Sexta, 08 de Março de 2013 - 07h52
Mulher maravilha
Assim devem ser chamadas as mulheres que assumem a missão de ser mãe e profissional
Revista Cana substantivo feminino
Luciana Paiva
A superexecutiva americana Marisa Mayer, no último mês de agosto, ao deixar o cargo de vice-presidente do Google e assumir a presidência da Yahoo, estava grávida de seis meses, na ocasião anunciou que duas semanas após o parto voltaria ao trabalho.
Esse descanso maternidade relâmpago de Marisa assusta até mesmo outras mulheres executivas. “Acho um exagero. Muitas mulheres estão se obrigando a voltar rapidamente ao trabalho após o parto e ainda supermagras, como se não tivessem tido filho. Eu tirei quatro meses de licença maternidade e amamentei”, conta Ana Paula Malvestio, mãe de Júlia de 10 anos e Sofia de 3 anos, e sócia da PricewaterhouseCoopers (PwC).
Exagerada ou não, essa atitude de Marisa é um exemplo dos meios que as mulheres estão encontrando para desenvolver a carreira, não perder as oportunidades profissionais e ao mesmo tempo serem mães. Missão que exige muito malabarismo para acompanhar os filhos, a casa e ainda desenvolver o trabalho na empresa.
Como administrar o lado mãe com o profissional?
Para desempenhar essa a missão, além de desenvolver superpoderes para solucionar as inúmeras situações que aparecem no dia a dia, a mulher necessita do apoio de profissionais competentes, boas escolas, e da família. Ana Paula está há quase 22 anos na PwC, iniciou como trainee e após se formar em Direito tornou-se colaboradora e a primeira mulher sócia da PwC na unidade de Ribeirão Preto. Lidera uma equipe com vários profissionais, tem inúmeros compromissos, viaja muito e nem sempre tem horário certo para retornar do trabalho. Para cuidar das filhas e possibilitar que mantenha sua rotina de trabalho, Ana conta com o apoio da Beatriz Ubine, que trabalha em sua casa há mais de 10 anos. “A Bia é imprescindível e já se tornou parte da família, é, inclusive, madrinha da minha segunda filha”, diz Ana.
Beatriz Rossi Resende de Oliveira, gerente Divisão RH- Usina Batatais S/A- Açúcar e Álcool, de Batatais, SP, casada e mãe da Laís, de nove anos, considera ser bem possível conciliar os dois papéis e diz que um fortalece o outro. “Mas, com certeza, ter uma estrutura de apoio e incentivo é fundamental”, salienta.
Equilibrar esta balança é um conflito comum à maioria das mães, diz a psicóloga Fabiane Maria Zat, diretora da Multi Training – Treinamentos & Consultoria, e mãe da Lara. Segundo ela, o equilíbrio entre o lado mãe e o profissional se dá de acordo com as necessidades profissionais e a percepção como mãe.
Na opinião de Cláudia Clavízio, gestora em Gestão Organizacional da Wiabiliza Soluções empresariais, as mulheres precisam elaborar uma estrutura para desempenhar de forma mais salutar essa dupla função. No caso de Cláudia, ela e o marido preferiram colocar o filho, Pedro, de sete anos, em uma boa escola em tempo integral. “O investimento daria para contratar uma profissional especializada para cuidar do Pedro, mas optamos pela escola, pois achamos que é mais produtivo, além da possibilidade da socialização”, explica. Na parte da manhã, o garoto estuda e à tarde faz as tarefas escolares, pesquisas, e atividades complementares como judô, além de recreação. “Mesmo com essa estrutura ainda preciso de meu marido para muitas vezes ir buscar e levar nosso filho. Os maridos precisam colaborar”, diz.
Tempos modernos
Beatriz observa que a mulher vem conquistando seu espaço na vida pessoal e profissional, não no sentido de ter poder igual ao homem, mas sim de poder conduzir sua vida de uma forma diferente da do passado onde as escolhas e possibilidades eram restritas. E policiadas. “Esta, para mim, foi a maior emancipação e como consequência disto ela pôde pensar em ter uma carreira estruturada, planejada, forte e impactante como os homens sempre tiveram”, ressalta.
