Incertezas na regulação do biodiesel reduzem projeção de esmagamento de soja para 2022

As estatísticas atualizadas do complexo soja no Brasil até setembro de 2021, divulgadas, nesta quinta-feira (11), pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), confirmam queda no processamento do grão devido às reduções da mistura de biodiesel no diesel comercial. 

Em setembro, o esmagamento atingiu 3,3 milhões de toneladas, inferior às 3,4 registradas no mês anterior e contra 3,7 observadas em julho e junho. Entre janeiro e setembro, o esmagamento acumulado (ajustado pelo percentual amostral de 84,5%) diminuiu 1,7% em relação ao mesmo período de 2020. 

:: Próxima safra 

A primeira projeção para a safra 2022 também foi divulgada. A avaliação da Abiove com base na inteligência de mercado de suas associadas indica nova safra recorde de soja de 144,1 milhões de toneladas, esmagamento de 48,0 milhões de toneladas e exportações de soja em grão de 92,1 milhões de toneladas. Também é esperado um volume recorde de exportação de farelo de soja da ordem de 17,7 milhões de toneladas e de 0,9 milhão de toneladas de óleo de soja ao longo do próximo ano. Desta forma, as exportações do complexo soja também devem apresentar novo recorde de US$ 52 bilhões. 

:: Insegurança no mercado do biodiesel 

Pela primeira vez, desde 2008, não se projeta um aumento do esmagamento em linha com a capacidade e a necessidade de produção de biodiesel no Brasil. Isso decorre, em especial, da insegurança causada pelas sucessivas intervenções no teor da mistura ao longo de 2021 e da indefinição dos teores futuros. 

Além disso, também trazem preocupações: i) a mudança do sistema de comercialização de leilões para a venda direta com metas obrigatórias de comercialização; e ii) o acúmulo de créditos de ICMS decorrente da venda de biodiesel com diferimento para as distribuidoras. Entretanto, se a mistura de biodiesel for cumprida conforme prevê a legislação (Resolução CNPE nº 16/2018), ou seja, B13 em janeiro e fevereiro e B14 de março a dezembro de 2022, o esmagamento poderá crescer em até seis milhões de toneladas e chegar a 54 milhões de toneladas em 2022. 

Portanto, a Abiove projeta um quadro de aumento da disponibilidade de soja e uma nova redução percentual da participação da indústria brasileira relativamente à safra. A reversão desse quadro depende, essencialmente, da previsibilidade regulatória quanto ao teor da mistura, bem como da retomada do crescimento do percentual de biodiesel no diesel rodoviário e da solução do acúmulo de créditos de ICMS.