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Quinta, 22 de Agosto de 2013 - 13h39

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Dispara o preço da erva-mate

No Rio Grande do Sul, por exemplo, o preço da arroba saltou de R$ 6,50 na safra passada para R$ 22,00 nesta temporada, uma variação de 238,5%

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Baixo preço da arroba motivou a destruição das lavouras.

Texto e fotos: Adair Sobczak

Este ano, os adeptos do tradicional chimarrão estão sentindo um gosto mais amargo na hora de matear e não é por causa do sabor, e sim, por causa do alto preço do produto.

A explicação para a alta vem do campo. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o preço da arroba saltou de R$ 6,50 na safra passada para R$ 22,00 nesta temporada, uma variação de 238,5%.

O motivo é a falta de matéria-prima, reflexo da destruição das lavouras de erva-mate, motivada principalmente pelo baixo preço da arroba, que até a safra passada sequer cobria os custos de produção.

Hoje, quem comemora são os produtores que, mesmo com as crises, continuaram apostando no cultivo. Já para o setor produtivo, o momento não é apenas de comemoração, e sim, para que o atual modelo produtivo seja repensado pela cadeia produtiva, para que erva-mate deixe de ser vista como uma atividade extrativista.

Na região do Alto Vale do Taquari, o cultivo da erva-mate esta distribuído em 23,1 mil hectares espalhados por 11 municípios, que, juntos produzem 207,9 mil toneladas da folha, o que 40% da produção estadual. “Isto, levando em conta a produtividade media de 600 arrobas por hectare ano, desempenho ainda baixo frente ao real potencial produtivo, que pode chegar a 1,8 mil arrobas/ha, como tem se observado em algumas propriedades da região”, revela Jurandir José Marques, presidente do Pólo Ervateiro da região do Alto Vale do Taquari.

"É preciso que o produtor busque a tecnificação da produção", diz Marques

Os baixos índices em produtividade refletem a visão tradicional do cultivo da planta, ainda calcada na baixa adoção de tecnologia no manejo cultural, realidade que, segundo Marques, começa a dar sinais de mudança. “Muitos produtores têm a erva-mate como uma atividade extrativista, de base complementar na renda familiar. Porém, eles têm observado que não dá para atingir eficiência produtiva e lucratividade agindo de forma amadora. Assim, acredito que, hoje, cerca de 50% dos agricultores estão partindo em busca da tecnificação da produção”, explica o dirigente, destacando que as características de solo, clima e altitude da região são extremamente benéficas ao cultivo da erva-mate na região, atividade presente em cerca de cinco mil pequenas propriedades, com média de cinco hectares de lavoura cada.

Entre os municípios que se destacam na produção estadual, esta Ilópolis. Das 780 propriedades rurais do município, 775 cultivam-se ao cultivo da erva-mate, atividade que, segundo dados do IBGE, cobre 9,2 mil hectares, sendo sete mil em produção, o que representa um volume anual de cerca de 42 mil toneladas da folha.

Extrativismo

Segundo dados da secretaria de Agricultura e Meio Ambiente do município, em 2012, a erva-mate ficou em terceiro lugar na arrecadação econômica, atrás da avicultura e da suinocultura. No entanto, em função do aumento do preço da arroba, a expectativa é que ela atinja a primeira colocação em arrecadação na composição do valor adicionada em 2013.

Mesmo com a importância da erva-mate no contexto socioeconômico e ambiental da região, Marques revela que uma das dificuldades e a questão organizacional do setor produtivo. “Temos que buscar estratégias para que todos ganhem na cadeia produtiva”, aponta.

Para que isso ocorra, segundo ele, não adianta haver apenas políticas nacionais e estaduais para o setor – que mudam conforme os governos. “O que precisamos é de políticas regionais voltadas à produção e que integrem toda a cadeia produtiva, pois sem estas, dificilmente a produção de erva-mate migrará do extrativismo para a profissionalização, pois enquanto setores como a suinocultura, ou mesmo a pecuária leiteira avançaram, a erva-mate ficou estagnada”, afirma.

E o grande reflexo deste descompasso dos elos da cadeia produtiva, segundo o presidente do Pólo Ervateiro é a atual falta de matéria-prima, o que ocasionou a disparada nos preços.

“Os preços da erva-mate ficaram estacionados por vários anos – enquanto da soja só aumentaram –, o que motivou o baixo investimento no cultivo e a destruição das lavouras, hoje, cobertas com a soja. Assim, o resultado não poderia ser outro: escassez na oferta e preços recordes”, aponta Marques, comentando que também ocorreram problemas fitossanitários, além de climáticos, como as geadas, mas, que o grande responsável pela erradicação das lavouras foi o preço, pois ninguém trabalha de graça.

Quem permaneceu n atividade comemora

Com a atual conjuntura, quem comemora são os produtores que permaneceram na atividade, principalmente os que investiram na atividade, como Deonildo Irineu Gasparin, que, aos 72 anos faz questão de podar pessoalmente seu erval de 25 hectares no interior de Ilópolis, atividade que herdou de seu pai. “Primeira vez na vida que vejo um preço assim!”, comemora.

