Impactos da guerra Irã-Israel para o agro extrapolam questões relacionadas ao petróleo e fertilizantes

Como o agronegócio é um setor dolarizado, a guerra entre Irã e Israel também provoca impactos no segmento. A começar, obviamente, pelo preço do petróleo, já que o Oriente Médio é protagonista na produção, abrigando ainda a principal rota global de navios petroleiros, o Estreito de Ormuz - situado entre Omã e Irã - por onde passam cerca de 20% do volume total mundial da commodity. 

Com menor disponibilidade de petróleo, fretes rodoviários e marítimos aumentam, bem como sobem os preços de fertilizantes provenientes da fonte fóssil, em particular os nitrogenados, tipo do qual o Brasil é altamente dependente, elevando lá na ponta da cadeia os custos no campo. 

"Os preços do petróleo podem permanecer elevados (US$ 75-85 por barril do tipo Brent) enquanto durar o conflito, por semanas ou até meses", diz o economista-chefe da Argus, David Fyfe.

:: Fertilizantes 

Além da conexão direta com o preço do petróleo, no caso dos fertilizantes, o Irã e também o Egito também são grandes fabricantes diretos do insumo, e a tensão na região contribui para aumentar a incerteza quanto à oferta do produto.

"O Irã, por exemplo, é um grande fornecedor de ureia - 25% do total mundial -, que é essencial para diversas culturas agrícolas no Brasil. Qualquer interrupção nas exportações iranianas pode gerar escassez e elevação dos custos de produção, podendo mexer no planejamento da próxima safra, do ciclo 2025/26", afirma o gerente de inteligência e estratégia da Biond Agro, Felipe Jordy.

:: Commodities 

Entretanto, segundo o economista da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), Cláudio Brisolara, os impactos da guerra Irã-Israel para o agro vão além dos preços e disponibilidade de petróleo e fertilizantes, podendo mexer também no mercado de commodities, acentuando a volatilidade e afetando diretamente a precificação dos produtos agrícolas e de itens concorrentes. 

Brisolara explica que o encarecimento do petróleo pode, por exemplo, puxar para cima, pelo efeito de correlação, os preços de oleaginosas usadas para fabricação de biocombustíveis. O mesmo, ressalta ele, pode acontecer com o etanol, que por sua vez, influencia os valores do açúcar, e também o algodão que tem conexão direta com as fibras sintéticas advindas do petróleo. Ademais, Brisolara salienta que as exportações brasileiras de milho podem sofrer algum revés, já que o Irã é um grande comprador do grão brasileiro. "Das 34 milhões de toneladas que exportamos no ano passado, só o Irã comprou mais de quatro milhões."