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Quinta, 25 de Abril de 2013 - 01h45

Exclusivas uagro

Gigantes do açúcar e etanol debatem perspectivas no XI Seminário Guarani

Jacyr Costa, diretor presidente do Grupo Guarani, definiu o momento atual como um tempo para investir em produtividade e eficiência

Renê Arruda e Drielly Santana

Nesta quarta-feira, 24, foi realizado o XI Seminário Guarani, evento organizado pelo grupo de usinas Guarani S/A. O evento, que contou com a presença de autoridades, como a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Monika Bergamaschi, e outros ilustres, discutiu os cenários e perspectivas para os mercados de açúcar, etanol e energia.

O diretor presidente do Grupo Guarani, Jacyr Costa, discursou na abertura do seminário assegurando que o setor de açúcar e etanol tem muito a crescer e contribuir pra o desenvolvimento do país. Costa definiu o momento atual como um tempo para investir em produtividade e eficiência, sinalizado como motivo principal a provável recuperação de competitividade do etanol.

A Guarani, terceira maior processadora de cana do país, elevou sua estimativa de produção de etanol no ciclo 2013/14 para até 700 milhões de litros, em meio ao cenário mais favorável para o biocombustível após elevação da mistura e medidas de apoio do governo anunciadas na véspera.

Cenário econômico

Para definir o cenário econômico no qual esta inserido o setor sucroenergetico, e consequentemente os desafios e perspectivas para o setor, foi convocado Ilan Goldfajn, economista chefe e sócio do Itaú Unibanco. Segundo ele, o status atual do mundo é marcado ainda pelas consequências da crise financeira de 2008, resultando em pouco crescimento na União Europeia e principalmente EUA, e causando dificuldades para investimentos externos e comercio internacional.

Especificamente para o Brasil, o executivo citou que há um paradigma entre expectativas e realidade na economia, exemplificado pela alta inflação acompanhada de PIB baixo. "As perspectiva de crescimento para 2013 são positivas, mas com sinais mistos. O investimento volta a estar em alta no primeiro trimestre, porém com pouca disseminação. O mercado de trabalho tem índices próximos ao pleno emprego, o que leva a aumento real de salario, porém ainda falta mão de obra", afirma.

Goldfajn acrescenta que a disseminação da inflação é atualmente entre 65% e 70%, ou seja, quando há aumentos de preço, 7 de cada 10 produtos ou serviços acompanham a alta. "Nossa inflação tem um pé na geladeira e outro no fogão. Os serviços sobem acima de 8% ao ano enquanto industria esta estagnada em 2% a anos".

O economista chefe do Itaú Unibanco destacou as desonerações como elemento positivo na política atual, pois estas "contribuem para eliminar a inflação no curto prazo, e deveriam ter foco em fomentar investimentos, porque demanda o Brasil já tem". De acordo com ele, a desoneração do etanol é para gerar lucro que será revertido em investimentos, sem foco em incentivos ao consumo. A desoneração de produtos e setores correspondeu a 0,3% do PIB em 2012, e deverá subir para 1,3% em 2013, atingindo 1,7% no ano seguinte.

Em termos gerais, para o Brasil, os maiores desafios para o setor estão no custo da mão de obra, infraestrutura, produtividade e menor contingente de trabalhadores, resultando portanto em menor contribuição do trabalho. "A solução, portanto, é investir mais".

Políticas públicas

Elizabeth Farina, presidente da Unica, seguiu com as discussões sobre o setor sucroenergetico, destacando que, neste cenário, políticas publicas são essenciais para o desenvolvimento. "Um dos ativos mais importantes que o setor possui no Brasil é a frota flex, correspondente a aproximadamente 57% do total de veículos leves do ciclo Otto. Isso reflete o tamanho da demanda de combustíveis. Não existe lugar nenhum no mundo que energia renovável não dependa de políticas publicas". Segundo ela, para atender a demanda de etanol em 2020 caso queiramos manter o pais na mesma colocação que hoje, e considerando as regulações de incentivo a combustíveis renováveis nos EUA e UE, a safra do Centro Sul deverá subir para 1,2 bilhões de toneladas de cana moída. A safra atual estimada pela Datagro atingirá 584,5 milhões de toneladas de moagem na mesma região, demonstrando claramente o salto produtivo necessário. Segundo ela, a melhor maneira de estimular energia renovável é taxar as energias fósseis.

"No passado tivemos muitas conquistas e desafios, como o motor flex, a mistura de etanol à gasolina, financiamento aos produtores e a política de preços. Para chegarmos ao futuro de forma competitiva precisamos agora investir em bioeletricidade, lutar pela redução de impostos e manter regras de longo prazo, acrescentando previsibilidade", contou Farina.

