O almoço da sucuri

Walter do Valle

A bezerrinha nelore bebia água tranquilamente num corixo do rio
Araguaia quando surgiu silenciosamente uma sucuri, coisa espantosa,
perto de sete metros de comprimento. Assustada, a rês até tentou
correr, mas a grande serpente pegou-a de jeito, num salto com a
precisão da russa Yelena Isinbayeva.

Em segundos a cobra se enrolou no tórax da bezerrinha e começou o
estrangulamento. A novilha soltou um berro lamentoso, ouvido pelos
peões que lidavam com vacas leiteiras no curral da Fazenda Porto Alegre, região de Crixás, GO, município de São Miguel do Araguaia. A sucuri já triturava a coitada quando chegou galopando o peão Aristides, mais conhecido por Zóio Preto.

Apesar do susto diante do quadro, sacou o laço e o mandou viajar
certeiro até a cabeça da cobra, ao mesmo tempo em que fez o cavalo
quarto-de-milha girar 180 graus e iniciar a operação
“desenrola-bezerra”. O laço teimou, cobra e bezerra foram arrastadas
por cerca de dez metros, mas a boiúna não desgrudava do almoço de
jeito nenhum.

Aí chegaram os outros peões, que caíram de pau em cima dela. Mas já
era tarde. A cabeça roxa de sangue, a língua de fora e os olhos
esbugalhados revelavam a morte prematura da nelore.

A cena, digna dos filmes de Hitchcock, foi assistida de perto pelo
comprador de boi Wagner José Augusto, de Barretos,SP, que fez a
foto, cedida pelo corretor de fazendas Zezé Santana.
O couro da sucuri ornamenta a sala de visitas da Fazenda Porto
Alegre para quem quiser conferir. O fazendeiro jura que até hoje reses
e garrotes continuam desaparecendo misteriosamente. Dizem que no rio
Araguaia tem mais sucuri que piranha.

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