Em sua visão, a mudança extrapola a questão da conciliação da vida pessoal e profissional. “As mulheres, ou melhor, os casais estão também revendo o tempo e as prioridades na formação de suas famílias. Casais estão casando mais tarde e demorando mais para ter filhos. E ainda optando por menos filhos. Dizem que a tendência em nível mundial, é que os casais vão planejar ter um filho somente ou até optarem não ter nenhum. Isto já está acontecendo. As pessoas têm se preocupado mais sobre o assunto filhos. Antes era algo natural e inquestionável. Agora não”, diz Beatriz que também se adaptou aos novos tempos: casou aos 36 anos e teve uma única filha aos 38. Ela confessa que sonhava ter pelo menos dois filhos, mas isto quando era mais nova e sua vida profissional ainda não estava estruturada da forma que caminhou.
A sociedade está se adaptando a esse novo cenário, salienta Cláudia e cita como exemplo a escola de seu filho que promove reuniões com os pais em horários que atrapalhem menos o trabalho deles, como das 7h30 ás 8h30 no máximo, ou então após as 17h30.
Cláudia não vê que esse quadro de mulher profissional será revertido e nem acha que deva ser. O que é preciso, em sua opinião, é encontrar o equilíbrio entre a função de mãe e de profissional. “É importante fazer com que a família admire e apoie essa condição de ser mulher, mãe, profissional. E a mulher tem essa habilidade de fazer tudo com maestria. O que precisa é saber dosar. Sei que me tornei uma mulher muito melhor depois que fui mãe, mas também sei que seria uma pessoa muito pior se não desenvolvesse meu lado profissional.”
Pinta culpa sempre
Segundo Cláudia, a culpa em “deixar os filhos” sempre pinta. “Achamos que estamos com saldo devedor. Que não estarmos a disposição para ouvir tudo o que têm para falar, de acompanhar seus momentos. Ao contratar uma babá estamos terceirizando o trabalho de mãe, isso é fato. Para reduzir a culpa eu faço um contraponto, coloco-me em uma posição de dona de casa e percebo o quanto eu seria frustrada com essa condição. Eu ia ser muito infeliz, pois gosto de trabalhar. Esse argumento me convence”, afirma.
“No começo é de doer e a gente perde o chão”, comenta Beatriz relembrando que depois que voltou da licença-maternidade pegou um projeto fora de São Paulo. “Teria de dormir duas noites fora de casa. Quis desistir e nessa hora, minha mãe me deu a maior força, meu marido também”, diz. Durante esse trabalho, conta que teve a oportunidade de conversar com uma mulher que lhe fez enxergar a situação de forma diferente. Beatriz confidenciou-lhe que estava tristonha e se sentindo culpada por ter deixado a filha tão novinha, então a senhora disse-lhe que a irmã dela largou a carreira para cuidar do filho e, um dia, ele perguntou à mãe por que ela não trabalhava como a tia? “Ela é tão legal....deve ser porque ela trabalha, não é?”, perguntou o garoto.
Questionar as mães é algo comum nos filhos. Ana Paula conta que sua filha Júlia perguntou por que ela não é professora como a mãe da coleguinha, que trabalha na escola das meninas, e, por isso, passa mais tempo com a filha. “Fui bastante sincera com ela, disse que ser professora não iria me fazer feliz, que gosto do que faço, que exercer a profissão que gostamos é fundamental. E quando ela crescer, poderá escolher a profissão que lhe faça feliz.”
Para Fabiane, a culpa e a preocupação aparecem mesmo e é preciso aprender a lidar com isso para não sofrer além do necessário. “Penso que sou uma boa mãe, me dedico ao máximo à minha filha, acompanho, curto, brinco, etc... e para continuar sendo uma boa mãe, preciso estar feliz, o trabalho faz parte da minha vida e me realiza”, diz. Para isso, Fabiane observa que procura, dentro do possível, focar no que está fazendo, trabalho ou vida pessoal, atendendo as situações por ordem de prioridade. Segundo ela, outro aspecto que ajuda muito é estar constantemente trabalhando o seu lado emocional, para reduzir a ansiedade e desenvolver a paciência e tranquilidade.
