Terça, 17 de Junho de 2025 - 11h23
Estudo mostra que contratação de crédito relacionado à sustentabilidade recuou no Plano Safra 2024/25
Levantamento da Agroicone revela que recurso de crédito rural “sustentável” contratado registrou queda de R$ 2 bilhões
DATAGRO
Estudo da Agroicone expõe uma redução nominal de R$ 2 bilhões em crédito rural sustentável até o terceiro trimestre desta safra 2024/25 em relação ao mesmo período da temporada anterior. Os dados revelam que R$ 52 bilhões foram contratados em operações classificadas como alinhadas à jornada de sustentabilidade, o que representa 22,8% do total do crédito rural desembolsado no período. Do total do recurso alinhado à sustentabilidade, R$ 29,9 bi referem-se a custeio e R$ 22,1 bi a investimento; enquanto R$ 46,2 bi se destinaram à atividade agrícola e R$ 5,8 bi à pecuária.
O elevado endividamento dos produtores, eventos climáticos adversos e a suspensão temporária da equalização de juros pelo Tesouro Nacional, em função do atraso na aprovação da Lei Orçamentária Anual, foram alguns dos fatores que contribuíram para esse arrefecimento da tomada de crédito.
Apesar da redução nominal, o dado indica um avanço proporcional do crédito em jornada de sustentabilidade, sugerindo uma trajetória de aprimoramento na alocação dos recursos com foco em impacto ambiental positivo. “O movimento acompanha a trajetória geral do Plano Safra, que no total dos recursos para custeio e investimento, fechou o trimestre com R$ 211,8 bilhões, R$ 36,1 bilhões a menos que o mesmo período de 2023/24. Apesar disso, mesmo com a queda do valor alocado para intervenções sustentáveis no período, é notável o aumento proporcional na comparação das safras 2024/25 com a 2023/24, tendo sido observado um crescimento de 2,4 pontos percentuais. Isso denota que o crédito contratado vem se qualificando mais com o tempo.”, explica Gustavo Lobo, um dos pesquisadores responsáveis pelo levantamento da Agroicone.
:: Bioeconomia é destaque entre recursos alocados
Mesmo diante desse cenário desafiador, Lobo observa que houve um crescimento na participação de linhas de crédito rotuladas como “sustentáveis”, especialmente no âmbito do Pronaf (Agricultura Familiar), que avançou 1,9 p.p., e registrou alta de 1,7 p.p. em médios e grandes produtores. A agricultura familiar, com o Pronaf, somou R$ 1,8 bi nos subprogramas com finalidade sustentável, o que responde por 22,9% do recurso em tais subprogramas. O maior destaque foi o subprograma Pronaf Bioeconomia, que totalizou R$ 1,7 bi no período, representando 91,2% do valor contratado dentre os subprogramas rotulados do Pronaf.
Outro destaque da edição é a alocação expressiva de crédito em práticas relacionadas ao melhoramento de solos e à aquisição de máquinas e implementos, reforçando o papel das boas práticas e da infraestrutura produtiva na transição para uma agropecuária de baixa emissão e mais resiliente.
Dentre os recursos para investimento alocados até o 3º trimestre da safra 2024/2025, R$ 7,9 bi foram contratados em programas/subprogramas com finalidade sustentável (35,7% dos R$ 22,1 bi de recursos para investimento). O RenovAgro consolidou o período com R$ 4,9 bi em contratação, o que representa 61,6% do recurso dentre tais programas. Neste meio, destacam-se o subprograma RenovAgro Manejo dos Solos, com R$ 1,8 bi, e o subprograma RenovAgro Plantio Direto, com R$ 1,5 bi alocados.
“A maior alocação de recursos em jornada de sustentabilidade se dá na prática Melhoramento de Solos, com 21,3% do crédito enquadrado no nível 5. Já nas fontes de recursos que financiam a sustentabilidade nota-se queda na participação das LCAs e um aumento nos Recursos Livres Equalizáveis, na comparação do acumulado entre as safras”, esclarece Lobo.
