Segunda, 20 de Agosto de 2012 - 15h15
Um show audiovisual nos carreadores de cana
Na época do carnaval, os cortadores de cana de Pernambuco, trocam o podão pela lança, fantasias e instrumentos musicais, e promovem o show do maracatu rural
Universoagro
Luciana Paiva
Em Pernambuco, a mistura da cultura dos brancos, negros e índios, resultou em um diversificado cardápio cultural, que oferece ritmos seculares como o pastoril, baianas, cavalo-marinho, caboclinho, folia de reis e tantos outros mais. Segundo historiadores, da fusão desses diversos folguedos, principalmente os da região canavieira do Estado, surgiu o Maracatu Rural ou Maracatu de Orquestra ou ainda Maracatu de Baque Solto.
Trata-seum ritmo rápido de chocalhos, percussão unissonora e acelerada do surdo, acompanhada da marcação do tarol, do ronco da cuíca, da batida cadenciada do gonguê, do barulho característico dos ganzás, um solo de trombone, e outros instrumentos de sopro que, juntos, dão ao conjunto características musicais próprias e bem diferenciadas dos maracatus de Baque Virado ou Nação. Ao contrário desses maracatus tradicionais, que têm suas origens em cortejos de reis africanos, o maracatu Rural, tem suas origens na segunda metade do século XIX e possivelmente seja uma transfiguração dos grupos chamados Cambindas (brincadeira masculina, homens travestidos de mulher). Historiadores ressaltam que a palavra maracatu, provavelmente, origina-se de uma senha combinada para anunciar a chegada de policiais, que vinham reprimir a brincadeira, a senha era anunciada pelos toques dos tambores emitindo o som: maracatu/maracatu/maracatu. Na linguagem popular, a palavra maracatu é empregada para expressar confusão; desarrumação; fora de ordem, dando respaldo ao pressuposto da origem dessa palavra. Na África não existe nada parecido com o nosso maracatu.
O maracatu rural desfila num círculo compacto, tendo ao centro o estandarte, rodeado por baianas, damas-de-buquê com ramos de flores de goma, boneca (calunga) de pano ou plástico e caboclos de pena. Rodeando este primeiro círculo vem os caboclos de lança, que se encarregam de abrir espaço na multidão, com seus saltos e malabarismos, com as compridas lanças, como a proteger o grupo e as lanternas de papel celofane que, geralmente vem representando o símbolo da agremiação.
O caboclo de lança é o personagem principal – com suas lanças de mais de dois metros de comprimento, feitas de madeira com uma ponta fina e uma enorme cabeleira de papel celofane cobrindo o chapéu-de-palha, o rosto tingido de urucum ou por outras tintas, lenço estampado cobrindo a testa, camisas e calças de chitão, meiões e sapatos de lona, o caboclo de lança tem o destaque de sua indumentária (que chega a pesar 25 quilos) na gola bordada e no surrão. A gola de sua fantasia, feita em tecido brilhante, de cores vivas, é totalmente rebordada com vidrilhos e lantejoulas. A gola representa o maior orgulho e a vaidade do caboclo de lança, sendo quase sempre confeccionado por sua companheira, durante o ano inteiro, sendo fruto de todas as suas economias. O Surrão é como se fosse uma bolsa, é confeccionado em couro de carneiro, cobrindo uma estrutura de madeira, onde são presos chocalhos, sendo colocado na altura das nádegas, daí também chamar-se estas figuras de bunda-alegre e bunda-de-guiso, provocando um barulho forte e primitivo quando da evolução dos caboclos de lança. Esses personagens místicos do maracatu representam a figura do guerreiro de Ogum.
A época do carnaval é justamente temporada da safra canavieira em Pernambuco, os cortadores de cana trocam as enxadas, os podões, as roupas de trabalho e os chapéus de palha do dia-a-dia pelas fitas coloridas das lanças dos caboclos. O carnaval chega transformando tudo e figurando os rostos de cor e alegria. É tempo de maracatuzar na terra do maracatu rural. Os cortejos cortam aquele mundaréu de cana, seguem pelos carreadores ligando engenho a engenho até tomarem as ruas das cidades como: Goiana, Nazaré da Mata, Carpina, Palmares, Timbaúba, Vicência, e a até Recife é brindada com a festa do maracatu que sai da roça.
A terra do maracatu – a cidade de Nazaré da Mata é considerada a terra do maracatu, lá existem cerca de 30 agremiações, há um centro cultural onde esse ritmo é divulgado, e esta em construção o parque do lanceiro, um teatro de arena para exibição do maracatu, será um “maracatuzódromo”.Também é em Nazaré da Mata que vive o mestre Barachinha, um repentista do maracatu. Sim, além do colorido, da profusão de instrumentos musicais e da exibição dos personagens, a cantoria também faz parte do maracatu rural, na verdade, os mestres de cada agremiação travam batalhas por meio de versos ritmados, quem tem mais criatividade e fôlego vence a batalha que chega a durar horas.
Durante muito tempo, o maracatu chegou a ser hostilizado, pois além de ser uma expressão popular criada por escravos e ex-escravos, havia um duelo entre os caboclos de lança. Na competição dos lanceiros, alguns perderam a vida. Para piorar, muitas vezes a festa era utilizada para facilitar roubos. O personagem Catita ou Calunga seguia pela Zona da Mata visitando as residências para ver quais aceitariam receber a festa do maracatu. Quem aceitava tinha o privilégio de ter um espetáculo artístico na porta de casa. Enquanto isso, a Catita aproveitava a distração dos moradores, e furtava comida e bebida.
Quando os cortejos do maracatu se encontravam nos carreadores de cana tinha início uma batalha performática entre seus integrantes, que normalmente atravessava a noite. Para ter maior resistência, os caboclos faziam uso de uma mistura de limão com pólvora, o ato ilegal era denunciado pelo vermelho intenso que manchava os olhos, os óculos escuros começaram a ser utilizados para disfarçar a transgressão, e acabou por fazer parte da indumentária.
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