Governo

O componente político faltante foi acrescentado pelo premiado jornalista Merval Pereira, membro do conselho editorial das Organizações Globo. "Políticas publicas para etanol e outros produtos ou setores tem relação com o calendário eleitoral. A presidente Dilma não tem intenções de realizar as reformas necessárias na economia para elevar competitividade, e mesmo que tivesse estas intenções não poderia por lhe faltar apoio", comenta. De acordo com ele, a base aliada do governo no legislativo, compondo aproximadamente 70% do total de deputados e senadores, foram negociadas para proteção do governo, e não aprovação de emendas e projetos. O jornalista acredita que as próxima eleições serão muito influenciadas pelo estado da economia nacional, preocupando a presidente a ponto de surgir a hipótese de se trocar o Ministro da Fazenda, Guido Mantega. "No entanto, se o Ministro for substituído por um outro economista, este certamente seria menos subordinado às decisões da presidente, o que preocupa o governo do PT". Pereira concluiu a palestra comentando que aparentemente o governo brasileiro tem se atentado mais ao setor de energia e o estado da economia, e resta questionar o que poderá ser feito nesta segunda metade do mandato de Dilma Roussef.

Petróleo barato

O sócio diretor do CBIE, Adriano Pires, atribui a perda de interesse no etanol pelo governo em anos passados à possibilidade do mundo estar prestes a iniciar um novo ciclo de crescimento econômico baseado em petróleo e derivados. "Petróleo e gás natural não convencionais,  originários de fontes como tight oil, areias betuminosas, reservas no Ártico, pré sal e xisto, podem ser extraídos por preços mais atrativos que combustíveis renováveis. Aproximadamente 80% destes combustíveis fosseis não convencionais são viáveis para extração com custo de até US$ 70,00/ barril", afirma. Segundo ele, o mundo entrará em um ciclo de petróleo e derivados relativamente baratos entre 2015 e 2017, e que a própria crise financeira favoreceu este quadro. "Ainda é mais barato e de menor risco investir em combustíveis fosseis não convencionais". Sobre o Brasil, o sócio diretor conta que até 2008, ano da crise financeira internacional e anúncio do pré sal, havia incentivo forte ao desenvolvimento sucroenergetico. "O presidente Lula, na época, foi convencido que tínhamos uma Venezuela sob a terra, então o governo esqueceu o etanol. E, com a crise, havia necessidade de estimular a industria. Para vender automóveis foram feitas desonerações, e neste momento que começou o congelamento do preço da gasolina, inviabilizando o etanol", comenta. De acordo com Pires, este cenário contribuiu inclusive para insolvência do setor de energia como um todo, incluso aí o sucroenergetico.

Adriano Pires reconhece, no entanto, que a safra 2013/14 é um momento de recuperação para o setor, e que o governo tem se atentado mais ao setor. A combinação de aumento de produção, volta à mistura de 25% de etanol na gasolina, reajuste de preços e desoneração sinaliza um ano positivo para usinas e produtores.

Pires comenta que os principais caminhos para solucionar os problemas enfrentados pelos produtores é manter o ambiente de negócios previsível e respeitar leis de mercado.

Safra 2013/14

Especificamente sobre a safra brasileira, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, diretor da Canaplan, apontou as principais incertezas com relação a safra 2013/14 no Brasil. As perspectivas a curto e médio prazo na indústria sucroalcooleira giram em torno de fatores determinantes, e a capacidade de moagem depende muito da amplitude da safra. As principais barreiras que o setor enfrenta giram em torno da tecnologia e o manejo, a influência de políticas públicas, o grau de intensidade fólica. Ainda ressaltou a preocupação com a logística e os custos, a flexibilidade das fábricas, a questão da variação climática e o mix de produtos. Durante toda a palestra ele deixou claro que não acredita que seja possível fazer projeções imutáveis de safra, por conta do clima que muda constantemente e afeta as operações.

Durante a palestra demonstrou que a mecanização subiu de 46% na safra 2008/09 para 87% na safra 2013/14, no Centro-Sul, e estas adaptações implicam uma série mudança profundas no setor que irão contribuir para aumento da eficiência no médio prazo, mas neste momento os benefícios não ficarão evidentes. Finalizou pontuando o incentivo ao investimento no setor sucroalcooleiro como uma necessidade imediata.

Dr. Plínio Nastari, presidente da Consultoria DATAGRO, encerrou o Seminário  comentando o cenário de etanol para demanda de médio a longo prazo. Não vê dilemas no setor, apenas desafios a serem vencidos e ressaltou a preocupação com a proximidade da independência energética dos EUA e respectivas consequências geopolíticas para o preço do etanol.

A estimativa da DATAGRO para a safra 2013/14 caiu de 587 milhões de toneladas para 584,5 toneladas no Centro Sul. Para o Norte/Nordeste a estimativa é de 50,5 milhões de toneladas. O fator determinante para essa redução foi o excesso de chuva nas lavouras. Nastari ainda pontuou a falta de definição do governo para o setor, exemplificando a instabilidade na participação da mistura do etanol no ciclo Otto.

De acordo com o presidente da DATAGRO, houve falta de investimento em expansão de capacidade de moagem, embora tenha havido investimentos em ampliação da flexibilidade industrial. A consultoria estimou a demanda da cana até 2023 em três cenários diante da proporção de frota flex. Com um crescimento de 20% será necessário 1,04 bilhões de toneladas de cana. Com 40% 1,22 bilhões de toneladas e para um aumento de 60% na frota, 1,39 milhões de toneladas de cana serão necessárias para suprir a demanda.

Dr. Plínio destacou que o ritmo na expansão do setor poderia ser maior caso houvesse mais compromisso do governo, gerando com isso mais empregos e renda.

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