Assessoria

DATAGRO

Melhoramento genético da cana garante futuro do setor

quarta-feira, 24 de julho de 2013 - 12h20

*Luiz Felipe Pires Nastari

A elevada produtividade nos canaviais é essencial para garantir rentabilidade ao setor sucroenergético e atender as crescentes demandas por etanol e açúcar no mundo. Um dos principais fatores agronômicos que tem potencial para impactar positivamente a produtividade é o melhoramento genético da cana de açúcar. O desenvolvimento de variedades adaptadas ao clima, solo, sistema de colheita, e demais fatores reflete diretamente na produtividade agrícola, concentração de açúcares totais recuperáveis e, consequentemente, na quantidade produzida de derivados.

Desde 1975, quando foi iniciada a diversificação do setor sucroenergético na direção do etanol, a produção de cana cresceu 7,4 vezes e a oferta de ATR 9,6 vezes. Parte considerável deste aumento pode ser atribuída ao desenvolvimento de variedades mais apropriadas aos ambientes de produção e ao manejo técnico agronômico adequado.

O melhoramento genético clássico é atualmente o modo mais utilizado para desenvolver variedades, e consiste basicamente em selecionar mudas, testá-las e por fim propagar os indivíduos que manifestarem características que contribuam para produtividade. O método é complexo e relativamente lento, devido à necessidade de acompanhar todo o ciclo de crescimento da cana, podendo resultar num cultivar apto para uso comercial apenas 8 a 10 anos após o cruzamento inicial.

O perfil de cana de açúcar que corresponde diretamente a um incremento em produtividade é aquele com boa capacidade de brotação, gemas viáveis e com alto potencial de perfilhamento, de forma a garantir a maior concentração possível de massa vegetal na área plantada. É preciso considerar também a capacidade de produzir e manter açúcares após vários cortes, bem como o desenvolvimento do sistema radicular da cana, que garante resistência ao stress hídrico.

Como não poderia deixar de ser em uma atividade agrícola, clima e solo são determinantes para a boa produtividade, e compõem o ambiente de produção. A escolha da variedade de cana para um determinado local deve levar em conta o nível de exigência de água e nutrientes da planta, de forma a aproveitar ao máximo o potencial de produção numa área determinada.

Nos canaviais brasileiros em 2011, 22,1% eram compostos pela variedade de cana RB867515, e outros 12,2% pela SP81-3250. A diversidade de variedades é importante para diminuir a possibilidade de proliferação de pragas e doenças dentro dos canaviais, causando prejuízos. O desenvolvimento de uma agricultura com poucos genótipos de cana de açúcar aumenta a sustentabilidade ao ataque de pestes e doenças, enquanto que a diversidade genética contribui para barrar surtos. Portanto, a pesquisa de novas variedades de cana permite não só saltos de produtividade, como também mitiga riscos a sanidade dos canaviais.

Com as crescentes demandas por etanol e açúcar, investimentos em novas técnicas para acelerar o processo de melhoramento genético da cana de açúcar são sinônimos da busca por competitividade e produtividade para o futuro. É o que irá garantir rentabilidade ao setor e contribuir para a diminuição de riscos, além de permitir a expansão das fronteiras agrícolas atuais, sempre com produtividade em alta.

*Luiz Felipe Pires Nastari é economista e pesquisador da DATAGRO.

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