Assessoria

DATAGRO

Desafios e Oportunidades para um Setor com Demanda em Crescimento

quinta-feira, 02 de maio de 2013 - 9h37

*Plinio M. Nastari

Os efeitos da crise financeira de 2008 ainda são perceptíveis em um bom pedaço do setor sucroalcooleiro brasileiro, mas os impactos causados por três anos consecutivos (2009 a 2011) de clima anormal começam a ficar superados, pelo menos na região Centro-Sul que deve representar na safra 2013/14 cerca de 92 porcento da moagem de cana do País. A região Norte-Nordeste ainda enfrenta o desafio de superar a grave seca que asola a região, e que tem poupado de forma moderada apenas aqueles produtores que investiram e dispõem de irrigação complementar ou de salvamento.

Na safra 2013/14, a moagem de cana na região Centro-Sul deve se aproximar da capacidade efetiva de moagem, com um índice de ocupação superior a 95 porcento, e que vai depender do aproveitamento de tempo das usinas a ser determinado pelo clima durante a safra. Chama atenção a queda assentuada no ritmo de expansão da capacidade de moagem, com poucos novos projetos e expansão de usinas já existentes entrando em operação em 2013,  ao mesmo tempo em que existe a perspectiva de que outras usinas se somem à lista das 41 que encerraram atividades desde 2008. Portanto, a capacidade efetiva de moagem ficará estagnada ou apresentará um crescimento modesto. O prazo de maturação de novos investimentos em moagem é de 2 a 3 anos no mínimo, o que significa que mesmo havendo potencial de crescimento da produção agrícola, a expansão da produção de produtos finais estará, neste horizonte, comprometida pela limitação de capacidade de moagem

A área com maior potencial de redução de custos ao alcance da indústria é o aumento da produtividade agrícola, e neste aspecto as perspectivas são alvissareiras. O atual estágio tecnológico já permite a geração de 7 mil litros de etanol por hectare (na forma de etanol ou açúcar), e em pouco tempo, possivelmente até o final desta década, poderá ser possível atingir produtividades agroindustriais próximas a 12 mil litros por hectare. Segundo o diretor executivo do CTC, Gustavo Leite, espera-se chegar a entre 30 e 35 mil litros por hectare até 2035. São números impressionantes considerando que o etanol de milho garante uma produtividade média atualmente de 3,2 mil litros por hectare, e o seu potencial máximo é de 6,5 mil litros por hectare, além da menor vantagem em termos de balanço energético e redução na emissão de gases do efeito estufa. É importante que não haja perda de oportunidades.

Os desafios permanecem não apenas no aperfeiçoamento das operações agrícolas de plantio e colheita mecanizada, como no cumprimento de normas legais. A Lei da Balança, que limitou em 75 toneladas o peso bruto transportado (cana mais tara) por comboio, deve aumentar os custos de transporte da matéria prima. A Lei do Caminhoneiro, que deve o efeito prático de reduzir entre 25 e 30% a frota rodante do País exatamente no momento em que cresce a oferta de açúcar e etanol e principalmente de grãos, deve elevar, junto com o aumento do preço do diesel, o frete dos produtos finais.

Ao mesmo tempo em que as demandas por açucar e etanol continuam em expansão no mundo, no curto prazo a indústria enfrenta o terceiro ano consecutivo de superavit no mercado mundial. A pergunta é por quanto tempo mais vai se manter esse cenário? O mercado brasileiro exige uma produção cada vez maior de etanol para atender o seu crescente mercado interno. As exportações de etanol retomam o crescimento. Ao mesmo tempo, existe um real potencial de expansão da produção de açucar na India, Europa, Tailandia e Australia.

Este cenário complexo deverá afetar profundamente a maneira que o setor sucroenergético irá operar a partir do próximo ano. Especialistas renomados debaterão estas questões essenciais no 7th ISO DATAGRO New York Sugar & Ethanol Conference, que acontece no dia 15 de maio de 2013, e cujo tema é “Sugar surplus weighing on the market?” (www.isodatagroconferences.com.br).

 

*Plinio M. Nastari é mestre e doutor em economia agrícola e presidente da DATAGRO.

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