Beatriz conforta as mães de primeira viagem. “No princípio, quando eles são pequeninos tudo é mais difícil, mas depois com maior independência, tudo vai se encaixando. Por isto recomendo à profissional-mãe não desistir logo na primeira dificuldade. Esta fase passa e depois vem o equilíbrio.”
O importante é a qualidade, não a quantidade
Para reduzir a culpa, Cláudia diz que prioriza a boa qualidade de relação. “Na sexta-feira a partir das 18 horas eu sou de casa, fico com meu filho, saímos juntos, tomamos café da manhã especial. Eu sou dele, pintamos, desenhamos, assistimos filmes.”
A qualidade do relacionamento também é destacada por Ana Paula. “Os meus finais de semana são para as minhas filhas”, diz. E quando pode leva as meninas nas viagens de trabalho. Recentemente passou três semanas nos Estados Unidos e as filhas foram com ela, a babá Bia também. “Era ótimo voltar do trabalho e ficar com elas e curtirmos a viagem juntas”, conta.
As mulheres não deixarão de ser melhores mães e amar seus filhos porque estão trabalhando e fazendo carreira, afirma Beatriz. “O tempo dedicado e a qualidade e verdade da dedicação, são coisas distintas. Estar o dia inteiro com um filho, não quer dizer que sua relação com ele é melhor do que a da mãe que trabalha e tem menos horas de contato. A intenção, a doação, o amor, a responsabilidade em passar valores sólidos e atitudes éticas, isto sim faz a diferença.”
Fabiane conta que teve uma mãe muito presente e isso a inspira a ser também. “Gosto de acompanhar tudo, orientar, quando estou longe ligo várias vezes para saber se está tudo bem e também para que ela sinta que me importo com ela e que a amo. Outro aspecto importante que eu e meu marido procuramos manter é a leveza e a naturalidade disso, tornar tudo uma diversão, para que nossa filha se sinta segura e feliz.”
A mulher perde oportunidade de trabalho por ser mãe?
Na opinião de Beatriz, ninguém deixa de contratar um bom perfil se ele for uma mulher que um dia terá que se ausentar um pouco para ter filhos. As empresas no momento da seleção conversam abertamente sobre isto com as candidatas. Para ela, as empresas sabem que estar grávida não é indicativo de “corpo mole”, ausência, falta de compromisso e desempenho prejudicado. “A meu ver, muito pelo contrário, as mulheres querem estar bem, sair somente no final e deixar o espaço aberto para sua volta. A preocupação é voltar, continuar a realizar um bom trabalho e seguir em frente com sua carreira. Tudo isto sem perder o sentido e a dádiva de ser mãe.”
Em sua visão, a mulher não perde oportunidade. Pode ser que ela tenha que adiar alguns movimentos de evolução e conquistas. Mas é temporário. Beatriz salienta que boas profissionais e que fazem a diferença não perdem nada quando têm filhos. Quatro meses, algumas ausências e maior energia despendida para o filho num dado momento não faz nenhuma boa profissional ficar para trás.
. Empresas reinventam a gestão para atrair as mulheres
As mulheres estão assumindo, cada vez mais, postos até então ocupados pelos homens. Embora seja um importante avanço se compararmos ao cenário de 20 anos atrás, a desigualdade continua quando olhamos para os contracheques e para o topo da pirâmide. No Brasil, apenas 23% das mulheres estão em cargos de gerência, 12% em diretoria e 7% na presidência, segundo dados do Guia Você S/A-Exame – As Melhores Empresas para Você Trabalhar de 2010.
