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Segunda, 26 de Agosto de 2013 - 09h13

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Para produtores, grãos é melhor negócio que erva-mate

Bom preço atual pago pela erva-mate não anima produtor, que vê maior rentabilidade na produção de grãos

Universoagro

Em 10 anos, Rio Grande do Sul perdeu nove mil hectares de ervais.

Texto e fotos:  Adair Sobczak

O redesenho no setor produtivo da erva-mate não é uma peculiaridade apenas do Brasil. Nos últimos anos, a Argentina e o Paraguai, também têm passado por um processo de readequação da atividade, envolvendo a produção e a área de cultivo.

No Brasil, á área cultivada apresentou um avanço em 2011 na comparação com 2000, porém, a produção mostrou uma queda significativa. Realidade contrária no Rio Grande do Sul, onde nos últimos 10 anos, a produção aumentou, mas, a área reduziu em 22,5%, pois muitos produtores abandonaram o cultivo, uma vez que o valor pago pela arroba sequer cobria os custos de produção.

De acordo com a Emater/RS-Ascar, em 2011, o Brasil colheu 443,5 mil toneladas de erva-mate, volume oriundo de 71.185 hectares, desempenho inferior ao registro em 2000, quando a produção ficou em 522 mil toneladas, somando 69.029 hectares colhidos.

Na Argentina, a produção da safra 2011 atingiu 779 mil toneladas em uma área de 202 mil hectares, uma redução na comparação com 2000, quando ficou em 814 mil toneladas, embora a área colhida de 178 mil hectares.

No Paraguai, a produção atingiu 85,49 mil toneladas em 2011, frente a 58,75 mil toneladas em 2000. No entanto, a área colhida foi de 18.299 hectares, uma redução significativa em relação a 2000, quando eram 31.609 hectares.

“Interessante verificar que o país que reduziu a área, foi o que elevou a produção e a produtividade. Tivemos um acréscimo de área colhida e uma redução na produção de folha no Brasil e na Argentina, enquanto o Paraguai reduziu a área colhida e aumentou a produção”, ressalta Ilvandro Barreto de Melo, engenheiro agrônomo do Escritório Regional da Emater/RS-Ascar, de Passo Fundo, RS.

Embora a redução de 15% na produção e o incremento de 20% na exportação na década passada, os preços permaneceram estagnados e só manifestaram reação após a estiagem em 2012/2013 e o ataque severo da giropsyla spezianinanna (ampola da erva-mate) na primavera/verão, que causaram perdas ao redor de 25%. “Somando os 25% das perdas, mais os 15% da redução na produção da folha e os 20% do incremento das exportações na década, apontamos um excedente de 60%, para o equilíbrio de oferta e demanda. Sem contarmos a importação brasileira que em 2000 foi de 13.184 mil e, em 2010, de 5.676 mil toneladas”, revela Melo, comentando que, em 2000, o superávit exportado foi de 13.371 toneladas, enquanto em 2010 atingiu 27.468.

Redução de área no Rio Grande do Sul

No Brasil, a queda na produção reflete o descaso e a falta de políticas voltadas à produção por parte dos governos e das indústrias, o que desmotivou o produtor a investir em tecnologias de produção e manejo das lavouras existentes, muitas das quais, ainda em fase extrativista. Um cenário que nos últimos anos passou a contrastar com o avanço de outras atividade agropecuárias, como o cultivo de grãos e a pecuária leiteira, o que mudou a realidade de muitas propriedades, principalmente no Rio Grande do Sul.

Lavouras de soja avançam em áreas que eram dedicadas ao cultivo da erva-mate.

Há 10 anos, a erva-mate cobria 40 mil hectares no estado gaúcho, hoje, está em 31 mil. A área reduziu, mas a produção apresentou um leve acréscimo, passando de 245 mil toneladas em 2002 para 272.719 em 2012. Isso, porque muitos dos produtores que permaneceram na atividade passaram a ver a erva-mate como uma atividade econômica, e não meramente de extrativista ou de subsistência. Com isso, está havendo um ganho em produtividade, que, hoje, fica em 589 arrobas/ha, embora ainda muito baixo frente ao real potencial.

