para o plantio direto – sistema que na época enfrentou resistência por parte de muitos produtores – e hoje, temos AP. Esta mudança na forma de trabalhar o solo, associada à biotecnologia, causou, e tem causado, uma grande revolução no campo, seja em produtividade, controle da lavoura e na gestão dos recursos”, destaca Schmiedt.

No Brasil AP ainda é novidade

No entanto, embora os inúmeros benefícios, a AP no Brasil é uma tecnologia ainda ressente e, em muitos casos, vista como algo extremamente complexo e inacessível por muitos produtores, paradigma que pouco a apouco vem sendo quebrado.

“No fim dos anos 90, viajei aos Estados Unidos, quando conheci a AP e logo pensei que esta seria a solução para uma de minhas grandes preocupações: a desuniformidade de rendimento entre pontos dentro de um mesmo talhão”, diz Schmiedt.

“Com a AP estou atingindo cada vez mais a uniformidade de produtividade em todos os pontos do talhão!, salienta Markus

Hoje, com a AP, tudo mudou. Isto, segundo o produtor, porque o solo passou a ser tratado de maneira diferente, com correção adequada, baseada na realização uma amostra de solo por hectare – composta de 10 subamostras – a cada dois anos, com o objetivo de chegar a uma amostra a cada meio hectare. “Desta forma, estou atingindo cada vez mais a uniformidade de produtividade em todos os pontos do talhão. Com isso, tive um aumento de cerca de 10 sacas de soja por hectare se comparado à década de 90, e praticamente dobrei a produtividade no milho”, destaca o produtor.

Quanto à quantidade de fertilizantes, Schmiedt ressalta que não há produção sem adubação correta, o que hoje é possível saber graças à AP, colocando o que realmente a planta necessita, sem poupar nem desperdiçar. “Nesta questão, é muito importante seguir a orientação técnica das empresas de insumos e equipamentos e, no fim da colheita confrontar os mapas de produtividade e fertilidade da área, para ver se há necessidade de ajustes”, destaca.

Na opinião do produtor, outro grande benefício da AP está relacionado a evitar as perdas na hora do plantio e da pulverização, ocasionadas pela sobreposição. “Hoje, mesmo com um pulverizador com desligamento por seção, gasto de 5% a 10% a mais do que deveria por causa do transpasse, em função da desuniformidade das áreas. Se fosse um equipamento com desligamento por bico, perderia no máximo 2%”, aponta, acrescentando que o problema ocorre também no plantio, seja por causa do transpasse e ou da falta de uniformização na densidade populacional.

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