Sexta, 05 de Outubro de 2012 - 13h54
Ex-capital do gado vira rainha da celulose
Em dois meses, a cidade de Três Lagoas (MS) vai abandonar definitivamente a alcunha de capital do gado e adotar um novo sobrenome: a da capital mundial de celulose.
Folha de São Paulo
Marianna Aragão - enviada especial a Três Lagoas (MS)
Com a inauguração da fábrica da Eldorado Brasil, em novembro, o município atingirá uma capacidade para produzir três milhões de toneladas de celulose por ano.
É a maior capacidade de produção da matéria-prima em uma única cidade no mundo.
Uma mudança radical na vocação econômica do município sul-matogrossense que, até a década de 90, abrigava um dos maiores rebanhos de gado do país, de um milhão de cabeças.
O investimento de R$ 6,2 bilhões do grupo da J&F se soma ao da concorrente Fibria, que inaugurou em 2009 uma fábrica na região com capacidade para produzir 1,3 milhão de toneladas ao ano.
Os novos projetos fazem parte de uma onda de investimentos que invadiu a cidade nos últimos oito anos.
Nesse período, R$ 12 bilhões foram aplicados em projetos como o da multinacional Cargill, que inaugurou em agosto uma fábrica de biodiesel, ou da Votorantim, que inicia as atividades de uma siderúrgica em novembro.
Já a Petrobras constrói uma fábrica de fertilizantes que consumirá R$ 4,25 bilhões e começa a operar em 2014.
PIB CHINÊS
O capital que chegou à cidade por meio dos projetos industriais fez o PIB local dobrar entre 2005 e 2009.
De lá pra cá, quando se intensificou o fluxo de investimentos, a produção de riqueza da cidade cresceu outros 300%, segundo a Secretaria do Desenvolvimento do Estado (o IBGE não divulgou o PIB de 2010 e 2011).
A cidade tenta se acomodar ao novo patamar de terceira maior economia do Estado. Nas ruas do centro, o comércio cresce e se sofistica para atender aos cerca de 15 mil novos habitantes.
São trabalhadores das fábricas -só na construção da unidade da Eldorado Brasil, há 13 mil pessoas envolvidas-, executivos trazidos para coordenar as operações fabris e profissionais de cidades vizinhas que buscam uma oportunidade na agora efervescente Três Lagoas.
"A cidade vive o pleno emprego há quatro anos", diz Marco Garcia, secretário municipal de desenvolvimento.
Até um projeto de aeroporto foi desengavetado e deve ser concluído até o fim do ano, na expectativa de receber um voo da Azul a partir de São Paulo.
A companhia aérea diz estudar a possibilidade.
A ascensão econômica de Três Lagoas é em boa parte justificada pela vantagem logística do município, que está próximo de rodovias, hidrovias e ferrovias. Também atraíram as empresas os incentivos fiscais dos governos, como doação de terrenos e isenção de ICMS.
"A cidade tornou-se uma alternativa para empresas que precisam sair de São Paulo, por exemplo, onde o custo de mão de obra é mais elevado", diz Ana Cláudia Utumi, sócia da área tributária do escritório Tozzini Freire.
Fartura de terras permite plantar florestas mais perto da fábrica
A logística trimodal (ferrovia, hidrovia e rodovia) e os incentivos fiscais são apenas algumas das características que atraíram as fabricantes de celulose para Três Lagoas.
A fartura de terras no nordeste de Mato Grosso do Sul também explica o interesse.
A disponibilidade permite que as florestas de eucaliptos, matéria-prima da celulose, sejam plantadas próximas às fábricas, reduzindo o custo de operação.
"Essas facilidades trazem reduções de custos importantes para a produção de uma commodity", diz José Carlos Grubisich, presidente da Eldorado Brasil.
A área de plantio potencial na região chega a 6 milhões de hectares, segundo informações do município.
Por causa da expansão da indústria, muitos donos de terras, que por muito tempo se dedicaram à criação de gado, hoje estão arrendando terras para o plantio das florestas de eucalipto.
Projeto prevê aparato logístico de R$ 800 milhões
O executivo paulista José Carlos Grubisich pode ser considerado um especialista em assumir negócios ainda verdes, mas com gigantescos potenciais de expansão.
Foi assim quando foi chamado, em 2002, para comandar a Braskem, a então recém-criada petroquímica da Odebrecht.
A situação se repetiu seis anos depois, quando foi convidado a iniciar as atividades da ETH Bioenergia, braço de açúcar e etanol do grupo.
Em fevereiro deste ano, Grubisich tornou-se presidente da empresa de celulose Eldorado Brasil, da holding J&F (dona do frigorífico JBS), com o mesmo desafio: a primeira fábrica da companhia, um projeto de R$ 6,2 bilhões em Três Lagoas (MS), só inicia as atividades em novembro.
O executivo terá de liderar uma operação complexa, que inclui, além da unidade industrial, um aparato logístico composto por vagões, terminais e barcaças próprias, utilizadas para escoar a celulose em ferrovias e hidrovias até o porto de Santos. O investimento na área logística soma R$ 800 milhões.
"Como mais de 90% de nossa produção vai para o mercado internacional, tivemos de montar uma estrutura extremamente competitiva", diz Grubisich.
Apesar da dependência das vendas externas, o executivo diz não temer a crise européia
"O mercado de celulose continua crescendo cerca de 3% ao ano. O consumo de papéis de uso sanitário, como lenços, é baixo em países da Ásia, onde vamos focar."
A ausência de investimentos no setor nos últimos - reflexo de outra crise, a de
2008 - também deve favorecer os negócios da Eldorado, acredita. "A demanda continuou crescendo, mas os projetos pararam."
O plano da companhia é triplicar a capacidade de produção em Três Lagoas em 2021, atingido 5 milhões de toneladas por ano.
"Começaremos a trabalhar nisso no dia seguinte à inauguração."
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