Elton Gasparin e a esposa, Emília: "graças à erva-mate conquistamos uma melhor qualidade de vida".

Com uma produção anual ao redor de oito mil arrobas, a expectativa para esta safra é receber entre R$ 22,00 e R$ 25,00 a arroba. “A indústria já garantiu que pagará o preço do dia da entrega, independente se ficar neste valor ou subir se subir mais”, comenta Elton, filho de seu Deonildo.

No entanto, embora os preços estejam recordes, Gasparin destaca que esta variação não é boa para os produtores. Primeiro, porque gera uma falsa expectativa, que pode trazer frustração com a queda das cotações. “Outro ponto, é que se tivéssemos um preço estável, entre R$ 18,00 e R$ 20,00 a arroba (corrigido de acordo com os custos) em todas as safras, teríamos uma garantia de produção e renda. Assim, não sabemos quanto vamos ganhar no próximo ano”, observa.

"Precisamos de preços estáveis em todas as safras", diz Gasparin.

Em 2012, a família recebeu R$ 8,00 pela arroba, valor que cobriu apenas os custos de produção. “Nesta safra, o custo de produção está ao redor de R$ 9,00, o que significa que teremos uma boa rentabilidade frente ao preço de venda”, comemora Emília, nora de seu Gasparin.

Em grande parte, o sucesso da família se deve à persistência e dedicação ao cultivo, pois mesmo diante das crises vividas pelo setor, Gasparin tem ampliado a área em dois mil pés por ano, pois o objetivo, é atingir 35 hectares de lavoura.

“Com a erva-mate temos uma melhor qualidade de vida, pois não usamos produtos químicos. Graças à folha, reformei a casa, comprei um trator e em casos de necessidades médicas, primamos pela rede particular, sem contar que trabalhamos de segunda-feira à quinta-feira. Os outros dias são para descanso e outras atividades”, revela Gasparin.

Arvorezinha está feliz

Em Arvorezinha, município vizinho a Ilópolis, a erva-mate está presente em cerca de 1.000 das 1.386 propriedades rurais. Segundo o IBGE, são cultivados 6,8 mil hectares, sendo cinco mil em produção, o que representa um volume anual de 50 mil toneladas. “Hoje, a produtividade media está em 10 toneladas por hectare/ano, o que significa um incremento no índice de mais de 40% nos últimos cinco anos. Isto, graças e investimento em adubação e tratos culturais”, revela Cleber Schuster, técnico da Emater de Arvorezinha, município que ostenta o título de Capital Nacional da Erva-Mate.

Schuster comenta que, em 2006, a arroba era vendida por cerca de R$ 4,00, passando para R$ 6,50 entre 2007 e 2012, atingindo R$ 22,00 em agosto deste ano. “O motivo da alta é a falta de matéria-prima, pois o baixo preço levou muitos produtores a erradicarem as lavouras e investirem na soja. Outro fator é o custo e a falta de mão de obra braçal, diferente da soja, que é tudo mecanizado e vem mantendo uma boa remuneração”, explica.

No entanto, com a alta no preço da arroba o cenário se inverteu. Schuster contabiliza que um hectare de erva-mate, que rende sete toneladas/ano no corte intercalado, dá hoje, uma receita bruta de R$ 10.266,00, e que, descontado o custo de produção de R$ 3 mil, resta R$ 7.266,00. “Na soja, mesmo com o bom preço, se o produtor colher 60 sacas/ha, ao valor de R$ 58,00, dá R$ 3.480,00, o que significa um lucro liquido de R$ 1.740,00, praticamente um quarto da receita obtida com a erva-mate”, destaca, comentando que se o preço permanecer nos atuais patamares haverá uma retomada no plantio.

Com a retomada dos preços, o produtor Ângelo Meazza pretende investir no plantio de novas áreas.

Em 2000, com o preço animador, o produtor Ângelo Roman Meazza, de Arvorezinha, investiu no plantio de quatro hectares e, após vários anos de prejuízos, finalmente comemora seu investimento. “Na safra passada ganhei, pela erva-mate no pé, R$ 5,20 a arroba. Hoje, está R$ 20,00, frente a um custo de produção de R$ 2 mil”, comemora.

A cada dois anos, Meazza colhe 19,5 toneladas de por hectares, o que representa 9,75 mil kg/ano, produtividade fruto de investimentos na adubação com cama de aviário e limpeza das lavouras. “Mesmo tendo pouca terra, pretendo plantar mais um hectare, ou talvez até comprar mais áreas para investir na cultura”, revela, acrescentando que, há 30 anos, mil arrobas de erva-mate compravam um carro zero, cenário que volta a se configurar.

No entanto, embora a retomada nos preços, o setor se depara com um problema já conhecido por outros segmentos do agronegócio: a falta de mão de obra. “Na década de 90, o custo do tarefeiro era de R$ 0,50 a arroba. Hoje, está em R$ 3,00 e não tem gente para trabalhar, mesmo dando um bom dinheiro, pois quem colhe 50 arrobas/dia, ganha R$ 150,00”, aponta.

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