Nove propriedades orgânicas são certificadas

Recentemente nove propriedades da região de Laranjeiras do Sul e Rio Bonito do Iguaçu receberam certificação de orgânica. Somente no assentamento Ireno Alves, em Rio Bonito, foram 4 famílias: Anildo e Maria Welter; Aldo e Olivete Scarsi; João Maria e Edite Velloso e Darci e Teresinha Lira. Eles receberam a visita da equipe do conselho de ética da Rede Ecovida, no mês de fevereiro.

Além do custo mais baixo com a produção, estes produtores poderão ganhar 30% a mais nas vendas para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Para ser certificada, a propriedade precisa atender a alguns critérios, que garantem que a produção seja feita de forma orgânica, como a desintoxicação do solo, o não uso de adubos químicos e agrotóxicos, a recomposição de matas ciliares, a preservação de espécies nativas e de mananciais.

Na prática

A produção de orgânicos é grande aliada à saúde, porém rival da demanda de produtos químicos, que geram bilhões por ano, sendo usados para eliminar pragas e cultivar plantas mais viçosas. Na modalidade orgânica, tanto de leite quanto de plantas, o bem estar é a prioridade.

Trabalhando em toda a cadeia produtiva, profissionais da Ceagro orientam e fazem visitas periódicas a diversos profissionais que trabalham em assentamentos da região. O trabalho começa no plantio do pasto e leguminosas que servirão de alimento para as vacas e envolve a criação de piquetes, condições de sanidade animal e distribuição do leite.

O casal Darcy e Terezinha Lira trabalha com orgânicos há cerca de oito anos, destes, cinco com orientação de profissionais da Ceagro. Darcy contou que há algum tempo sofreu com intoxicação por veneno e desde então partiu para a produção de orgânicos. Hoje o casal produz leite orgânico com o sistema de Pastoreio Racional Voisin (PRV), com apenas oito vacas.

“Trouxemos algumas vacas e percebemos que o leite era muito mais viável de lidar do que a roça. Faz cinco anos que trator não entra na minha terra. Os técnicos ajudaram muito. Nós até tínhamos o conhecimento, mas antigamente não era possível implantar, aqui como tem os técnicos eu imaginei que deveria ir para este lado e estamos fazendo”, contou Darcy.

Vantagens

A produção orgânica se destaca pela saúde que proporciona tanto a quem consome quanto a quem produz. Sem utilizar venenos ou agrotóxicos, o produtor orgânico tem até mesmo um custo menor do que o convencional.

“O convencional é mais complicado, tem mais risco, o investimento é maior, não que aqui não precise de investimento, mas a gente vai fazendo mais deliberado. O trabalho é bem maior, se você imaginar o que um trator faz, mas a questão da saúde nem se compara”, brinca Darcy.

A esposa de Darcy, Terezinha, acrescentou que agora passam anos sem ao menos ir no posto de saúde. 

Na coordenação da equipe da Ceagro há mais de um ano, Ciliana Federici disse que é comum encontrar propriedades que plantam grandes extensões. “O pessoal prefere comprar no mercado, não tem nem um pé de alface na horta. Você vê muita localidade em que o autoconsumo já não faz mais parte. Às vezes o que planta feijão, vende toda a produção e vai comprar do vizinho que não passa veneno”, ressalta.

PRV

O Pastoreio Racional Voisin (PRV) é a forma de criação de animais utilizada para otimizar a produção orgânica. Nesta modalidade são criados piquetes, que são pequenos espaços de terra, pelos quais as vacas passam diariamente.

O sistema funciona em forma de ciclo, sendo que até os animais voltarem a um piquete, já terão se passado, geralmente, mais de 30 dias, tempo suficiente para eliminar o ciclo de vida dos carrapatos e para que os próprios dejetos deixados pelas vacas adubem a terra e mantenham o pasto saudável.

Barreiras

Para ser considerada orgânica, um propriedade precisa ainda das chamadas barreiras vegetais, que são linhas com plantas (árvores, arbustos, cercas vivas e espécies nativas) de três a cinco metros de espessura.

Esta técnica funciona como um filtro, evitando que químicos utilizados em propriedades vizinhas contaminem o terreno orgânico.

Saúde animal

Na produção de leite orgânico o bem estar dos animais também é levado em conta. Darcy conta que o controle de berne e carrapato no sistema convencional é muito difícil. Quando passou a usar do sistema orgânico ele praticamente não teve mais problemas. “Se você fizer tudo certinho o gado nem doente fica, é difícil dar um caso de mastite”, completou Terezinha.

Ciliana lembra que em caso de doenças são utilizados tratamentos homeopáticos. “Temos um técnico que trabalha conosco e agora, com o prêmio da Nestlé, ganhamos um laboratório de homeopatia, que fará a manipulação e os outros técnicos distribuem os medicamentos”, explica.

A veterinária Silvia Andréa Gomes Dias lembrou que um dos grandes desafios de trabalhar o orgânico é porque a formação do veterinário é muito convencional. Ela falou ainda que, no assentamento, também é usada a fitoterapia, que é o uso de plantas medicinais.