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Sexta, 08 de Março de 2013 - 08h45

Chega de força bruta

Desenvolvimento tecnológico, treinamento e novos métodos de trabalho aumentam a presença de mulheres em cargos habitualmente ocupados por homens

Revista CanaOnline

Estar atrás do volante é a grande paixão de Marta

José Roberto Maia

Durante os quase 500 anos de atividade no Brasil, os serviços ligados à agroindústria canavieira estavam ligados à força física, a ambientes rústicos, a jornada exaustivas e horários noturnos. Esse ambiente era um obstáculo para a presença de mão de obra feminina nas usinas. Mas o desenvolvimento tecnológico, novos métodos de trabalho, mudanças na legislação trabalhistas e treinamento passaram a abrir espaço para as mulheres em territórios masculinizados. Se antes o menor potencial físico era um desculpa para diferenciar os trabalhadores das trabalhadoras nas usinas, hoje, com a ajudinha da modernidade, não há mais quem segure o antigo sexo frágil.

Um exemplo de que várias barreiras entre homens e mulheres caíram por terra, pelo menos nas usinas, vem da Renuka do Brasil, especificamente da unidade de Promissão, SP. Marta Rodrigues de Souza Avelino trabalha na empresa há doze anos. Começou como fiscal de uma turma de migrantes baianos, na lavoura, foi conferente, e depois ocupou outras funções. Com o tempo, mostrou seu valor. Hoje é líder de tratos culturais, comandando uma equipe de 25 homens. “A minha frente de trabalho é uma das mais elogiadas. Sempre que precisam colocar algum funcionário na linha, mandam pra mim. Endireito na conversa. Sabem que sei conversar e transmitir o que deve ser feito”, relata Marta, que utiliza de sua característica feminina para ganhar a confiança e melhorar a performance  dos comandados.

Paixão pelas estradas – Aos 40 anos, Marta não se acanha caso precise, no dia a dia de sua frente de tratos culturais, pilotar um trator ou caminhão. Ao contrário: estar atrás do volante é a sua grande paixão. Inclusive, sempre que necessário busca de caminhão cargas de herbicida e inseticida para aplicação na lavoura. Ela gosta tanto das estradas que, nas horas vagas na usina, por várias vezes, transportou bois de carreta até o Mato Grosso do Sul. “Desde cedo nunca gostei de ‘servicinho’ mais de mulher. Sempre gostei mesmo de serviço mais masculino”, confessa.

Ela começou a lidar com máquinas e caminhões na Renuka em 2003. Segundo ela, os homens sempre a respeitaram muito na empresa. “Não recebo cantadas, nem ouço piadas. Ao contrário, minha equipe forma uma frente bem harmônica.”

“As conquistas alcançadas pelas mulheres são surpreendentes e inovadoras...”, observa Cinthia

Ao comparar com os tratores e caminhões de antigamente, Marta reconhece que a tecnologia evoluiu muito. “Facilita muito inclusive para as mulheres operarem esses equipamentos.” Mas, segundo ela, nada substitui a força de vontade. Uma mulher disposta a ter sucesso enfrenta de tudo, mesmo que tenha de se adaptar.  Com o tempo, a empresa percebe a contribuição diferenciada que o sexo feminino oferece ao trabalho, como o jeito de liderar e de tomar decisões. “Não me troco por nenhum homem que trabalha na usina”, desafia.

Ela se sente realizada no trabalho que desempenha na Renuka, onde é popular entre os colegas. Tanto que, a cada eleição da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), da usina, é eleita para a presidência. Mas e o futuro? Ela quer crescer profissionalmente, mas revela que tem como sonho mesmo voltar para a estrada. “Como líder de turma ganho até mais, mas gosto mesmo é de pilotar grandes composições. Nos meus sonhos, até me vejo dirigindo um treminhão canavieiro por essas estradas.”

Tempo de conquistas - Para Cinthia Xavier de Lima, gerente de Recursos Humanos da Usinas Itamarati, MT, as mulheres, via de regra, são mais focadas, disciplinadas, organizadas, responsáveis, fiéis. “Assim, todas as tarefas que exijam este perfil podem ser muito bem desenvolvidas pelas mulheres, como por exemplo, funções administrativas e de análise.”

Entretanto, como Cinthia frisa, não se pode restringi-las a isto, pois os cargos de produção e operacionais podem e estão sendo ocupados cada vez mais por empregadas do sexo feminino e são exatamente estes talentos que fazem a diferença nos resultados apresentados por elas.

