Aumenta o fechamento de usinas em Pernambuco
O fechamento de usinas e os canaviais abandonados fazem de Pernambuco o exemplo sintomático do colapso nacional do setor
Universoagro
Clivonei Roberto
“Saudosos tempos em que a maior usina do setor sucroenergético da América Latina estava localizada em Pernambuco. Estou falando da Usina Catende, situada na Zona da Mata Sul do Estado. Atualmente, ela se encontra fechada, assim como outras unidades na região Nordeste, somando-se a dezenas no País. Muitas fecharam nos últimos anos. Isso é sintomático. É preciso aparecer um médico urgente para curar este mal”, salienta Alexandre Andrade Lima, presidente da União Nordestina dos Produtores de Cana (Unida) e da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP).
Alexandre informa que somente na área Sul pernambucana, onde o cultivo de cana sempre foi maior que a porção Norte, já fecharam a Companhia da Usina Barreiros, Santa Terezinha e a Destilaria São Luiz nos últimos cincos anos. E para elevar a estatística do problema sistemático da falta de política pública para o setor, a Usina Pumaty – empresa com um parque industrial dos mais modernos do Estado, conhecida pela qualidade do seu açúcar, fechou as portas este ano, ampliando o caos socioeconômico.
“Existe um colapso por falta de ação governamental. Só não vê, quem não quer”, observa o dirigente, contanto que a Usina Barreiros, por exemplo, foi a primeira a encerrar a atividade na Zona da Mata Sul de Pernambuco. “Vale ressaltar que a empresa pertencia ao grupo Othon e possuía umas das terras mais produtivas do Estado, com chuvas regulares e uma boa topografia. Contudo, 35 mil hectares foi desapropriado para reforma agrária, onde não se produz quase nada, a não ser cana-de-açúcar.”
A Catende morre aos poucos
Voltando ao caso da emblemática Usina Catende, Alexandre observa que mesmo com todo o envolvimento político no passado do ex-governador Miguel Arraes de Alencar (PSB), avó do atual governo Eduardo Campos (PSB), para deixar a unidade funcionando, ela se encontra num processo falimentar. “Todavia, não poderia ser diferente, visto a interferência política, com a desapropriação coletiva dos engenhos da usina; de administrações desastradas de alguns síndicos que por lá passaram; de dinheiro público sendo mal usado, ocasionando até a prisão de um de seus síndicos.”
O parque industrial da Catende, nestes últimos dois anos, por várias vezes foi a leilão, mas o Poder Judiciário ainda não conseguiu vendê-lo. Porém, enquanto o tempo passa, alerta Alexandre, as terras desapropriadas da usina, que produziam cana, estão abandonadas e o mais impressionante é que estão sendo invadidas por terceiros.
Canaviais vão virar pastagens
No caso da Pumaty, diz Alexandre, a usina moeu na última safra, porém já avisou que deixará de moer este ano, e, dificilmente moerá novamente, visto as dificuldades vividas por todo o setor sucroenergético nacional. “A única esperança é apoiar-se na fé. Digo acreditar que possa aparecer um empresário para assumir uma das melhores usinas do estado”, observa. Contudo, se o pior acontecer, igual a dezenas de outras usinas nordestinas e no Brasil, fechando as portas, mais 12 mil hectares de terras da Pumaty, deixarão de produzir e mais um parque industrial ficará ocioso, sem produzir açúcar e etanol, gerando instabilidade social na região.
Para Alexandre, infelizmente, a tendência do uso das terras das usinas fechadas, seja da Pumaty, seja de outras unidades em Pernambuco e no Nordeste, é de se transformarem em pastagem. O pior é que isso já é uma realidade, afirma ele. “A economia da região é fortemente afetada por tal processo, visto que a pecuária não emprega tanto, portanto, não distribui renda. Porém, nos parece que o governo está dormindo e não ver o que está acontecendo.”
A área total da Zona da Mata de PE é de aproximadamente 1,2 milhões de hectares – mesorregião tradicional e propícia ao cultivo da cana estadual. Desta, somente 310 mil hectares estão sendo utilizadas pelo setor canavieiro. Alexandre observa é que 100 mil hectares dessas terras onde ainda se produz cana de açúcar resulta de terras desapropriadas para reforma agrária. É justamente onde está a maioria dos pequenos produtores pernambucanos. Eles representam 95% de toda a classe de fornecedores de cana do Estado.
Políticas equivocadas
“É notória e sistêmica a crise do setor sucroenergético, como pudemos observar. No entanto, é escandalosa a causa do problema, oriunda em grande parte de políticas equivocadas do Governo federal. O exemplo clássico é o subsídio dado à gasolina – combustível fóssil, poluente e finito. O reflexo negativo é direto no desinteresse do consumo do etanol – combustível renovável e não poluente, que perde em competitividade”, lamenta-se Alexandre.
Com o etanol menos competitivo, cresce o interesse do consumidor pela gasolina subsidiada e a redução da demanda, obriga as usinas a produzir mais açúcar do que o combustível. Isso provoca um excedente na produção do açúcar, diz Alexandro, salientando, que atualmente, o excedente de açúcar equivale a 12 milhões de toneladas no mundo. O que promove pressão de baixa dos preços do açúcar no mercado mundial e interno, agravando ainda mais a crise vivida pelo setor sucroenergético.
O dirigente destaca também o papel dos governos estaduais diante da situação. “Em Pernambuco a situação é de paralisia. O governo se limita a distribuir cestas básicas para os trabalhadores, como se fosse resolver o problema. Ficamos impressionados com o desprezo governamental dado ao fechamento das usinas do Estado, que, por unidade, emprega juntos aos seus fornecedores de cana independentes, cerca de 8 mil empregos. Por outro lado, o governo se esforça para trazer fábricas de outros segmentos que empregam 100 ou 200 pessoas.”
No entanto, também existem exemplos positivos de governos estaduais quando se fala em políticas públicas para o setor sucroenergético. Alexandre destaca como exemplo o estado de São Paulo. “Basta observar o ICMS do etanol. Enquanto em PE o imposto é de 25%, inviabilizando o seu consumo, no Estado paulista é de 12%. Outro bom exemplo de participação de um governo estadual pode ser verificado no Ceará. O Estado adquiriu a Usina Manuel Costa em leilão, a fim de revitalizar a produção de açúcar e etanol no Estado.”
Com esses exemplos, Alexandre observa que tudo é possível acontecer nos estados e no país, porém, somente quando se deseja. “Esperamos que as boas ações governamentais a favor do segmento sucroenergético ocorram em tempo hábil. Entretanto, a bem da verdade, vale salientar que o tempo não para!”
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