Sob a ótica da fonte de recurso, o boletim Crédito Rural em Jornada de Sustentabilidade da Agroicone identificou que as fontes mais utilizadas no período foram: Recursos livres equalizáveis (R$ 11,5 bi); Obrigatórios (R$ 6,9 bi); Letra De Crédito Do Agronegócio (LCA) - Taxa Livre (R$ 6,3 bi). Já no que diz respeito à variação, em relação ao mesmo período da safra anterior, destacam-se Recursos livres equalizáveis (176,3%); Poupança rural - Livre (129,9%); Letra De Crédito Do Agronegócio (LCA) - Taxa Livre (-54,3%).
Na finalidade investimento, os produtos enquadrados mais contratados foram Correção intensiva do solo (R$ 6,7 bi), Máquinas e implementos (R$ 2,8 bi), Pastagem (R$ 2,7 bi); enquanto no custeio, as culturas em destaque foram soja (R$ 10,1 bi), milho (R$ 5,1 bi) e café (R$ 3,6 bi).
“É importante salientar que existe um montante de recursos de investimento enquadrados na metodologia, mas que não estão contidos em programas/subprogramas rotulados. Isso se dá pelo fato de ser possível contratar recursos para uma finalidade sustentável em outros programas e subprogramas que não os rotulados”, acrescenta Vicari.
:: Necessidade de políticas direcionadas
A pecuária (R$ 5,8 bi), no entanto, segue com baixa participação, apontando para a necessidade de políticas mais direcionadas a essa atividade, historicamente associada a maiores impactos ambientais. “Foi possível identificar que o padrão da alocação do crédito ‘sustentável’ entre pecuária e agricultura não foi alterado de forma proporcional, com a pecuária tomando apenas 11% dos recursos em jornada de sustentabilidade (R$ 52 bilhões). Esta condição é outro alerta para a política de crédito, na medida em que é uma atividade com grande potencial para externalidades ambientais negativas, devendo ser um dos principais focos no processo de transição”, alerta Vicari.
:: Rio Grande do Sul lidera o crédito alinhado à jornada de sustentabilidade
A análise por Unidade da Federação revela que muitos estados ainda possuem fração bem pequena do crédito contratado em alinhamento a propósitos sustentáveis. Ainda assim, neste recorte, o Rio Grande do Sul lidera, em termos absolutos, o montante de recursos enquadrados até o período da safra, com R$ 11,2 bilhões. Na sequência, aparece Minas Gerais, que destinou um volume cerca de 27% menor que o Rio Grande do Sul ao crédito rural com potencial sustentável (R$ 8 bilhões). Em terceiro e quarto lugar, com montantes mais similares, estão Paraná (R$ 4,9 bilhões) e Mato Grosso (R$ 4 bilhões). São Paulo completa o Top 5 entre os estados que mais destinaram recursos, com R$ 3,3 bilhões alocados em jornada de sustentabilidade.
“Os dados mostram que 22 estados ainda possuem níveis abaixo de 30%, o que demonstra a necessidade de trabalhar a expansão deste tipo de crédito, incorporando também as peculiaridades territoriais, com olhar atento, por exemplo, à Amazônia”, pondera Lobo.
:: Um legado para a transição sustentável
Conhecer o tamanho do esforço empregado na transição produtiva que incorpora intensificação, baixa emissão de gases do efeito estufa e resiliência às mudanças do clima é de grande interesse, uma vez que permite maior transparência à política pública e seus impactos potenciais, além de melhorar a capacidade de posicionamento do Brasil no debate nacional e internacional. Neste contexto, entender como o crédito rural, principal instrumento de política agrícola no Brasil, vem exercendo papel primordial, não só na capacidade de incrementar a produtividade agropecuária, mas em propiciar as condições necessárias para o enfrentamento das mudanças do clima, é fonte crucial para o direcionamento de estratégias, entre todos os setores ligados à atividade.
“O entendimento do crédito rural como catalisador de intervenções voltadas à resiliência e transição produtiva é, portanto, fundamental. Por isso, a Agroicone se compromete a atualizar, trimestralmente, estes dados, contribuindo, desta forma, com o monitoramento e orientação para políticas públicas mais efetivas”, defende Vicari.
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