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Quarta, 29 de Novembro de 2017 - 12h14

Investimento em Ciência e tecnologia é primordial para avanço do agro brasileiro, dizem especialistas

Representantes da comunidade científica participaram de audiência pública em comissão do Senado Federal

DATAGRO

A agricultura nacional poderá experimentar um forte crescimento nas próximas décadas, desde que sejam feitos os investimentos necessários em Ciência e tecnologia. Essa foi uma das principais conclusões a que chegaram representantes da comunidade científica em audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado Federal, realizada nesta terça-feira (28). O debate, sugerido pelo presidente do colegiado, senador Ivo Cassol (PP-RO), faz parte da avaliação da Política de Pesquisa Agropecuária, escolhida para ser analisada pela comissão em 2017.

O representante da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, considerou o setor de produção de biocombustíveis como um dos mais promissores a serem desenvolvidos. Caso o Brasil utilize metade dos 200 milhões de hectares destinados atualmente a pastagens, em sua maioria degradadas, na avaliação de Gonçalo Amarante, poderá expandir sua produção de etanol a ponto de ter condições de substituir o consumo mundial de gasolina.

“Se em vez de produzirmos etanol de 1ª geração produzirmos etanol de 2ª geração com cana-de-açúcar, uma conta simples mostra que se dedicarmos a metade desta área de pastagem para esta produção, conseguiremos substituir o consumo global de gasolina”, disse o representante da SBPC, informa a “Agência Senado”. 

Gonçalo Amarante citou a mecanização do cultivo de cana-de-açúcar como uma área que deverá demandar importantes desenvolvimentos tecnológicos nos próximos anos. Segundo ele, devido ao fato de a mecanização desta lavoura não ter sido adaptada às nossas condições, a produtividade da cana-de-açúcar caiu mais de 10% após o abandono das técnicas tradicionais de cultivo. O desenvolvimento da produção de óleo da palmeira macaúba, da geração de eletricidade a partir de etanol e de biomassa foram outros nichos do agronegócio que na opinião de Gonçalo Amarante devem receber prioridade.

No mesmo sentido, Elibio Leopoldo Rech Filho, diretor da Academia Brasileira de Ciências (ABC), destacou o potencial de desenvolvimento da produção agrícola brasileira em áreas de pastagens degradadas, ocupadas por agricultores das classes de renda D e E. De acordo com o pesquisador, os agricultores das classes D e E, ocupam mais de 109 milhões de hectares em 3,6 milhões de estabelecimentos, mas são responsáveis apenas por 7,6% do valor bruto da produção. Já os agricultores das classes A, B e C, que utilizam 190 milhões de hectares, obtém 92,4% do valor da produção nacional. Essa situação tornaria possível a elevação da produção a partir de investimentos adequados nas áreas de menor renda do País.

Citando os enormes ganhos de produtividade obtidos na cultura da soja a partir da década de 1990, devido em parte ao trabalho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Elibio Leopoldo Rech Filho, reconheceu também a importância da biodiversidade existente no Brasil para esse resultado. “Essa nossa agricultura desenvolvida existe não somente em função do uso de ciência e tecnologia, mas também por causa da biodiversidade. Ela que fornece e dá o equilíbrio para todos os recursos aquíferos, proteção do solo, estabilidade climática, reciclagem do solo e nutrientes, biomas e ecossistemas”, observou.

Fernando Ribeiro, assessor da presidência da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), salientou a importância do investimento em ciência para a elevação da produtividade do agronegócio brasileiro. Citando estudo da União Europeia, ele observou que o valor total gerado pela pesquisa pública é entre três a oito vezes o valor do investimento. “A taxa de retorno da maior parte dos projetos é entre 20% e 50%. Entre 20% e 75% das inovações não poderiam ter sido desenvolvidas sem a contribuição da pesquisa publica, desenvolvida até sete anos antes”, afirmou Fernando Ribeiro.

O diretor-executivo, no exercício da presidência, do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Márcio de Miranda Santos, alertou para a necessidade de articulação de atores relevantes dentro da cadeia de valor da produção de alimentos e da produção agropecuária como um todo. Segundo ele, atualmente se observa ao longo dos investimentos no setor agrícola um aumento considerável da complexidade dos temas que precisam ser tratados, sendo que o sistema brasileiro de produção agropecuária estaria, em sua avaliação, desarticulado.


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