“Mais válido numa eventual falta de folha é o incentivo a um bom manejo nos ervais já existentes que a corrida desenfreada ao incremento da área plantada, mesmo porque, o custo da implantação beira a R$ 5 mil o hectare”, revela Melo, destacando que outro entreva a novos plantios é a falta de material genético adequado.

“Precisamos ter muita cautela com incentivo a formação de novos ervais, aumento de área e propagação de viveiros, até porque não temos material genético disponível, nem mudas aptas quantitativa e qualitativamente confiáveis”, explica.

Bom preço atual não anima

Mesmo com a alta no preço da erva-mate, muitos produtores, especialmente os que já cultivaram a planta, não têm boas lembranças da atividade quando analisam o contesto histórico. “Hoje, o preço está bom! Mas, até quando?”, questiona o produtor Marcelo Comin, de Soledade, RS.

Comin revela que, na década de 90, as indústrias incentivaram o plantio alegando que haveria um aumento nas exportações e que a erva-mate seria um bom negócio. “Em 1995, começamos a plantar as lavouras, chegando em 2000 com 22 hectares formados. Mas, hoje, temos apenas dois!”, destaca.

O produtor comenta que, quando iniciou o plantio, o valor da arroba estava em R$ 5,10, época em que o tarefeiro cobrava R$ 0,50 por arroba, o litro do óleo diesel custava R$ 0,30 e a saca de adubo era vendida por R$ 11,00. “Porem, em 2003, vendemos a arroba por R$ 3,20, valor que se manteve até 2007, subindo para cerca de R$ 6,50 até 2011, ano em que a mão de obra representava 30% deste preço e a saca de adubo oscilava entre R$ 60,00 e R$ 70,00, o que motivou a destoque da maior parte das lavouras, iniciado ainda em 2009”, observa Comin.

Ademir Corbellini, engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, de Soledade, comenta que este não é um caso Isolado no município, e sim, uma realidade vivida por muitos produtores na última década. “Em 2003, a área com ervais no município era de 700 hectares, atividade que entrou em declínio e que atualmente soma apenas 300 hectares”, revela.

Na opinião do produtor, o preço de hoje deveria ter sido praticado desde 2000, o que teria feito os agricultores investirem no cultivo, pois teria dado certa rentabilidade frente as custos de mão de obra e produção. “Não me arrependo de ter arrancado as lavouras, pois com o leite e os grãos ganhei muito mais, uma vez que a erva-mate só deu prejuízo”, afirma Comin.

Produtor Marcelo Comin: "Não me arrependo de ter arrancado os ervais".

Segundo a Emater/RS-Ascar, Soledade tem hoje aproximadamente 100 produtores de erva-mate, sendo a grande maioria, com pequena produção e produtividade de 600 arrobas por hectare. “Em cerca de 90% dos casos, os produtores deixaram de plantar a erva-mate para produzir grãos, em especial a soja”, revela Corbellini.

Comim observa que, quem lucrou com a erva-mate até então foram as indústrias, o produtor só teve prejuízos. “Muitas empresas começaram do nada e, hoje, são grandes agroindústrias. Já o produtor acabou quebrado”, critica.

Conhecendo bem o setor, Comin revela que, para ele, a erva-mate é coisa do passado, uma vez que, hoje, com a produção de mecanizada grãos, com cerca de 30 dias ele faz todas as lavouras, e sozinho. “Com a erva-mate, eram necessárias até 12 pessoas na época de colheita, e que tinham que ser pagas”, aponta, alertando que, em função dos atuais preços, muitos produtores investirão no cultivo, o que aumentará a produção e fará a história se repetir.

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