A busca de oportunidades iguais entre homens e mulheres tem um papel importante no novo balanceamento entre carreira e vida pessoal, tanto para os pais quanto para as mães. É uma nova forma de ver a vida e não apenas um estilo de gestão. “As conquistas alcançadas pelas mulheres são surpreendentes e inovadoras e esta é uma realidade que precisa ser considerada nas empresas, e de todos os setores.”

De acordo com ela, na Usinas Itamarati, há uma meta estratégica do RH: incluir e capacitar mulheres. Dentro dessa premissa, a empresa desenvolve ações de geração de renda às mulheres da comunidade e esposas e filhas de empregados da empresa, além de qualificá-las profissionalmente através de instituições.

“Os resultados são cada vez melhores quando a mão de obra feminina se alia com a masculina”, diz Vera

Além disso, Cinthia afirma que nos últimos anos a Itamarati elevou o número de contratação de mulheres em cargos habitualmente ocupados por homens, embora seja difícil precisar em qual proporção. Mas para isso, tiveram ajuda da tecnologia. “Com a evolução tecnológica, muitas tarefas antes destinadas aos homens por demandarem força física, passaram a ser executadas por ambos os sexos, pois a tarefa foi automatizada. Agora podem ser desenvolvidas pelo trabalhador que atenda aos pré-requisitos técnicos para a função”, explica Cinthia.

Segundo ela, na Usinas Itamarati não há diferenciação entre cargos masculinos e femininos. Mas reconhece: algumas funções são escolhidas preferencialmente pelas mulheres, por demandarem pouco ou nenhum esforço físico e até por questões culturais. Por exemplo, cargos ligados à manutenção, que utilizam ferramentas, óleos e graxas e também alguns ligados a operações, tidos como essencialmente masculinos, não são da preferência feminina, “embora atualmente possuamos em nosso quadro mulheres eletricistas, mecânicas e operadoras de máquinas, o que tem evoluído a cada ano”.

Mulheres incomodam - já é possível encontrar mulheres ocupando funções de destaque em todas as áreas.  É o caso de Ângela Aparecida dos Reis, técnica em processos industriais na Usina da Pedra. Durante a safra trabalha no laboratório de pagamento de cana pelo teor de sacarose (PCTS), realizando análises para a avaliação da matéria-prima (cana-de-açúcar). Já na entressafra, atua no robotec, realizando soldagens nas camisas das moendas, preenchendo de chapisco para melhorar extração do caldo da cana.

São tarefas que, segundo ela, uma mulher pode desempenhar tranquilamente. Requer apenas que esteja capacitada para o cargo. “Hoje muitas mulheres realizam trabalhos que antes apenas homens conseguiriam fazer. Com o desenvolvimento tecnológico e treinamento é possível realizar muitas tarefas.” Para ela, basta a usina oferecer a oportunidade que as mulheres têm toda condição de responder à altura.

Ângela Aparecida dos Reis é técnica em processos industriais na Usina da Pedra

Mulher de garra

Outro exemplo de que o sexo feminino está se firmando no setor também vem da Usina da Pedra.  “As oportunidades de formação técnica nesse processo não estão restritas somente aos homens, as mulheres estão ganhando muito espaço atualmente”, relata Vera Lúcia Fidelis, responsável pela gestão de laboratórios e qualidade da Usina da Pedra.

Ela trabalha na usina desde 1977. Na época, ela concluía o curso de Química quando encontrou na empresa para estagiar no controle de qualidade. Acabou sendo contratada, mas lembra que a trajetória não foi simples. “Naquela época não era fácil conseguir esta oportunidade que me foi dada, pois em área industrial de uma usina não era comum ter uma mulher trabalhando em função técnica, muito menos mulheres negras.” O que marcou o ingresso de Vera na indústria, na época, foi uma fala do gerente industrial: "você me parece uma mulher de garra".

E, segundo Vera, o gerente da usina tinha razão: a garra é uma característica feminina, que associada à sensibilidade, gera  um comprometimento que chega até incomodar os homens. “Vi muito isto na minha vida.” Na opinião dela, a mulher consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo, acertando detalhes e organizando trabalhos que dão resultados positivos. “Mas os resultados são cada vez melhores quando a mão de obra feminina se alia com a masculina, juntando as qualidades de todos, buscando o trabalho em equipe para benefício da empresa.”

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