Essa baixa representatividade nos cargos de ponta ocorre porque há uma parcela significativa de mulheres que larga o emprego na faixa dos 35 anos por se sentir preterida nas promoções. E também existem as mulheres que preferem não subir quando percebem que, quanto mais alto o cargo, menos equilíbrio terão entre vida pessoal e profissional.
Preocupadas com essa "fuga", muitas empresas estão desenhando políticas para melhorar o ambiente de trabalho. "Perdíamos ótimas profissionais no meio do caminho, algumas depois de voltarem da licença- maternidade", afirma Armando Bordallo, diretor de RH da consultoria Ernst & Young Terco. Após uma pesquisa interna, descobriu-se que a principal razão delas pedirem demissão estava ligada a longas jornadas de trabalho. Foi então que a consultoria criou um programa de flexibilização de horários. Até a criança completar 1 ano, as funcionárias podem ficar em casa uma vez por semana. Durante o período da amamentação, é possível reduzir a jornada, além da opção do home office para aquelas que precisam se ausentar por um determinado período. Essas ações já renderam bons resultados. O número de mulheres na companhia dobrou nos últimos quatro anos e nos cargos de diretoria elas já são 30%.
A PwC, segundo Ana Paula, está entre as empresas que adotam essa política de oportunidades e incentivo a participação feminina. Metade do seu efetivo profissional é composto por mulheres.
Estender a licença maternidade para seis meses passou a fazer parte da política de algumas empresas, diz Beatriz, ressaltando que, a licença maternidade de quatro meses já é um privilégio das mães brasileiras, pois em vários países de primeiro mundo, inclusive, as leis são menos paternalistas e as mulheres retornam ao trabalho semana ou semanas depois de dar à luz.
Sobre a adoção do sistema de home office por um período ou horários, Beatriz comenta que isso acontece quando a função permite o trabalho à distância. Outra iniciativa é no retorno da licença as empresas fazerem horários mais flexíveis, principalmente àquelas que adotam banco de horas. Para Fabiane, sem dúvida há uma maior flexibilização em relação a atuação das profissionais -mães, a adoção de métodos como teletrabalho, as flexibilizações de horário para amamentação, as creches institucionais, entre outras inúmeras situações decorrente da filosofia de cada empresa.
No entanto, essa gestão facilitadora às profissionais que são mães ainda é restrita no meio empresarial, segundo Cláudia. Para ela, ainda está mais na teoria do que na prática. “Muitos acham lindo esse papel de mãe e executiva, gestora, mas na prática a realidade ainda é outra. As empresas sabem que o mundo mudou, mas existe um lado que é próprio do negócio que é a produtividade, resultado, e isso é uma exigência independente do profissional que ocupe o cargo, homem ou mulher”, diz. As mudanças, observa Cláudia, têm ocorrido menos pela vontade e mais por uma questão de necessidade de as empresas se adequarem para não perder as profissionais. “As empresam pesam a relação custo-benefício. Quanto maior sua estrutura, maior o cargo que a mulher ocupa e sua importância estratégica, mais a empresa é flexível”, salienta.
A profissional que é mãe agrega valor à empresa
Ao ser mãe, a profissional se torna mais completa, pois passa a ter maior capacidade de compreensão e responsabilidade, observa Fabiane. O que gera ganhos à empresa, pois estas profissionais acabam sendo mais objetivas e produzindo muito mais em menos tempo. Cláudia concorda e diz que a mulher que é mãe, normalmente, agrega muito valor ao trabalho. Porém, observa, que muitas empresas ainda não têm essa percepção sobre essas qualidades. “A mulher se torna mais sensível, proativa, aumenta a habilidade para girar um monte de pratinhos o dia inteiro, ou seja, se virar para conciliar as várias tarefas em menos tempo.”
As empresas hoje estão brigando por bons potenciais e profissionais que vão contribuir de fato para o sucesso delas, sejam homens ou mulheres, salienta Beatriz. Com isto elas vão querer ter, manter e valorizar mulheres que se destacam em suas carreiras, diz Beatriz, concluindo que: “ser mãe não é um problema, é uma competência agregada à bagagem que ofertamos às empresas.”
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