Assessoria

DATAGRO

Benefícios da mecanização ainda não foram colhidos

quarta-feira, 19 de junho de 2013 - 3h25

*Guilherme Nastari

A mecanização do setor sucroenergético, especificamente no estado de São Paulo – o maior produtor de cana de açúcar do país – era de apenas 49,8% na safra 2007/08, quando o Protocolo Agroambiental foi assinado por usinas e representantes do setor. O acordo propõe que sejam encerradas as queimadas de palha de cana, pressupondo substituição da técnica pela colheita mecanizada. Desde então, o uso de tecnologia cresceu e a mecanização na safra 2012/13 foi de 86,2%.

A assinatura do Protocolo que antecipa o prazo legal para a eliminação da queima da cana não era obrigatória, porém a maioria dos produtores está de acordo e há anos tem buscado se adequar às regras. Segundo o documento, os produtores se comprometeram a adiantar de 2021 para 2014 o fim da prática de queima nas áreas mecanizáveis (com menos de 12% de inclinação), e de 2031 para 2017 das áreas dificilmente mecanizáveis (mais de 12% de inclinação).

A data limite para mecanização dos canaviais se aproxima, e com a necessidade de adequação no processo de colheita e plantio os produtores estão tendo que reaprender o manejo da cultura. Algumas das dificuldades encontradas durante este processo de transição entre colheita manual e mecânica estão principalmente relacionadas com solo e a própria cana.

O solo é irregular, e ainda inadequado para a colheita com a máquina. Operar em solos ondulados levanta ao produtor uma questão: cortar rente ao solo e levar junto com a cana um monte de terra ultra-abrasiva que destrói a fábrica, ou cortar um pouco acima e deixar no campo a parte da cana de onde se extrai maior quantidade de açúcar? Além disso, é comum que o peso das colhedoras, transbordos e outras máquinas acabem por compactar o solo e prejudicar o desenvolvimento de futuros canaviais.

Há também dúvidas de produtores em relação à palha, que antes era queimada e agora é um resíduo que traz desafios e oportunidades. Deixada no solo pode ser importante elemento para preservar a umidade do solo, e no longo prazo aumentar o teor de matéria organica. No entanto, é também a hospedeira de pragas muito danosas como a cigarrinha.

As máquinas não separam totalmente a palha da cana, que entra na moagem. A palha que é moída não gera açúcar e nem etanol, o que aumenta os custos. Por este motivo os quilos de ATR por tonelada de cana caíram nos últimos anos. Há quatro ou cinco anos atrás variavam entre 142 e 147 kg de ATR por tonelada. Hoje, caíram para a faixa de 135 a 137 kg por tonelada em média. O rendimento da colhedora também depende do treinamento dos operadores, e que pode ser de pouco produtivas 230 toneladas a 920 toneladas de cana por máquina/ dia.

Um relatório feito pela DATAGRO apontou as principais dificuldades que estão sendo enfrentadas devido às mudanças. O aumento de impurezas vegetais, como palha e massa vegetal que são carregadas até as usinas e não geram sacarose, o aumento de perdas na colheita em relação à colheita manual, o pisoteamento de cana que impõe falhas nos canaviais e provoca a perda de produtividade futura até que o talhão seja reformado, e a compactação do solo, que dificulta a nutrição da cana e seu desenvolvimento, são alguns dos fatores principais.

A solução encontrada pelos produtores para resolver esses problemas de imediato é aumentar a sistematização do talhão para a entrada da colhedora. O investimento que está sendo feito ainda é baixo, já que o processo de mecanização é relativamente recente e os produtores estão aprendendo a lidar com os desafios gradativamente.

Entretanto, não são só as mudanças ocorridas no modo de produção que determinam a perda de competitividade do setor de cana brasileiro. O arrendamento das terras ficou mais caro devido a valorização do milho e da soja.

Por fim, pode-se concluir que a mudança em direção à mecanização trouxe a necessidade de um grande esforço de adaptação e aprendizado, mas no longo prazo o investimento é certamente vantajoso. As soluções para os problemas trazidos com a adaptação serão resolvidos à medida que o setor for se adequando às regras impostas pelo novo modelo de produção.

*Guilherme Nastari é mestre em agroenergia e diretor da DATAGRO

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