Investir em lideranças

José Roberto Maia

Uma nova fase de crescimento, semelhante à vivida na década passada, é o que mais o setor sucroenergético deseja no momento. Mas será que as empresas estão preparadas para esse novo boom?

Para Beatriz Resende de Oliveira, gerente da Divisão de RH das Usinas Batatais e Lins, para os grupos passarem por uma nova fase de crescimento precisam investir muito em formação de lideranças e gestores. “As empresas terão de olhar para suas equipes de gestão, que precisam ser fortalecidas com ganho de qualidade.”

Beatriz prossegue, salientando que hoje se fala muito em escassez de mão de obra, inclusive na cadeia sucroenergética. “A meu ver, a maior escassez não está na mão de obra técnica, mas na gestão e liderança. O que adianta ter muitos profissionais com curso técnico, formação universitária, se quando chega à usina esses profissionais não têm um modelo forte para conduzir o trabalho como de fato deve ser feito”, explica.

Foco em gestão de liderança – Segundo Mário Íbide, da Suppra Consultoria, se tiver uma única verba no RH da usina, “eu a investiria na qualificação de gestores e de liderança. Uma das maiores contribuições do RH é a qualificação das lideranças”.

Para ele, o que se encontra muito hoje é um RH operacional, mas que às vezes nem faz o básico. “Temos que melhorar a capacitação na área.” Ele salienta que as usinas nunca tinham se deparado com a falta de gente e o baixo nível de desemprego no país. O que segurava o pessoal na empresa era salário, hoje não é só o salário.” Caso os profissionais do RH não sejam preparados, são incapazes de formar, incentivar e reter os colaboradores da empresa.

Beatriz concorda. Para ela, as usinas precisam ter foco em gestão de liderança. Caso contrário, vão faltar líderes gestores preparados para os desafios do futuro. “Inclusive temos profissionais que são excelentes tocadores de processos, mas é diferente quando falamos em retenção de pessoas. E um dos pontos que fazem pessoas ficarem, além de bom salário, dos benefícios e do ambiente de trabalho satisfatório, que são quesitos básicos, são as pessoas para quem elas trabalham. Admirar ou não as cheias, esse é ponto de retenção ou não nas empresas”, relata.

Menor conflito - O contexto das relações trabalhistas no Brasil é o pior possível. Essa é a opinião de Rober Renzo, gerente de RH da Açúcar Guarani. “O nosso país privilegia a tutela do Estado, sem liberdade para negociação, o que é diferente de qualquer País. Essa liberdade pressupõe maior entendimento, mas no Brasil o que existe é uma indústria do conflito.”

Resultado: na empresa, a falta de espaço faz com que o sindicato adote perfil preciosista. “Nesse processo de negociação sindical, qual o papel da liderança?”, indaga.

José Darciso Rui, diretor executivo do Gerhai (Grupo de Estudos em Recursos Humanos da Agroindústria), lembra que na gestão da organização do trabalho e das negociações trabalhistas, a figura da liderança é muito importante. “Em qualquer negociação trabalhista, por exemplo, tem um líder, tanto patronal como profissional.”

Mas é preciso estar claro o que é a liderança. Para Renzo, a função e o papel do líder é fazer com que as necessidades da empresa sejam cada vez mais coincidentes com a necessidade do colaborador. “Quando isso ocorre, temos ambiente de menor conflito.”

Fotos de: Rafael Cautella