Quarta, 15 de Agosto de 2012 - 08h22
A participação do agronegócio no PIB gaúcho
O setor agropecuário do Rio Grande do Sul é o segundo mais importante do País, contribuindo com 11,8% da agropecuária nacional
universoagro
Adair Sobczak
De acordo com os últimos dados comparáveis de 2009 divulgados pela Fundação de Economia e Estatística, FEE/RS e pelo IBGE, o setor agropecuário do Rio Grande do Sul é o segundo mais importante do país, contribuindo com 11,8% da agropecuária nacional.
O setor participa com 9,9% do Valor Adicionado Bruto estadual, percentual maior que a média brasileira (5,6%) e maior que o peso do setor nos estados de maior PIB, como São Paulo (1,6%), Rio de Janeiro (0,5%), Minas Gerais (9,0%), Paraná (7,7%), Bahia (7,7%) e Santa Catarina (8,2%).
Martinho Lazzari, economista e pesquisador da FEE, explica que numa perspectiva sistêmica, entretanto, a influência do setor primário do Rio Grande do Sul no produto total expande-se além dos 9,9%. “O chamado complexo agroindustrial, que tem a agropecuária em seu núcleo, interliga-se com setores a montante, que fornecem insumos, máquinas e implementos e financiamento, e com setores a jusante, responsáveis pelo processamento e pela distribuição da produção agropecuária. O peso total desse sistema econômico pode chegar a quase um terço do PIB”, revela.
Ao impactar direta e indiretamente tão significativamente no PIB, o desempenho da agropecuária torna-se decisivo na explicação da evolução da economia do Estado.
Segundo a FEE, dos últimos 11 anos, em 10 vigorou a máxima de que, quando o produto da agropecuária gaúcha cresce acima da taxa do PIB gaúcho, o PIB do estado cresce acima do PIB brasileiro, e, quando ocorre o contrário, o PIB gaúcho expande-se menos que o nacional. “A relação pode ser vista tanto em anos em que a agropecuária do Rio Grande do Sul apresentou taxas positivas quanto em anos em que o setor decresceu. O único ano da série em que a relação não é encontrada é 2009, ano atípico em função da crise internacional, que afetou de forma mais direta a indústria”, destaca Lazzari.
Em 2011, o forte crescimento da agropecuária gerou efeitos positivos sobre atividades agroindústrias, como alimentos, fumo e máquinas agrícolas, impactando positivamente no comércio e setor de transportes e armazenagem, vinculados ao desempenho da agropecuária. “Os desempenhos da indústria e dos serviços do estado tendem a acompanhar mais de perto os respectivos desempenhos no âmbito nacional. A agricultura gaúcha, por outro lado, possui dinâmica mais própria, dado o efeito que o clima tem sobre sua produção”, aponta Lazzari.
Problemas climáticos
Quase que anualmente, os problemas climáticos afetam as lavouras de verão, aumentando a volatilidade da produção gaúcha, sendo que de 2001 a 2011, houve quatro quedas de produção no setor primário, motivadas por estiagens. Assim, as oscilações na trajetória agrícola (a pecuária é mais estáveis) acabam determinando as oscilações do PIB estadual em torno da média nacional. “A perda de participação da economia do Rio Grande do Sul na do Brasil nos últimos anos, concentrou-se em 2004 e 2005. De 2006 em diante, o peso do estado na economia brasileira mantém-se praticamente estável, já as quedas de 10,6% e de 17,4% nos anos de 2004 e 2005, afetaram negativamente toda a economia, fazendo com que o crescimento do PIB estadual fosse menor que o nacional”, destaca Lazzari.
Considerando que cerca de 20% da população gaúcha encontra-se no meio rural, e que a cada família existam mais duas pessoas ligadas ao agronegócio, o estado teria algo em torno de quatro milhões de pessoas vinculadas direta e indiretamente à agropecuária.Na opinião de Carlos Simm, diretor da Federação da Agricultura do Estado do Rio grande do Sul, Farsul, a explicação para a tradição e vocação do estado com o campo está no contexto histórico e na formação étnica do gaúcho, que remonta na formação dos Sete Povos das Missões. Na época, o índio, aculturado pelos jesuítas, aprendeu as lidas campeiras e o manejo com o gado bovino, o que culminou, posteriormente, no surgimento do período econômico das charqueadas, o que floresceu a indústria da carne para abastecer a demanda da corrida do ouro nas Minas Gerais.
“Como a pecuária era o alicerce da economia gaúcha, no início do século XX, houve as primeiras importações de bovinos europeus, dando início ao aprimoramento genético do rebanho bovino gaúcho, o que fez com o Rio Grande do Sul se tornasse, hoje, o celeiro de raças não zebuínas’, revela Simm.
As características climáticas e geográficas do estado foram importantes atrativos para povos de outros países, como os alemães, imigrantes precursores que chegaram ao estado em 1824, e que, através da educação e diversidade profissional, contribuíram para o início do processo industrial gaúcho. Posteriormente, chegaram os italianos, que formaram a indústria do vinho na Serra, seguidos de inúmeros outros imigrantes que ocuparam as terras que hoje são predominantemente agrícolas.
Simm comenta que, na época, a necessidade pela mecanização agrícola fez surgiu a indústria, tornando o estado, hoje, o maior fabricante de máquinas e implementos agrícolas, período em que começou também as articulações das classes produtoras, surgindo a Farsul, que hoje, com seus 85 anos é referência nacional na defesa dos interesses políticos do setor e, mais tarde, a Fetag, que representa os trabalhadores rurais. “As condições climáticas e os recursos humanos, fizeram do estado um expoente no desenvolvimento econômico diversificado. O espírito empreendedor do gaúcho, premido pela necessidade de buscar novas oportunidades, desencadeou a ocupação e o desenvolvimento agrícola do oeste catarinense e paranaense, do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, e, posteriormente, a Bahia e, hoje, o Maranhão e o Piauí”, destaca.
“Um dito popular diz que: quanto mais profundas as raízes, mais resistente é a planta. Se aliarmos as raízes históricas com a evolução tecnológicas, que vai do plantio direto à agricultura de precisão, teremos um caldo de cultura preparado para enfrentar as dificuldades”, ressalta Simm, Entretanto, o diretor da Farsul revela que a tradição tem o lado negativo: a acomodação. “É o caso da pecuária, que nos seus índices de produtividade, não evoluiu como a agricultura”, comenta.
O redesenho do agronegócio gaúcho, segundo Simm, passa pelo fortalecimento das cadeias produtivas, e um exemplo desta representação, pelo lado do produtor, é a Federacacite, entidade que congrega grupos organizados, chamados Clubes de Integração e Trocas de Experiências, CITEs. Desta forma, as demandas e propostas do setor têm um fórum representativo para encaminhamentos.
“A vocação gaúcha, por suas particularidades, é a produção diferenciada e com alto valor agregado. Assim, o setor público deve canalizar investimento em defesa sanitária (animal e vegetal), na integração de sistemas produtivos, na produção integrada e na rastreabilidade”, destaca, apontando que ao setor privado cabe investir nas Indicações Geográficas dos produtos agroindustriais. “Trata-se de uma certificação de procedência, muito usada na Europa, e na qual o Rio Grande do Sul é pioneiro”, afirma Simm.
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