ENTREVISTA – “Razões políticas impedem B7”, afirma Aprosoja
UAGRO conversou com Carlos Fávaro, presidente da Aprosoja-MT, sobre as possibilidades de crescimento da demanda de biodiesel no Brasil
Renê Arruda
Em vista da importância ambiental, econômica e energética do desenvolvimento de combustíveis renováveis para sustentabilidade e crescimento do país, o UAGRO entrevistou Carlos Fávaro, presidente da Aprosoja-MT (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso).
Confira abaixo:
UAGRO – Quais são as perspectivas para ampliação do percentual de mistura de biodiesel no diesel comum?
FÁVARO - Em primeiro lugar é preciso contextualizar a importância do biodiesel no Brasil, um produto que agregou valor em sua principal matéria-prima, a soja. A oportunidade do combustível renovável agregou valor e gerou oportunidades, é um grande programa que precisa avançar.
É fundamental o incremento do aumento da mistura, e este é um trabalho que já está sendo feito em uma comissão no congresso nacional, liderado pelo deputado federal Jerônimo Goergen (PP-RS), buscando o aumento da mistura para atender as plantas instaladas no Brasil. Nós temos hoje uma produção com a qual as plantas, se produzirem com capacidade máxima, superam o índice de mistura autorizado pelo governo, o que está inviabilizando o setor. Há plantas paradas e a produção está abaixo do ideal, resultando certamente em perda de competitividade.
UAGRO – O percentual de mistura do diesel comum hoje é de 5% – ou seja, B5. O percentual ideal de mistura, que geraria demanda suficiente para ocupar toda a cadeia produtiva instalada hoje seria de quanto?
FÁVARO - A mistura deveria imediatamente ser aumentada para B7, e depois aumentada gradativamente para B10 e B15. Isso trará competitividade, e nós teremos no Brasil um combustível menos poluente e mais ecológico, e que gerará empregos em todos os setores.
UAGRO – Qual seria o prazo ideal para chegarmos ao B15?
FÁVARO - Cinco anos é bastante razoável para chegarmos gradativamente à mistura B15. Falo como produtor rural de soja e como presidente de associação - a indústria pode ter outro cronograma e eu não quero interferir.
UAGRO – O que impede que o B7 seja adotado imediatamente? Razões politicas ou técnicas?
FÁVARO - São razões completamente políticas. O governo tem uma politica de controle dos preços de combustíveis que esta gerando problema de caixa para a Petrobras e, consequentemente, para todas as cadeias, como é o caso do etanol. Se o governo permitisse que o mercado se autorregulasse no tocante a preços de combustíveis, e permitisse um incremento de biodiesel no diesel, certamente iríamos avançar muito na produção dando estabilidade ao mercado.
UAGRO – Há alguma razão técnica? Os motores estão preparados para qual percentual de mistura?
FÁVARO – Os motores estão preparados para até B20.
UAGRO – Há especialistas e autoridades, especialmente internacionais, que indicam como problemática a produção de biocombustíveis por causarem competição com alimentos. O Sr. acredita que é este o caso? Que o uso da soja para biodiesel ameaça de alguma maneira o uso da soja como fonte de alimento?
FÁVARO - Isso é mito, propagado por pessoas e entidades que tem interesses que vão contra o desenvolvimento do Brasil. O que se usa para fazer biodiesel é o óleo, que concentra 18% da soja. O farelo, que seria os 82% da soja, não é usado para biodiesel e é usado no consumo humano, seja para consumo direto ou na cadeia das carnes. O óleo vegetal de soja usado como produto comestível tem grande excesso na cadeia, e temos óleos mais baratos à disposição no mundo como o caso do óleo de palma. Resumindo, isto é uma barreira comercial imposta ao mercado sem nenhum fundamento. Esta situação assemelha-se ao etanol à base de milho. É um mito afirmar que biocombustível concorre com a produção de alimento. A algum tempo atrás o tópico era o meio ambiente, agora que conseguimos a escala comercial pra implementar estes produtos começa-se a falar de questões alimentares, mas são questões de mercado.
UAGRO – O Sr. mencionou que há razões políticas para a não adoção do B7, e que este discurso sobre a concorrência entre alimento e biocombustível esconde um jogo de interesses. Estariam estas questões de alguma maneira relacionadas?
FÁVARO - Acredito que estes discursos e impedimentos sejam de interesse de forças que não são a favor do desenvolvimento do setor. São forças exclusas que não vemos, e não aparecem e dizem ”Concorre com o alimento, porque ele vai subir...”, mas mesmo assim o boato se espalha pelo mercado.
UAGRO – Houve um recorde de produção de soja recentemente, e temos boas perspectivas para a próxima safra. Isso influencia de alguma forma cadeia de biodiesel?
FÁVARO - O Brasil caminha para ser o maior produtor mundial de soja. Acredito que até 2017 o país será o maior produtor mundial, e nós temos que procurar verticalizar e oportunizar nossos produtos. Não adianta virarmos o eterno exportador de matéria-prima, temos que verticalizar, seja através da cadeia das carnes ou dos biocombustíveis.
Certamente esta produção vai garantir a estabilidade alimentar dos brasileiros, e os excedentes poderão ser exportados, seja na forma original, seja principalmente com valor agregado, como biodiesel, carnes ou até farelo.
UAGRO – Como o Sr. vê a possibilidade de um mercado de exportação de biocombustíveis, especificamente para biodiesel?
FÁVARO - Quanto mais o mundo fala sobre combustíveis renováveis e combustíveis verdes, mais tem que adicionar combustíveis vegetais. Tenho certeza que o Brasil pode ser vanguarda na exportação destes produtos.
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